30 de novembro de 2010

L5R - Gempukku (Parte 7): O Clã Caranguejo



Bom, primeiramente, minhas desculpas por andar tão longe assim do blog. Infelizmente, os problemas acadêmicos e logísticos (a Oi me deixou sem internet desde sexta-feira) têm me atazanado bastante e quase não me sobra tempo ou disposição para vir aqui e responder os comentários e sugestões. Enfim, chega de blá-blá-blá e vamos àquilo que todos estavam esperando: finalmente o Clã mais “heavy metal” de Rokugan: os Filhos de Hida, o poderoso Caranguejo!


O Clã Caranguejo
“O Caranguejo não defende a Muralha. O Caranguejo É a Muralha!”

Mon do Clã Caranguejo
O Clã Caranguejo foi fundado no Amanhecer do Império pelo Kami Hida, o fisicamente maior e mais vigoroso de todos os seus irmãos e irmãs. Conhecido pelo seu senso de humor forte e risada estrondosa, Hida também era notório pelo seu físico descomunal, e cria-se ser o ser vivo mais fisicamente poderoso de Rokugan. Contudo, Hida nunca foi muito adepto dos traquejos sociais de sua irmã Doji, e assim, pouco escondia seu descontentamento com alguma coisa ou alguém. Isso ficou evidente após o Torneio dos Kamis. Apesar de ser o mais forte e belicoso de seus irmãos, Hida foi o primeiro a ser vencido do torneio, vítima da assustadora velocidade e precisão dos golpes de Shinjo.

Conta a história que Hida havia saído furioso da disputa, e indignado, se sentou à beira de uma estrada, tentando digerir a própria fraqueza. Foi então que Shinsei apareceu, e aconselhando-o, fez com que enxergasse força em sua própria fraqueza, porque, ao contrário de seus irmãos, Hida a admitia. Sabendo de seus limites, Hida jamais entraria numa disputa que não pudesse vencer, e se entrasse, lutaria nos seus termos, e não nos de seu inimigo.

Kami Hida. Por mais que goste dele, ou do Steve Argyle,
esta armadura não está à altura.
Procurando obsessivamente por todo tipo de “força”, Hida então reuniu para si os guerreiros que considerou os mais poderosos (entre eles o trio de amigos Kuni, Hiruma e Kaiu), e foi com eles construir seu legado nas terras ao sul do Império, uma região rica em minérios, mas muito rochosa e acidentada. A própria idéia de sobreviver lá já seria uma prova de força de físico e de vontade. Assim, mesmo que uma pessoa nunca se encontre com os horrores das Terras Sombrias, crescer nas terras do Caranguejo de algum modo já o acostuma a situações difíceis. Mesmo assim, através de trabalho duro e persistência inquestionáveis, o Caranguejo de maneira alguma se consideraria um clã pobre. Muito pelo contrário, aliás.

Duas das seis Famílias integrantes do clã são mais responsáveis por isso. Os Yasuki servem ao clã prioritariamente como cortesãos e diplomatas, recebendo seus visitantes e cuidando de praticamente toda relação externa do Caranguejo com os outros clãs. Sua preocupação primordial é conseguirem angariar os recursos de que o Caranguejo necessita para manter seu mais sagrado dever: a proteção do Império contra os demônios das Terras Sombrias. Por comércio, alianças políticas e arranjos dos mais diversos, os Yasuki visam obter jade, comida e as armas de que o Caranguejo possa vir a precisar. Mais intensamente os dois primeiros, já que os artesãos e ferreiros Kaiu são os melhores ferreiros do Império, competindo talvez apenas com os ferreiros Tsi (Clã Menor Oríole) ou talvez alguns Artistas Doji. Os Caranguejos sabem mais do que ninguém como provisão desses recursos é importante numa situação de enfrentamento contínuo, e assim, o trabalho dos Yasuki é muito valorizado para eles (mesmo que todas essas intrincadas redes políticas pareçam ininteligíveis para qualquer guerreiro). Porém, o costume mercantil da Família lhe rende a constante fama de serem biscates, pouco melhores do que “camelôs” dispostos a tentarem comprar ou vender tudo em troca de favores, alheios à verdadeira arte da política. Felizmente, ignorar os que os outros pensam deles mesmos é uma característica compartilhada por quase todo samurai do Caranguejo. Por vezes, a Família Yasuki se vê indecisa entre sua ancestralidade parcial com o Clã Garça, e em insulares momentos da história rokugani são encontrados conflitos políticos e militares entre os dois clãs pela posse dos Yasuki.

