8 de outubro de 2010

L5R - Gempukku (Parte 1)

Andei pensando sobre a resenha que fiz do livro da 4ª edição, e realmente alguns detalhes podem passar despercebido a quem não conheça tanto assim o mundo de Rokugan, e de repente, muita informação pareça sem sentido ou ineficaz diante da ausência de conhecimento sobre o cenário. Em grande parte, a culpa é minha, já que parti do infeliz princípio que todos conhecem L5R tanto quanto D&D.

Sim, há várias diferenças entre os dois, e gostaria de discorrer a respeito delas aqui. Sim, este post falará um pouco de como o RPG surgiu, sobre o card game, e sobre a história básica do cenário. Aquele papo sobre os clãs que alguns já devem estar carecas de saber a respeito (o que não necessariamente faz de você um monge, mas... Bom, enfim...). Ou seja, se você já ouviu isso antes, nem precisa clicar para ler o post inteiro.


Bom, historicamente, não é novidade para muitos que o RPG de L5R na verdade é um sub-produto da franquia mór da AEG, o card game de L5R. Salvo engano, ele teve seu início em 1992. Oferecia um cenário fortemente influenciado no Japão Feudal, ao que me consta, uma baita novidade entre os cards jogáveis da época, mas as novidades não paravam por aí. Creio que o que tenha feito bastante sucesso foi o fato dos jogadores poderem influenciar diretamente no andamento da história do mundo do card, o Império de Rokugan. Através dos resultados dos campeonatos do card disputas eram decididas, guerras eram travadas e muitas intrigas disseminadas.

Mesa do card game de L5R. Se você
não entender nada, significa que é
uma pessoa normal.
O RPG se seguiu, trazendo novos meios dos jogadores se relacionarem com a história e personagens marcantes de L5R. Mas afinal, o que Rokugan tem de tão especial?

Falando em termos de história de cenário, o "planeta" de Rokugan, assim como todo o cosmo no qual ele se instala, surgiu quando a (não-)entidade conhecida como O Nada (The Nothing) percebeu que estava só. Ele teve Medo de ficar eternamente só, e isso gerou Desejo de que Algo houvesse. Quando viu que Algo surgiu, ele sentiu Arrependimento pelo erro que cometera, mas era tarde. Essas três palavras (Medo, Desejo e Arrependimento) serão consideradas os três pecados capitais de Rokugan. E trechos filosóficos e metafísicos à Confúcio também são coisas rotineiras na cosmologia de Rokugan.

Contudo, o Algo não tinha forma, embora desejasse tê-la. Da matéria amorfa, porém, surgiram Amaterasu, a Lady Sol e Onotangu, o Lorde Lua (textos apócrifos relacionam este fato com a vontade dos Dez Deuses Que Não Devem Ser Pronunciados, mas esta tese parece ter sido descreditada). Amaterasu e Onotangu caminharam por todo o mundo desforme, dando nomes a todas as coisas, e as coisas assumiam as formas dos nomes que lhes davam. Um parêntese rápido aqui: Muitos estudiosos acreditam que a escrita japonesa seja derivada de desenhos dos objetos ou situações que elas representam. Assim, o ideograma de "casa" (ie, em japonês) é derivado de uma forma rudimentar do desenho de uma casa. Acho legal que essa história inverta os fatos, fazendo com que as coisas assumam as formas semelhante aos kanjis que as representem. De volta a Amaterasu e Onotangu, os dois cruzaram todo o mundo em um dia, culminando num abraço apaixonado dos dois, com o cér marcando o primeiro eclipse do mundo. Deste encontro, Amaterasu gerou nove filhos e filhas. Os nove Kamis.

Onotangu observava seus filhos crescerem em poder, majestade e beleza e ficou preocupado. Eles combinavam as habilidades dos dois seres mais poderosos do cosmo de diversas maneiras, e poderiam usurpar seu lugar se quisessem. Essa paranóia do Lorde Lua, porém, está intimamente ligada com algo que ele escondeu de Amaterasu. Uma porção do Nada se recusava a tomar nome ou forma, e isso o intrigou. Ele escondeu essa porção, que para muitos se tornou uma amante, uma conspiradora e aos poucos, enlouqueceu o poderoso Lorde. Ironicamente, a Lua possui um lado escuro. O Sol não. Esta personagem aparecerá mais à frente. Acreditem.

Tudo ia bem, até que Onotangu, totalmente possuído por sua loucura, devorou seus filhos. Amaterasu, muito mais fraca fisicamente que seu marido, quase nada podia fazer, mas fez. Ela fingiu-se feliz pela decisão do amado, mas a cada filho devorado, ela o servia com um copo de sakê, levemente envenenado e vertia lágrimas que choviam até a Terra. Quando faltava apenas Hantei para ser devorado, porém, Onotangu o confundiu com uma pedra, a devorou e dormiu um sono pesado. Nesse tempo, Amaterasu o levou para longe de seu pai, o ensinou a usar a espada, e passou a ele o que podia para se tornar mais poderoso que seu pai. Quando Onotangu acordou, Hantei era um homem feito diante dele. Furioso, ele partiu para cima de seu filho, que lhe rasgou o ventre com a espada. Seus irmãos e irmãs então caíram para a Terra Abaixo, com o último a cair sendo Fu Leng. Que fora agarrado pelo calcanhar pelo seu vingativo pai. Hantei então decepou o braço de Onotangu. Enquanto caía, porém, Fu Leng agarrou Hantei, que caiu junto. Tá, isso parece bastante com a mitologia grega. Mas a xintoísta também não foge muito disso.

