15 de maio de 2011

Corte de Inverno/Desabafo: RPG: Um Exclusivo Hobby Coletivo?


Olá, meia dúzia de gatos pingados que se dão ao trabalho de ler o que escrevo aqui.

(Desculpem, mas tenho estado "P" da vida por tempo demais para não deixar vazar um pouco por aqui)

Bom, minha primeira preocupação é o fato de termos 2 Cortes de Inverno instauradas em menos de uma semana. E com a quantidade de comentários decrescente a cada post. Se seguirmos a PA, este não passa de 2.

Mas, sobre o assunto em questão... Não sou muito de rodeios, mas acho que nesse caso, vale uma abordagem mais mineira e pelas beiradas.


Nossa civilização já é cheia de contradições. Os EUA lutam pela paz. E a sério. BEM sério mesmo. Pergunte a qualquer Boina Verde. Mesmo que para isso tenham que trucidar minorias raciais e culturais em prol do bem maior. Principalmente o deles. Nós, brasileiros, vivemos reclamando da corrupção generalizada de nossos governantes. Não só os públicos. Praticamente todo e qualquer setor da iniciativa privada que contenha um de nós parece automaticamente ser contagiado pelos atalhos e jeitinhos mais ilegais e por vezes até mesmo descarados em benefício próprio e depois saímos com o mais descarado e escancarado sorriso de "malando é malandro e mané é mané". Parece até que a corrupção é tão inerente ao ser brasileiro quanto o futebol e o samba (estranho. Não faço bem nenhum desses dois... Enfim...). Ou seja, na hora de jogar a culpa pros caras lá de cima, todo mundo faz coro. Mas, chega na hora de olhar pra si e ver que muitos de nós somos tão ou quissá mais salafrários quanto, todo mundo sai de fininho e desassunta. Minha questão não é debater o quanto anti-ético isto é. É só mencionar o quanto isso é contraditório. Hoje mesmo tomei uma facada violenta dessas. Então talvez por isso mesmo eu esteja tão inspirado para escrever a respeito, mas, ao longo de todo este longo parágrafo, você me pergunta: "E o que isso tudo tem haver com RPG?".

Quisera eu dizer que não há nada haver. Ainda não conheço nenhum estudo comprovado na área, mas parece que para sobrevivermos enquanto cidadãos plenos em nossa atual sociedade, PRECISAMOS desenvolver um certo grau de falsidade. Não mentiras compulsivas, mas, mesmo em primeira análise, a idéia do indivíduo que diz tudo aquilo que realmente pensa e acha sobre qualquer assunto ou pessoa, se não é recebida com humor quando tratada na comédia, é pelo menos um pressuposto do fracasso. Ora, creio que uma esmagadora maioria de nós aqui, dizendo para o chefe o que realmente pensam dele, assim do nada... Estariam irremediavelmente desempregados depois do audacioso e libertador feito. Mas, fato, ninguém em sã consciência quer isso. É mais fácil aturar uns sapos do que morrer de fome desempregado, afinal. "Tá, mas e o RPG?".

Atirar no aliado. Tática estranha. Mas, para muitos de nós, parece
funcionar...
Como eu estava dizendo, somos cheios de contradições. Praticamente tudo o que fazemos e vivemos as têm. E infelizmente, o RPG não está fora. Paralelamente, estive conversando com alguns teólogos sobre o pressuposto bem contemporâneo, inclusive, que a religião mais discrimina do que congrega. Lamentavelmente, algo que é quase constante no meio eclesiástico é gente querendo furar o olho uns dos outros. Seja em termos congregacionais, fazendo a famosa "pesca em aquário", ou simplesmente descendo a lenha nesta ou naquela denominação. Ao invés de se unir em prol dos necessitados e realmente formar um exército formado pelos mais diferentes especialistas agindo em harmonia, parece que os cristãos se divertem bem mais dando caneladas uns nos outros. Tá, alguns até têm motivos para isso, mas... "E o RPG?".

Bom, acho que é bem desnecessário grifar o RPG como um hobby coletivo por natureza. Até é possível jogar RPG sozinho, embora a continuidade desta atividade provavelmente resultar em esquizofrenia. Mas parece que, assim como a religião, o RPG, ao mesmo tempo que junta as pessoas, as discrimina.

De forma bem simples, há o mainstream. Fuja dele por sua conta e risco. Não interessa o quanto L5R, Qin, Scion, Dresden Files, M&M e tantos outros por aí sejam legais ou até mesmo muito melhores que os sistemas imperantes. NINGUÉM irá jogá-los e ponto. Simples assim. Tá, há um foco de resistência aqui e ali, destinados a serem extintos pela própria marcha inexorável do progresso. Afinal de contas, o RPG é algo supérfluo, e ninguém vai de fato arregaçar as mangas por causa dele. Ainda mais no Brasil, lugar onde ninguém arregaça as mangas por nada exceto que haja benefício financeiro envolvido. Ou seja, ser da "resistência RPGística" nada mais é do que bater sua cabeça na parede para sentir dor de cabeça. Sempre me pareceu meio que pregar no deserto, mas agora isto está sendo levado a níveis insanos. Dada a natureza totalmente supérflua do RPG, ninguém vai arregaçar as mangas para melhorá-lo. E quando o fazem, são endeusados como se o que fizessem fosse algo realmente divinal, e não uma medida desesperada em prol da nobre causa perdida, como costumam ser minhas traduções.

Quero pensar que inconscientemente, mas o que mais vemos por aí são discriminações rotulares dos próprios RPGistas. Aquele grupo joga assim, assado... Sistema Y sucks... E vamos nós atropelar a natureza coletiva do negócio para tentarmos tolamente favorecer nossos próprios grupos, ou a nossos próprios egos, tentando nos sagrar como autoridades num assunto totalmente banal para 90% da população terráquea...

Tudo bem, nenhum de nós pode se responsabilizar pelo coletivo. Mesmo que eu tivesse um grupo físico no momento, também não poderia obrigá-los a ler o que acho legal apenas por achar legal. Mas, estranhamente, todos nós somos responsáveis pelo coletivo. É mais do que hora de pensarmos num coletivo real. E não nos "nossos coletivos". Parar de pisar nos calos alheios e realmente fazer algo que valha a pena ser feito. O RPG precisa crescer e ser renovar no Brasil. Acho que nos falta a tão desesperadora consciência de quão improvável é que isto ocorra no nosso presente contexto.

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