Os Kaiu são a segunda família com maiores relações externas dentro do Clã Caranguejo. Seguindo o legado de seu fundador, os Kaiu são primeiramente engenheiros, mas que se dedicam a vários campos específicos dentro desta vasta área de conhecimento e aplicação. Metalúrgicos, ferreiros, mecânicos, marceneiros, armeiros, arquitetos e até mesmo escultores podem ser encontrados dentro do nicho principal desta Família. Todos eles, porém, se dedicam ao mesmo propósito: criar e construir os mais mortais dispositivos para suprir os guerreiros Hida e Hiruma com as melhores armas, flechas, arcos, armaduras e armas de cerco que puderem conceber. Supridos pelas quase infindáveis minas de ferro do clã, os Kaiu têm matéria prima de sobra e de ótima qualidade para trabalharem em suas obras. Mas, por mais que o aço Kaiu seja forte, resistente, afiado ou impenetrável, o maior orgulho da Família está na invenção que leva o seu nome. A Grande Muralha, ou Muralha Kaiu ou ainda a Muralha do Carpinteiro margeia o Rio do Último Esforço e marcam os limites do Império de Rokugan para com a mortal e infernal região das Terras Sombrias.

Uma bushi do Caranguejo, do outro lado da Muralha.
Obra sabiamente entitulada "Quem é o próximo?"
A Muralha é visível mesmo a quilômetros de distância, possui vários metros de altura, e se estende quase até onde os olhos podem alcançar. Ao longo de sua extensão, várias torres vigiam o horizonte por qualquer sinal de invasão. Um complexo e eficiente sistema de comunicação entre as torres permite a transferência de informações vitais, como pedidos de auxílio, reforços e de invasão se aproximando. Em sua base, quartéis do tamanho de cidades suprem os soldados da Muralha com todo tipo de ajuda que precisarem, como comida, repouso, auxílio espiritual dos shugenjas Kuni ou até mesmo o trivial divertimento, longe do horroroso campo de batalha lá em cima. Penetrar a Muralha pelo lado das Terras Sombrias é algo virtualmente impossível. Labirintos projetados e repletos das mais sádicas armadilhas Kaiu esperam quem tentar esta idéia, fora os inúmeros baluartes repletos de arqueiros ao longo de sua fachada. Várias armas imensas de engenho Kaiu também ficam na retaguarda da Muralha, podendo eliminar dezenas e talvez centenas de demônios a cada disparo.

Inevitavelmente, porém, alguma seção da Muralha é destruída por algum demônio imenso. Obviamente que os Kaiu lamentam quando isso acontece, mas, por outro lado, é uma chance única de reconstruí-la ainda mais impenetrável como antes. O estudo metódico é outra especialidade Kaiu também, afinal.

Hida Yaheiko. Se você está vendo isto em primeira pessoa,
vai ser uma das últimas coisas que verá.

Os Hida são os líderes incontestáveis do Clã, herdeiros orgulhosos de todos os grandes legados de seu Kami: o vigor físico, o senso de humor férreo, a sinceridade pétrea e… O sakê. Sim, algo desconhecido para muitos é que foi o próprio Kami Hida quem ensinou os humanos a criarem a bebida mais popular de Rokugan. Seja para celebrar bons momentos, esquecer momentos ruins ou para afastar o frio das noites de inverno, todo rokugani (salvo talvez um ou outro shugenja ou monge mais ascético) bebe sakê. E, não são raros os que citam Ikoma: “Louvo Hida toda noite e o amaldiçôo toda manhã por ter inventado o sakê!”.

O carisma e autoridade dos Hida são tão grandes que muitos indivíduos de outros clãs atribuem o esteriótipo da Família a todo o Clã. Tipicamente exaltados, seja em paixões ou em ódios, a figura poética dos Hida como montanhas parece se restringir apenas ao seu aspecto militar. Donos de um senso de humor característico, os Hida fazem piadas por vezes interpretadas como excessivamente “negras” ou rudeza desnecessária. Uma característica que parece servi-los bem, por mais estranho que possa parecer, no enfrentamento contra as Terras Sombrias. A Família Hida é quem mais possui guerreiros na Muralha, seja como comandantes ou como soldados da quase onipresente infantaria pesada do clã, e assim, são eles quem mais entram em contato com “batalhas impossíveis de serem vencidas”. É normalmente nessas situações que um Hida fará alguma ironia com o inimigo ou a sua situação diante dele (“Vamos, homens! Ou vocês acham que vão viver para sempre?!”).