Não se sabe quanto tempo os Kamis ficaram "caindo", mas sabe-se que quando chegaram, eles encontraram a estranha raça chamada "humanos". Eles haviam surgido a partir das lágrimas de Lady Sol e do sangue de Lorde Lua, ao ser cortado por Hantei. Vendo potencial nos humanos, os Sete Kamis que se encontraram, sem saber o paradeiro dos outros dois, fizeram um acordo com os humanos. Eles os ensinariam a viver em civilização, mas porém, exigiam o respeito e veneração por parte deles. Assim nascia o Império de Rokugan.

Os séculos passavam, o Império crescia e enquanto alguns Kamis encontravam seu lugar no mundo mais facilmente que outros, a necessidade de um líder sobre eles parecia cada vez mais urgente. Após várias discussões sobre como escolheriam este líder, porém, eles organizaram um torneio entre eles. E qualquer um podia desafiar o outro, e o vencedor de todos seria o Imperador. Togashi, o mais misterioso e distante dos irmãos não quis participar, porém, dizendo que já sabia quem venceria. O primeiro a ser derrotado, surpreendentemente, foi Hida, de longe o mais forte e poderoso em físico dos Kamis, superado pela rapidez de Shinjo. Ela, porém, não foi páreo para as artimanhas e distrações de Bayushi, vencido pelo seu gêmeo, Shiba, que era inteligente demais para ceder a elas. Por sua vez, Shiba se precipitou diante da placidez de Doji, e foi derrotado. Essa técnica, porém, foi inútil diante da fúria de Akodo. O último adversário de Akodo, porém, seria Hantei. E o bravio Kami estava quase a ponto de matar seu irmão mais velho, quando o brilho do Sol refletido em sua espada o fez lembrar de sua mãe, e do amor que ela tinha por todos eles. Akodo não conseguiu desferir seu último golpe, e se rendeu a Hantei, que foi coroado com o Primeiro Imperador de Rokugan.

...

Creia-me, a história de Rokugan é muito extensa, e ela de maneira alguma termina aqui. Na verdade, apenas começa aqui. Havendo procura, falarei do resto da História do Império Esmeralda, e de cada um Clãs com maior atenção.

Então, sobre o que falaremos no próximo post? Um Clã em especial? A história continua? Sobre as Sete Fortunas? A Lei Imperial? Cortes de Inverno?... Culinária Rokugani? Ou de repente "Por acaso, o fato das cores do então Clã Ki-Rin serem dourado, roxo e branco os tornariam alvos mais fáceis enquanto andavam pelo deserto?"

6 comentários :

  1. Bem interessante...
    Pra mim que não conheço o sistema e nem o cenário ajudou bastante a entender este vasto universo que é Rokugan.
    Acho que o próximo post poderia ser a continuação da história e depois os clã.
    Parabéns pela iniciativa Hayashi, com certeza ajudara a desceminar este RPG encantador.

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  2. Primeiro eu queria parabenizar pelo resumo da historia, assim fica mais facil para outras pessoas entenderem como é fascinante o mundo de Rokugan. É uma ótima inciativa.

    É um mundo onde voce convive com o sobrenatural( como se isso não existisse em outros rpgs) mas também convive com a honra e a lealdade. De uma maneira diferente, você muitas vezes não é uma criatura mistica( tirando Satsu) que pode contar com seu poderoso sangue. Você é um ser humano normal. Todo o seu sucesso depende de você ( e de uma ajudinha dos kamis) mas o seu fracasso também vai depender de você. Suas vitudes e seus defeitos vão influenciar sua vida.

    Eu como disse antes sou tendenciosa e parcial, quando se trata de Five, tenho o meu cla do coração. E gostaria muito de ve lo sendo retratado aqui. Mas vamos por partes, para que muita gente possa entender a historia tem que se pegar do começo.

    Mostrar o que aconteceu com o kamis depois de caidos e como surgiram os clans, e ai sim apresentar mais profundamente cada um.

    Bom essa seria a minha humilde sugestão.

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  3. Eu achei maravilhoso esse resumo. Eu admiro muito L5R mas nunca tive a oportunidade de jogar, então não conheço a história tão profundamente.

    Eu gostaria de ver a continuação da história.

    Valeu Hayashi!

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  4. A saber, mudei o nome do post. Talvez "Gempukku" (a cerimônia de "formatura" de um samurai, e tb nome de um dos programas usado para jogar o card online) se torne uma seção frequente aqui no blog.

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  5. Bom, não sabia direito onde falar a respeito, então resolvi comentar aqui mesmo.

    Andei trabalhando numa versão traduzida da imensa ficha de personagem da nova edição. O resultado ficou numa resolução muito baixa ao meu ver, com um gráfico meio "podrão". Mesmo assim, acho que vale a pena uma conferida pela idéia do design da ficha.

    Ao final do trabalho, a ficha ficou muito maior do q eu queria e com uma qualidade muito inferior à pretendida.

    Não q fosse muito original a idéia de um "diário de campanha", mas adorei como ele pode ser facilmente anexado à ficha de personagem. Assim, temos uma frente comum, e versos para: Equipamentos, Técnicas de Bushi, Técnicas de Shugenja e o diário de campanha.

    Pra variar, temos um design clean e muito eficiente. Acho legal q, dado o clima de intriga de certas aventuras, há a opção de pura e simplesmente desmarmar um NPC como aliado e remarcá-lo como inimigo. A um "X" de distância.

    Confiram em: http://www.4shared.com/document/EN1zdIiB/Ficha_4e.html

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  6. Acho Rokugan um cenário fascinante... obrigada por disponibilizar a história deste mundo aqui para que nós possamos conhecê-lo melhor, Hayashi!

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