10 de maio de 2011

Corte de Inverno: A Fusão


Há nem tanto tempo assim, creio que todos ficaram tão surpresos quanto eu ao saber da notícia da fusão das marcas Conclave com a Taberna do Dragão. Bom, confesso que fiquei talvez apreensivo do que todos aqui. Primeiro, porque moro na cidade dessas duas lojas. E segundo, porque sempre me apresento bem descrente a qualquer "extremamente boa" notícia sobre RPG aqui no Brasil. Talvez seja meu lado mineiro (desconfiado) falando mais alto, ou talvez seja porque eu sempre desconfio de tudo mesmo, mas, bom, quanto surgiu esta notícia em particular, não achei tão ruim assim. E vou explicar porque.



Não, esta não é a Leitura daqui. Quem dera...
Não sei se já cheguei a dizer isso aqui no blog, mas costumo falar que Juiz de Fora tem várias lojas de RPG e uma editora. Temos duas livrarias de respaldo nacional inquestionável (Leitura e Saraiva), cujas estantes de RPG mais parecem propositalmente escondidas, é verdade, mas o fato é que os livros de D&D 3.5 estão lá. Mofando mas estão. Depois delas, temos a Taberna do Dragão. Um lugar num bairro até que bem nobre da cidade, com motivos medievais e (tinha) um grande dragão vermelho pendurado na parede. Lá, o povo se reunia, jogava card games, conversava sobre RPG e vez em nunca até jogava RPG por lá.

Por fim, tínhamos a Conclave, que passou por maus bocados nos últimos anos. Trocou de nome (antigamente era Compendium), fechou uma das lojas filiais que ficava no então mais chique shopping da cidade, e acabou até trocando seu tão ancestral endereço para uma loja externa, num prédio comercial muito mais arejado (e diga-se de passagem, muito mais bem freqüentado que o cada vez mais decadente Santa Cruz Shopping).

Resta acrescentar, porém, meu recente desânimo com a Taberna do Dragão. No meu espectro visual, foi a maior evidência da decadência do mercado de RPG. Tanto, que o próprio dono da loja (meu amigo Eurico), se viu obrigado a optar por fontes mais paralelas de retorno financeiro. Daí surgiram as revistas e jornais que inundam a loja, e o motivo de reclamações entre 9 a cada 10 conhecedores da Taberna há algum tempo: uma ilha de doces gigantesca que ficava no meio da loja. E novamente, víamos os livros de RPG cada vez mais espremidos em meio a produtos mais vendáveis e consumíveis pelo povão. Cheguei a trabalhar como balconista lá por algumas semanas. Apesar de meu tempo ter sido curto e pouco (não trabalhava integralmente), me senti bem frustrado com toda a estrutura social em que nos instalávamos por nunca ter vendido um produto de RPG sequer estando ali. Nem um dado. No ramo de card games, porém, o terreno parecia mais fértil. Depedendo de quem vê. A saber, o único card game que parecia dar certo em solo taberniano era o não tão popular assim Warlord. Uma versão de D&D bidimensional em que o objetivo é matar o "Warlord" do adversário no meio de exércitos. Algo bem legal, produzido pela AEG e também recentemente vendido para uma empresa européia. Abundam teorias da conspiração que o próprio Eurico teria cerceado outros jogos para que Warlord (uma franquia que sempre foi praticamente morta lá fora) se mostrasse tão frutífera ali. Como não tenho prova alguma, me limito a dizer que tais teorias existiam.

O que interessa dizer, era que, no todo, me parecia que a Taberna andava mal das pernas há algum tempo. O Eurico tinha que se dividir entre praticamente três empregos com a loja, RPGs não vendiam. E a loja parecia cada vez mais uma lan (sim, havia computadores lá!) com videogames que faziam um barulho infernal, com uma loja de doces embutida e uma banca de jornal. No meio desse frankenstein todo, quase não se via a loja de RPG. Sim, a loja vendia bastante pela Internet, ao ponto de se dizer "a maior loja de RPG de Minas Gerais". Mas, fisicamente, não era lá essa coca-cola toda.

É nesse contexto, porém, que chega a bombástica notícia da fusão da Conclave com a Taberna e a criação da Taberna Conclave. Pensei comigo mesmo que seria bom deixarmos de ter uma loja e meia de RPG na cidade para passarmos a ter duas lojas na cidade sob o respaldoso nome dos heróicos Cutty e Marcelo. Talvez a Conclave estivesse mostrando indícios de lenta expansão... Tomando sua antiga forma nos áureos tempos de glória! Comecei a me empolgar com a idéia...

Até hoje.

Hoje foi o meu dia mensal de ir até o Centro da cidade tomar a facada mensal que pago pelos meus quadrinhos. Logicamente, aproveito para fazer outras coisas também. Mas, qual não foi minha surpresa o chegar onde DEVERIA estar a Conclave e encontrar um cartaz dizendo que eles estão, a partir do dia 3 deste mês atendendo na R. Padre Café, 273. Para quem não conhece Juiz de Fora (99% da população mundial, senão mais), este é o endereço da Taberna do Dragão. Ou da Taberna Conclave, agora. Após meia hora no tráfego infernal do rush do meio dia, consegui chegar lá, e encontrei a loja com uma arquitetura que misturava os dois estilos. Tínhamos alguns enfeites medievais da Taberna, as estantes da Conclave, e para meu grande alívio, funcionários da Conclave. Não que eu tenha algo contra os da antiga Taberna, só tinha a firme certeza de que eles não reservariam meus quadrinhos com o mesmo zelo e eficiência que o povo da Conclave. Aliás, motivo este de homéricas críticas à antiga Taberna.

Talvez eu tenha sido esperançoso e ingênuo demais por ter achado que de repente poderíamos ter duas Conclaves, uma no centro e outra lá na Padre Café. Não estou dizendo que o mercado está em crise, e que nuvens negras trovejantes cairão sobre as cabeças dos projetos nacionais. É só que o negócio não é tão bom quanto imaginei. A fusão não me parece mais tão boa quanto pareceu quando ouvi dela pela primeira vez. Eu, pelo menos, fui tomado por uma incerteza. Não que o RPG pareça estar desanimando em Juiz de Fora. De certa forma, até está, já que não vejo novos jogadores ou gente para continuar com isso depois que Marcelo e Cutty estiverem já velhos demais para isso.

Me desculpem pelo prolixo post, mas é complicado falar de uma história tão longa assim. Bom, mas e vocês? O que acham? E tem algo parecido nas cidades de vocês?

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