Os Malditos do Caranguejo se preparam para sua última batalha,
ao lado de Kyofu, encarnado no corpo de Hida Kuroda.
O estilo de combate Hida tira o máximo de proveito possível de seu vigor físico. A própria alegoria do animal que representa o clã talvez seja oriunda do costume dos guerreiros Hida de nunca tirarem sua armadura pesada de placas, agüentado dezenas de quilos de aço sobre eles como se fossem a mais sutil renda de seda. Mesmo sem elas, o corpo de todo bushi Hida é castigado continuamente nos treinamentos, tornando-o extremamente resistente a ferimentos em batalha. É de se esperar que um bushi Hida experiente consiga resistir facilmente a castigos que incapacitariam ou matariam um ser humano “comum”. Daí várias expressões relacionarem os Hida (e daí a todo o Caranguejo) às montanhas e sua inabalável firmeza. Novamente, outra característica que serve bem ao Caranguejo em seu mais habitual inimigo.

Outro costume evidente no estilo de combate Hida é a predileção por armas pesadas, como o ono (machado de batalha), dai tsuchi (martelo de guerra), tetsubo (uma espécie de clava grande, de madeira ou metal, repleto de fincos de metal). O uso de espadas como a katana e a wakizashi também faz parte do currículo dos bushis Hida, mas essas armas são mais costumeiras durante os enfrentamentos contra as Terras Sombrias, tanto por serem mais eficientes em fender as carapaças dos monstros, quanto por poupar suas armas ancestrais da vergonha de estarem sujas do sangue imundo (não raras vezes corrosivo) dos demônios.

Batedores Hiruma nas Terras Sombrias. Sim, a qualidade poderia
estar melhor.
Os Hiruma são herdeiros do talvez melhor batedor e explorador da aurora do Império. Normalmente sombrios, distantes, sorumbáticos e quietos, os Hiruma são o reflexo simétrico dos esbravejantes e corpulentos Hida. Durante a batalha que praticamente definiu o Caranguejo como o é, a Batalha da Onda Retumbante, as forças do Lorde Oni Maw conquistavam irrefreavelmente as terras do Caranguejo, e a província Hiruma entre elas. Por toda a história do Império, os Hiruma foram a única Família que perderam totalmente suas terras e sua cidade principal para as Terras Sombrias por séculos. Isso rende a todos eles um ódio nato às monstruosidades, mas, diferente do ódio dos Hida, que os impele vorazmente ao calor vulcânico da batalha, os Hiruma a temperam com sádica placidez. Nesta mesma batalha, as forças Hiruma foram cruciais ao se infiltrarem por túneis que atravessavam todo o campo de batalha e atacarem as forças demoníacas por trás. O exército de Maw foi então totalmente obliterado pela retaguarda por Hiruma vingativos e literalmente espremido contra uma Muralha onde guerreiros Hida e shugenjas Kuni esperavam com aço e jade sedentos. Se tornando uma espécie de “Família sem lar”, os Hiruma foram bem-vindos a estudarem junto dos batedores Shinjo, assimilando muito de seus conhecimentos aos formatos de infantaria da Família. O que sem dúvida ajudou, mas de maneira alguma pareceu apaziguar o ódio mortal de todo Hiruma com os monstros que destruíram todo o seu legado.

O estilo de luta Hiruma também é praticamente diametral ao Hida. Os Hiruma preferem armaduras leves, ou quase nenhuma, para facilitar sua mobilidade, agilidade motora e precisão. Eles são exploradores, espiões, não guerreiros, afinal. Tipicamente, os Hiruma de um exército do Caranguejo, quando não são responsáveis pela exploração de terreno, ficam encarregados de artilharia, dever que eles dividem com a Família Toritaka.

