10 de agosto de 2011

As Crônicas das Terras Longínquas - (Off-Play): O Que Temos Até Agora


Olás a todos!

Bom, este post será um pouco diferente dos outros relacionados às Terras Longínquas. Em primeiro lugar, porque não se trata de um conto. Na verdade, a idéia é manter a voice-off ligada o maior tempo possível. Creio ser uma boa hora para pararmos no que temos até aqui e de uma maneira mais light, dizer o que podemos esperar no futuro desta seção. Acho que é um momento em que muitos (muitos?) leitores deste blog andam se perguntando: "O que esta seção faz aqui?" "Qual o intuito das Terras Longínquas? Ela vai virar algum cenário em breve?" e "O que afinal este cenário tem de novo?".

Vou tentar responder essas perguntas. Mas não posso garantir muita coisa.

Em primeiro lugar, as Terras Longínquas começaram como uma brincadeira bem bobinha para passar o meu tempo (e confesso, postar alguma coisa quando não tinha mais idéia do que falar). O mostruário dos posts mais bem quistos aqui do blog vive me lembrando que preciso postar mais porta-coisas RPGísticas e que falar de RPGs nacionais sempre é legal. Ainda assim, nesses últimos tempos, venho me dedicando com uma freqüência às CTL que até mesmo eu tenho estranhado. A idéia começou bem basicona mesmo: Um cenário de fantasia medieval onde nobreza, honra e heroísmo fossem exaltados, com algumas pitadas de intriga e um adversário menos "vilão típico". Falaremos de Charchadrax mais à frente. Mas já temos vários cenários? Por que mais um?


Sobre TL como um cenário propriamente dito, confesso que ele não parece muito atraente nem mesmo para mim. Vivia dizendo isso nos meus tempos de faculdade de artes, mas, parece que vivemos numa era pós-tudo. Tudo já foi feito, tudo já foi criado e salvo por coisas que obviamente não valeriam a pena serem criadas, nada mais há de novo debaixo do sol. Durante a década de 90 eu pelo menos tive a nítida impressão de que o que nos restava seria apenas combinar coisas pré-existentes em pastiches inéditos e considerarmos isso algo novo. Assim, me desencanei com a questão de originalidade. E Terras Longínquas é bem por aí mesmo. Temos elfos, temos anões, os mais ou menos novos eladrins e draconatos, que ainda assim são reciclados. Ah, sim. Temos os humanos também salvando o rabo de todo o mundo. Para variar. Vocês já viram isso em alguns (muitos) lugares. Bom, confesso que tenho algumas cartas nas mangas para os anões, humanos e eladrins. Algumas encarnações dessas raças que até agora não foram feitas, mas que eu pelo menos sinto grande falta na fantasia medieval RPGística atual. Mas vou tentar não estragar nenhuma surpresa.

Agora, sobre áreas em que CTL em tese visava inovar: Em primeiro lugar, temos uma óbvia influência de L5R tendo o Sol e a Lua como divindades supremas. Mas, abaixo delas, temos os Deuses Dragões. Isso eu fiz mais para resumir em uma coisa só duas figuras que sempre merecem o máximo destaque nos cenários medievais: Deuses e Dragões. Bom, há grandes cenário que não têm um ou até ambos. Mas, em CTL, eles litaralmente moldam todo o universo à sua vontade. Também é legal porque dá motivo pros esteriótipos de cada raça serem tão fortes. Os anões são fortes e teimosos porque o dragão que os criou é de aço. A única DeusA Dragão criou os elfos, o que fez deles seres mais sutis, fugazes e até certo ponto ardilosos em relação às outras raças. Talvez até mais feministas e matriarcais. Os eladrins herdam a altivez do Deus Dragão Dourado... E assim por diante. E falando nisso, chegamos então no que creio ser o maior ponto de interesse em CTL: O Deus Dragão Negro Charchadrax.

Peço que atentem para um detalhe: Sim, temos a história da queda de Charchadrax. Mas contada pelo lado dele. Isso faz com que nos sintamos pendidos a ver o lado dele como certo? Mais ou menos. Ele praticamente matou todos no mundo, prendeu todos à sua existência. Os mortais conhecem a história de Charchadrax? Também mais ou menos. Eles sabem que ele fez algo de muito ruim (do ponto de vista deles), e merece ser vilanizado por isso. E o que Charchadrax pensa a respeito? Bom, ele se julga um incompreendido. Ele acredita piamente que isto tudo é um teste de seus pais, que um dia o receberão como o único de seus irmãos capaz de ver que era exatamente isso que eles queriam que os Deuses Dragões fizessem. Acima de tudo, Charchadrax sente um misto de inveja, amor e cobiça pelos mortais. Tanto que quer todos para ele. Isso o diferencia do típico vilão que quer dominar o mundo porque acordou com uma unha encravada? Eu acho que muito. Ele não quer o mundo. Quer apenas os mortais. Porque eles os ama de tal modo que lhe dói viver de qualquer outro modo. Ao contrário de ser um vilão que luta por ódio e amargura, Charchadrax, estranhamente, luta por amor. Ah sim. Claro. O fato de ter sido surrado pelos seus irmãos durante seu longo trajeto dos Céus até sabe-se lá em que buraco ele foi parar também não deve ter feito maravilhas pela sua sanidade.