Kuni Daigo. E há quem ache que todo shugenja tem
cara de manso.
Os Kuni, a Família de shugenjas do clã, além de obviamente se especializar nos mais diversos feitiços de proteção contra as forças das Terras Sombrias e invocação de jade sagrada, também acolhem para si o dever de estudarem incansavelmente as criaturas das Terras Sombrias, suas forças, as relações da Mácula e, obviamente, maneiras de destruir seus inimigos mortais. De certa maneira, os Kuni são a Família mais introspectiva do Clã Caranguejo, ocultando com boa razão as masmorras em que torturam, dissecam e estudam as mais horrendas monstruosidades. Temendo que seus visitantes mais delicados saiam com uma má reputação do clã ou do sagrado dever da Família, todo samurai do Caranguejo já colabora previamente para que os Kuni sejam perturbados o mínimo possível por assuntos externos. Se os Kuni viajam para outros clãs, quase sempre é no peculiar ofício de um Caçador de Bruxas (“Witch Hunter”, no original). Eles são samurais (tanto bushis quanto shugenjas) que se especializam no combate de ameaças das Terras Sombrias mais ardilosas para conseguirem ultrapassar a Muralha. Sejam eles onis metamorfos, goblinóides que tenham se esgueirado ou até mesmo oradores de sangue (ou maho-tsukai, praticantes da prática corruptora da magia de sangue, ou maho). Com as caras pintadas de maneira a imitar os monstros que enfrentam, os Caçadores de Bruxas Kuni são recebidos com reações opostas pelos magistrados das cidades que visitam. Eles ficam felizes por saberem que se um deles passar pela cidade, ela certamente será livre de qualquer um desses males que possa vir a ter. Porém, o estrago que eles podem causar ou as repercussões políticas de suas descobertas também podem ser incrivelmente preocupantes.

Hida Kisada ressurreto, demonstrando na prática o motivo
de ser chamado de "Grande Urso".
Por fim, a mais recente aquisição à formação do Caranguejo é a Família Toritaka. Outrora conhecidos como o Clã Menor Falcão, os Toritaka habitavam e vigiavam a região do Vale dos Espíritos (Torikage Toshi, em rokugani ;)), como o nome sugere, sabidamente assombrada pelos mais diversos tipos de espíritos desencarnados e assombrações, algumas das quais, pouco amistosas. Após sérias dificuldades logísticas e (salvo engano) após um ataque mais severo das Terras Sombrias, os dois clãs entraram num acordo de absorção. Os Toritaka continuam com suas terras e seu nome de Família, mas agora não são mais o Clã Falcão, e sim uma Família do Clã Caranguejo. Eles normalmente usam sua incomum ligação com o mundo espiritual no combate eterno do Caranguejo, ou como arqueiros e mensageiros corredores na Muralha, divisão que ficou conhecida como Asa do Falcão.

O Caranguejo é a meu ver o clã de Rokugan com maior “sinergia” entre as Famílias. Por mais que todo clã do Império a possua, o Caranguejo é uma infalível máquina no combate às Terras Sombrias. Os Hiruma ou os Toritaka trazem uma informação adiantada. Os Kuni e os Kaiu, com magia e ciência respectivamente, estudam e planejam sobre ela. Os Yasuki conseguem recursos para que a decisão seja possível e cabe aos Hida decidirem como ela será implementada e a concretizarem. Raramente esses deveres são interferidos, trocados ou até mesmo questionados.

Obviamente que todo este direcionamento e obsessão pelas Terras Sombrias, por mais justificado que sejam, não são tão compreendidos assim pelos outros clãs. Raros são os samurais da Garça, Escorpião ou até mesmo da Fênix que se deteriam antes de acusar os Caranguejos de brutos, incultos, ignorantes, bárbaros, beberrões, trogloditas e coisas ainda piores. Mas o Caranguejo faz pouco esforço de mudar esta impressão. Seu dever prioritário é cuidar para que os mesmos detratores estejam seguros e salvos em suas casas, por mais injusto que seja. Sim, o Caranguejo poderia se defender, dizendo que seu supra-sagrado dever o impede de ter a mesma fineza de outros samurais, mas isso geraria mais picuinhas que o próprio clã se esforça para não envolver. O jogo da corte é um em que o Caranguejo tem pouco a ganhar, e que normalmente não lhe interessa muito.

Hida Daizu comandando uma defesa na Muralha. Sim, há outros
rostos conhecidos nessa imagem.
Para um clã tão pragmático, o Caranguejo se viu recentemente assolado por vários momentos ímpares por toda a sua História. Desde a improvável aliança com as Terras Sombrias, feita pelo então Campeão do Clã, atual Fortuna Menor da Persistência, Hida Kisada, o Grande Urso, (finalmente acabaram as vírgulas) para invadir a capital durante o Segundo Dia do Trovão; ascensão de Hida Yakamo (primogênito de Kisada) a Lorde Sol, durante a Guerra Contra a Escuridão; tomada de uma das torres da Muralha por forças das Terras Sombrias que resultou na morte em combate do então campeão Hida Kuroda (sobrinho de Yakamo, filho de sua irmã, Hida O-Ushi); uma estranhíssima trégua de um ano com os Perdidos, samurais maculados servos do Lorde Negro das Terras Sombrias, Daigotsu, selada com o irmão de Kuroda, Hida Kuon. Estranhamente, a trégua foi honrada pelos tidos como desonrados Perdidos; o envio de um diplomata mensageiro do Lorde Negro das Terras Sombrias Daigotsu à Corte Imperial, devidamente escoltado pelo Campeão Hida Kuon e seu avô ressurreto, Hida Kisada; e a mais recente (e super chutada!) invasão das terras do clã pelos abomináveis Destruidores (“Destroyers”, no original). Tá, pode atribuir um tom mais lovecraftiano à história, mas acho desnecessário.

Os combates entre Garça e Caranguejo sempre deixam grandes prejuízos para os dois clãs.
Mas geram ilustrações incríveis como essa!
O Caranguejo também é riquíssimo em personagens cativantes. Como Kisada e seus filhos: Yakamo (prepotente e orgulhoso primogênito do Grande Urso), a altiva O-Ushi (teimosa, persistente e afoita em provar como errado qualquer homem que se julgasse superior a ela. Por ser firmemente contrária à idéia de se casar, e assim inferiorizada por seu marido, Kisada e Yakamo tiveram que organizar um campeonato marcial, no qual a própria O-Ushi competiu. Entre eles, havia o acordo de que quem vencesse, receberia a mão da dama indócil, mas, se O-Ushi vencesse, ela não se casaria com ninguém. Yakamo teve que intervir antes da final, quase embebedando sua irmã, e ainda assim, ela conquistou um empate na final, com seu futuro marido, Shinjo Yasamura. Ainda assim, O-Ushi declarou para Yasamura que ele seria uma “pequena boa esposa” para ela, e exigiu que ele adotasse o seu nome de família, não o contrário. Outra observação sobre O-Ushi. “Ushi” em japonês [e rokugani] quer dizer “vaca”, um apelido de infância, porque ela era teimosa como uma. Em seu gempukku, a então Hida Yoritoko resolve acolhê-lo como seu nome real, adicionando o prefixo de respeito “O-” ao “Ushi”), e por fim o caçula Hida Sukune. Ao contrário de seus irmãos, Sukune era fraco e magro, e por isso desprezado pelo seu pai. Porém, se Sukune era fraco onde seus irmãos eram fortes, ele se fortaleceu onde eles eram fracos. Sukune se tornou um estrategista brilhante a ponto de competir com relativo louvor diante do lendário Akodo Toturi no comando de um exército. Este talento, porém, não o tornava menos desprezado pela sua família. Contemporâneo a todos eles, estava o Caranguejo Negro, Kuni Yori, na época conselheiro de Kisada e um dos pivôs para convencê-lo a se aliar com as Terras Sombrias. Grandes desgraças para o Caranguejo se originaram dali, como o temível Yakamo no Oni, nascido do pacto que o primogênito do Grande Urso fez para selar a aliança.

Totalmente desacreditado como Campeão (inclusive por si próprio), Hida Kuon assumiu o cargo em extremo desespero, diante das mortes muito próximas de sua mãe (O-Ushi morrera num duelo contra Doji Kurohito) e seu irmão (Kuroda morreu defendendo a hoje conhecida como Torre do Medo, sem sucesso). Porém, selou uma incrivelmente benéfica aliança com um clã que fora um rival quase eterno do Caranguejo, a Garça (selado com o próprio Doji Kurohito), trazendo inúmeros benefícios econômicos e agrícolas para o Clã. Se isso foi visto como sinal de “fraqueza” para os críticos de Kuon, ele também iniciou os esforços comuns com o Unicórnio, a fim de emprestar engenheiros Kaiu para a construção da Muralha Khol, a noroeste do Império, para proteger o Unicórnio e o Império de qualquer força estrangeira. Ela não se compara à Muralha Kaiu, mas está de bom tamanho. Em troca, o Caranguejo recebeu esforços e doutrinas de cavalaria por Iuchi Lixue, o que elevou a Legião de Tsuru (a mais famosa unidade de cavalaria do Caranguejo) a níveis inéditos. Essas inovações antes improváveis de ocorrerem no Caranguejo foram reconhecidas como benéficas pelo então endeusado ressurreto Hida Kisada, quando este se encontrou com seu neto. O filho de Kuon, até agora chamado de Ichiro, já manifestou intenção de mudar seu nome para o de seu bisavô em seu gempukku. Quando Ichiro ainda era apenas uma criança, o próprio Kisada ficou impressionado com a firmeza de caráter que o pequeno demonstrava ao ter espancado um garoto maior do Unicórnio por este ter debochado do retorno de seu bisavô. Segundo Ichiro, que estava com um olho roxo mas que se segurava para não chorar, como qualquer criança, seu adversário saiu pior.