"Esse tal de Charchadrax me mandou um
retrato. Estranho, né?"
Charchadrax ama os mortais, e creio que todos aqui já estejam cansado de ler provas disso. Tanto, que ele não os subjuga. Não cheguei a contar as histórias de todos eles ainda, mas seus Príncipes Negros são provas vivas (alguns nem tão vivos assim) disso. A idéia era escolher justamente os que melhor representassem os espíritos originais de cada raça, e moldá-los à sua vontade. Por isso Zora é uma caçadora implacável e mestra de feras. Sagariel é um eladrin fanático religioso, orgulhoso e certo de que nada mais na face da Terra deva estar acima dele além do próprio Deus Dragão Negro. Ainda há outros descendentes das casas reais das Terras Longínquas integrando o time dos Príncipes (e Princesas) Negros (as)... Aguardem... E todos eles simplesmente aceitaram o amor de Chachadrax e parecem não se arrependerem nem um pouco disso. Eles receberam suas dádivas em troca, e farão o que for possível para disseminar este evangelho de "vida tranqüila após a morte".

Conforme já disse, Charchadrax luta com amor. Ele não pretende mal algum. E por mais que isso envolva magia negra, necromancia, zumbis, roubos e assassinatos e outros crimes hediondos, o objetivo é apenas um: Dar aos que considera seus filhos o que eles desejam. Simples assim. Fato, ao final do acordo, eles parecem ser destruídos. Mas não são. São apenas reconstruídos de uma maneira... "Melhor", do ponto de vista do Deus Caído.

Acho que este é um tipo de desafio que não vemos todo dia em nossas mesas de RPG. Como enfrentar um vilão que pode estar lutando contra mim agora mesmo? Como vencer um inimigo que já conhece todas as minhas fraquezas, desejos e anseios e COM CERTEZA os usará contra mim? Não sei se passou batido antes, mas com Virtudes: Bondade, Sobriedade, Mansidão, Sabedoria e Coragem. Nas palavras do que considero o diálogo mais marcante do primeiro filme de Mortal Kombat:

SHANG TSUNG: "Eu vejo através da sua ficha!"
SHANG TSUNG: "Eu vejo através de sua alma, Liu Kang!"
LIU KANG: "Mas não a possui!"

Charchadrax pode mover céus e terra para comprar seu personagem para o lado dele. Mas não pode fazê-lo escolher vir para o lado dele. Essa escolha é sua. Isso nos coloca no típico dilema da ética ocidental: Seguir o caminho "errado" tem um prêmio. Mas será que ele vale realmente a pena? Será que o sofrimento alheio vale o meu desejo? Seguir as Virtudes não parece trazer benefício nenhum... E afinal de contas: Qual seria o preço da alma de uma pessoa?

Isso me leva a outro ponto que considero bem legal em CTL: Caso isso realmente seja usado como um cenário de RPG (sim, Mestres, à vontade), os personagens serão tipicamente nobres. Em grande parte porque eles são os alvos primários dos ardis de Charchadrax. Em segundo lugar porque eles são os padrões de "virtude" para todo o povo que defendem. E também porque teriam recursos suficientes para terem armaduras, armas e itens mágicos quanto fossem necessários para uma narrativa clássica. Além dos "jogos de guerra" poderem ter se tornado um passatempo nobre. Como justa, esgrima, arco, etc. continuarem dando motivo para apenas os nobres praticarem essas artes, em memória aos fundadores de suas casas, bravos homens de armas (e magia) da Primeira Guerra. Também há toda a politicagem interna, e uma "meritocracia" nobre que muitos jovens cobiçosos podem se interessar. Mas isso é assunto para outra hora.

"Poxa, quer dizer que não vou poder jogar com meu ladino chechelento?". Não disse isso. Nunca entendi porque todo ladino tinha que obrigatoriamente viver na miséria. Ora, um príncipe pode estar lutando disfarçado contra os planos despóticos de seu pai, o que lhe dá motivos de sobra para esconder sua identidade. Talvez um bastardo de uma casa real prefira muito mais lutar pelos que ainda assim ama nas sombras, ao invés de arriscar-se ao olhar puritano dos outros nobres. E mesmo os truculentos e cheios de aço anões do gélido norte podem achar muita utilidade para espias e agentes de inteligência para adiantar ataques em suas muralhas. Bom, enfim, o fato de termos algo favorável a nobres não significa que ninguém possa jogar de camponês também... É só uma sugestão, afinal.

Isso seria outra inspiração de L5R? Afinal, todo samurai é um nobre rokugani. Talvez. Mas ninguém acusou o Martin por partir por essa predileção também.

De resto, acho que CTL continua sendo por agora aquilo que sempre foi. Um passatempo, por enquanto (até a Wizards se tocar da obra monumental que criei e me implorar por alguns bons milhões de dólares para que eu ceda os direitos para eles fazerem livros a respeito! Tá bom, de volta à realidade, agora), mas que gostaria que fosse algo mais legal não só para mim, como para vocês também. Acho que essas são todas as linhas gerais que pretendo seguir com este cenário que criei e continuo criando de bobeira. Planejo novas formas de interação com o cenário também. Mas, até agora (e enquanto não tenho nada melhor para postar), acho que é isso mesmo. Estas são as Terras Longínquas. Com seus anões belicosos protegendo e sustentando todo o Reinado nas montanhas de gelo, elfos caçadores nas suas florestas impenetráveis, eladrins convencidos e arrogantes, draconatos honrados buscando um legado perdido, e os humanos no meio do fogo cruzado... Explorando novos caminhos e tentando manter a bagaça toda unida. E, creio que o mais significativo seja: Um vilão que ama seu personagem. De verdade!

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