Em suma, este é o Clã Caranguejo. Um clã inteiramente devotado ao seu maior dever, com a firmeza digna de uma montanha.

Fala sério que vocês acharam que eu ia fazer um post sobre o Caranguejo e não colocar esta ilustração!
Sintam-se à vontade para ficarem procurando detalhes nessa ilustração. Me divirto muito fazendo isso.
Ilustrações deste post feitas pelos mestres Steve Argyle e Drew Baker.
_____________________

PS: Curiosamente, o crustáceo caranguejo é conhecido por ser uma espécie de purificador de ambiente nos habitats em que se instala. Um Caranguejo na praia é sinal de água pura, e mesmo nos mangues ele é capaz de absorver impurezas e guardá-las em seu organismo. Não imagino que seja o caso de caranguejos comprados em supermercados, mas, quando se “pesca” um, o costume ribeirinho é primeiro deixá-lo em água pura, onde ele soltará as impurezas que absorveu. Semelhantemente, o dever do Clã Caranguejo é impedir que impurezas cheguem ao Império. Ou seja, esta alegoria não é válida apenas porque o caranguejo é um animal “de casca dura”.

16 comentários :

  1. Meu clã predileto, de longe! Gostei bastante do texto, Hayashi. Não conhecia algumas informações mostradas ai. Eu me lembro de uma certa "carta" do clã que li a muitos anos atrás. Acho que era algum tipo de introdução pra alguma série nova do TGC, onde um Caranguejo falava sobre as intempéries as quais estava submetido e sempre comparando com o outro lado "mais frouxo" por assim dizer. Algo como: "Vejo meu irmão ser trespassado pelo braço de um Oni e você, sentado em sua almofada macia, vem me falar de dever". Era um texto muito bacana, sabe a que me refiro?

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  2. DIGO-TE SIM!!!

    Após uma longa espera, temos um pergaminho (muito bem escrito) sobre o clã caranguejo, meu clã preferido e o mais "viking" de toda Rokugan!

    Uma de minhas citações favoritas destes bravos guerreiros que li anos atrás era:
    " Acha que estou triste por causa de minha morte, maldito Oni? Tudo que você conseguiu aqui foi um pouco mais de tempo, porque logo vou voltar em um corpo mais jovem só para matar você e outros da sua corja imunda"

    Muito inspirador.

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  3. Valeu, Odin e Neves.

    Conheço sim. Um dos mais belos textos já escritos para L5R, inclusive. Não gosto muito do clima "Sou Caranguejo e por isso sou foda!" do final, assim como não gosto dessas exaltações desmedidas de qq clã q seja, mas realmente, muito bonito esse texto.

    Estranhamente, não há "autor" nessa carta, mas ela pode ser encontrada logo após o conto de abertura do The Way of the Crab, e no Player's Guida da 2ª edição.

    Segue a obra abaixo:

    "Algo usando o rosto de meu pai e derramando as lágrimas de minha mãe vem rastejando das profundezas, gritando para me juntar a eles. Sinto suas garras contra minha armadura, rasgando pele e metal como se fossem origami. Pego meu tetsubo e ouço sua risada horrenda, e sei que um golpe é tudo que conseguirei antes que ela arranque as entranhas dos meus ossos.

    E você em seu palácio me doutrina sobre coragem.

    A muralha se estende por milhares de milhas com samurais preparados para o cerco. Um mar de goblins está diante de mim, uivando xingamentos inomináveis no ar. Quando começam a cruzar o rio, ouço que a Garça lançou outro ataque contra nossas fronteiras ao norte. Ainda assim, não posso fazer nada além de ficar aqui e garantir que nenhum goblin fuja para aterrorizar os mesmos Garças que roubam nossa terra.

    E você se deita em seu jardim e me conta sobre dever.

    O ácido fedor das Terras Sombrias nos cerca. Um Oni gigantesco agarra um par de bushis e os sacode como se fossem bonecas, esmagando seus ossos em pó. Ouço-os implorarem por ajuda e os ignoro, sabendo que estou condenando-os a um destino pior que a morte. Meu daimyo está dependendo de mim para escapar deste horror, ou mais centenas morrerão como meus companheiros.

    E você se impõe em suas roupas sedosas e me explica o que é honra.

    Vocês são crianças brincando para preencherem suas vidas vazias. Vocês são moleques brigando por seus brinquedos, achando que nada mais importa neste mundo. Vocês são velhas corcundas ao redor do fogo, dizendo a si mesmas que as sombras atrás de vocês não podem feri-las.

    Eu sou o Caranguejo. Eu testemunhei horrores que você mal pode conceber e vi a morte de samurais suficientes para encher cem campos de batalha. Eu vi o que está além das almofadas deste reino de faz de conta, e sou encarregado de garantir que seus sonhos não se transformem em pesadelo. Eu sou o único protetor de sua existência patética.

    Então ria de mim se quiser. Zombe de meu comportamento inculto, começando por minha linguagem rude. Mas não me venha falar de coragem, homenzinho. Não me fale de dever ou honra. Você nem faz idéia do que eles significam.

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  4. Olá, eu conheci o site recentemente (ao fazer uma busca de resenhas sobre a 4e de legend) e gostei muito do conteúdo, virei um visitante freqüente.

    E gostaria de te parabenizar pelo ótimo trabalho (tanto nas matérias de legend que é um dos meus cenários favoritos, quanto naquela matéria sobre changeling, que também entra no meu top 5 de rpg).

    Muito bom o post, sempre que leio seus posts fico pensando: Porque não estou jogando legend AGORA?

    Meu primeiro personagem (em uma camapanha que continuo jogando) foi um Shugenja Kuni, então com toda certeza o caranguejo é um dos meus clãs favoritos =]

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  5. Crab é o meu terceiro e mais querido clã preferido!

    Sugiro a leitura do livro Masters of War onde conta as estratégias e demais chubidubices desses caras contra a shadowlands!

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  6. Valeu, galera. Espero vê-los como seguidores então.

    A única coisa q achei meio mal pensada no Masters of War foi q se vc ler o livro linearmente, se passa o capítulo do Crab TODO sem saber qual é a das legiões, regimentos, exércitos e os demais grupamentos de "soldadinhos", q só são explicados no capítulo do Leão. Eles deveriam ter colocado isso no "geral" do livro, antes dos clãs propriamente ditos. Fora isso, pra quem gosta de estratégias militares, guerras e sua história, o livro é uma leitura OBRIGATÓRIA, mesmo q não seja pra L5R.

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  7. Leonardo Viera Andrade1 de dez. de 2010, 14:12:00

    Depois do Escorpião e do Mantis é o Caranguejo o meu preferido!

    O Caranguejo é o clã da mais pura porrada! Eles são a muralha e acho que é um dos clãs mais humildes de Rokugan.

    Hayashi, você se esqueceu de citar que os Kaiu são os maiores mestres em guerras de cerco de toda Rokugan! No livro do Akodo diz que só um general desesperado faz o cerco ao seu inimigo, mas o Caranguejo está sempre em estado de cerco.

    Hida Kisada é Hida Kisada! O imortal, O grande Urso, um dos maiores heróis de Rokugan e a Fortuna da Persistência. Eu queria ler o Death at Koten!

    Resolvi procurar os detalhes na imagem como você sugeriu Hayashi! Tem uns caranguejos em volta de um caldeirão comendo, conversando e bem tranqüilos, enquanto tem uns onis pulando para dentro da muralha!

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  8. Os Kaiu, assim como os Yasuki, são uma Família meio deslocada mesmo dentro do Caranguejo. Entre Hida brutamontes e Hiruma psicóticos obsessivos, eles são caras q passam horas projetando e construindo armas de cerco bizarras ou meses trabalhando em forjas pra produzir uma única espada ou armadura (mas o resultado compensa a demora). No MoW chega a falar q os Kaiu costumam construir "brinquedos", pequenas máquinas como pássaros mecânicos, caixas de música ou coisas do tipo, só para testar novas idéias mecânicas que serão aplicadas posteriormente às armas de cerco numa escala MUITO maior.

    Eles só costumam mostrá-las a outros Kaiu. O q faz total sentido. Qq Hida q visse isso acharia "coisa de menininha". Os Kaiu, assim como os Kuni, são os nerds do grupo de amigos trogloditas. Os caras q mesmo q ninguém entenda o q falam, obedecem o q eles dizem. XD

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  9. Leonardo Viera Andrade,

    Eu comprei o livro "Vacant Throne" e na mesma linha do "Four Winds", ele descreve o "Death at Koten", inclusive com dicas para a inserção dos jogadores na trama. Chubiduba pá caramba!

    Hayashi,

    Concordo contigo. Mas até ai, praticamente todos os livros de 3º edição são meio confusos, no quarta edição até agora parece estar tudo redondinho!

    Aliás, consegui cópias pdf em português do Masters of War e master of Court.

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  10. Parabéns cara!
    Seu blog é muito bom!
    Se quiser conhecer e ajudar, acesse: kinderiaelfica.blogspot.com

    Eu amo L5R, tanto o card game quanto o RPG, e seus artigos são uma ajuda para os iniciantes e já veteranos. parabéns!

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  11. @Kinderia

    Olá, e obrigado pelos elogios! Eu acho meio lamentável q minhas iniciativas constem como uma das maiores por L5R no Brasil. Ainda tenho saudade do primeiro fórum brasileiro, em q campeonatos ferviam no território nacional e q o RPG ser em Inglês não impedia q tivéssemos mais 3.000 usuários no fórum.

    A KE é um blog novo, de fato, mas muito promissor. Visual bem leve e muito bonito. Cuidarei dos trâmites da parceria daqui a pouco. XD

    Aguardando pelo seu banner.

    @Al Lock

    Se não me engano, foram traduções minhas, q pedi para não colocarem na Internet, mas, para variar, não me ouviram. Não q eu seja xiitamente contrário à idéia de L5R traduzido no Brasil, só acho q não vale a pena violar o direito autoral sendo q L5R não precisa de mais jogadores no Brasil. Aliás, jogadores já tem vários. O q ele precisa é de INVESTIDORES no Brasil. Gente disposta a comprar livros, investir competitivamente em cartas, e não só vestir a camisa política da franquia. Sim, óbvio q ajuda, só não considero a abordagem mais eficiente possível. Fato, tb não faço idéia de qual possa vir a ser.

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  12. Gosto muito do caranguejo, pois ele me lembra de meus amigos, hahaha! E muito bonita mesmo a "carta" do caranguejo. Parabéns novamente por essa seção, nobre Hayashi, está espetacular.

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  13. Ainda sobre o Caranguejo, gostaria de deixar o flavour da carta do Kisada, q diz respeito à Armadura do Guerreiro Sombrio, q apesar do nome, faz parte da regalia do Campeão do Caranguejo, e não do Escorpião como muitos podem pensar:

    "Seu conhecimento não pode salvá-lo.
    Sua magia não pode salvá-lo.
    NADA pode salvá-lo."

    A saber, a armadura o deixava invulnerável a magia. Um dos únicos meios rokugani-mente possível de parar um cara de Terra 9 (em termos de D&D, uma Constituição... Alta. MESMO).

    Eu costumo parafrasear este flavour como:

    "Tenho Terra 9.
    NADA pode salvá-lo disso!"

    Só para exemplificar, o máximo mortalmente atingível para um atributo para um mortal, mesmo em níveis lendários seria 10. Sim, a resistência do Kisada é qse de nível divino.

    E para quem conhece a série de vídeos animados com as cartas (que já foram postados aqui no chat, em algum momento):

    "Hida Kisada proclaims this comment as property of the Crab Clan!"

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  14. Tem campeonato domingo agora de card game em SP!
    Não se há como aparecer, mas queira conferir:

    http://l5rbrasil.phpbbserver.com/post24571.html#p24571

    Obrigado pelos elogios! E faremos o mesmo por vcs!
    Agradeçido!

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  15. Uau! parabéns pelo Blog!

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  16. Eu li o Way of the Crab, e se eu não amasse tanto Fênix eu com certeza seria Caranguejo, por que eu não entendo patufas nenhuma de etiqueta e sou obsessivamente sincera. Pra mim o Caranguejo é tipo aquele bully/brigão do colégio com um dever a cumprir, e lendo as histórias deles isso fica bem mais evidente. Apesar de que a história daquela Fênix no Way of the Fenix, é bem interessante também.

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