3 de agosto de 2011

Conto: As Crônicas das Terras Longínquas - (Parte 4): O Diário da Princesa

Antes de mais nada, desculpa pelo sumiço.

Provavelmente o Odin já deve ter posto uma recompensa na minha cabeça por não ter falado que agora o Asgard RPG é vendido também pela RedStore. Mas, a essa altura a notícia passou do ponto também. Ainda sobre Asgard RPG, saiu uma re-resenha minha a respeito na RedeRPG, que basicamente é um repeteco da que já viram aqui.

Agora, quanto às Terras Longínquas, eu confesso que ainda me sinto meio complexado pelas incomuns... Áreas em comum com a Westeros do Martin, mas, mesmo assim, acho que vale o esforço para continuar o projeto, até porque, muitos fios desencapados ainda precisam encontrar seus respectivos arremates. Bom, a um deles então:

Trecho do Códice Negro: O Livro dos Príncipes, a partir do capítulo III, Zora de Sarel

12º Dia da 7º Lua do 296º Ano da Casa Sarel
Querido diário,
Ontem à noite foi a primeira lua minguante do sétimo mês, e como meu presente de aniversário, nosso primo Yarin me levou pela primeira vez à caçada real das casas de Ladércia. Apesar do nome, nem todas as casas nobres se juntam na caçada, apenas alguns nobres seletos e seus séquitos podem compartilhar deste ritual sagrado, que reafirma nossa raça e nossas casas como reais caçadores que somos. O que sempre achei estranho. Se somos realmente as maiores e melhores feras criadas pela Deusa Dragão Haran, então por que precisávamos provar isso derramando sangue de feras que sequer nos ameaçam? Qual era o mérito de matar um animal quando este está acuado, em menor número e justamente contra os melhores rastreadores e arqueiros de caça que os Reinos já conheceram? Enfim, era um tradição, e eu jamais quis questionar as sagradas leis dos meus pais, ou dos pais dos meus pais, e dos pais antes deles. Mesmo assim, a noite me agradava. A tradição de Ladérsia prefere caçadas noturnas, imitando as feras caçadoras, um desafio a mais para a furtividade e precisão das flechas dos caçadores.

Há inúmeros costumes ligados a este ritual anual, que é considerado um auspício das coisas que virão. A caçada foi considerada ótima por meu pai! Porque ele matou um urso que veio sobre ele entre o vão de suas flechas apenas com uma faca e sozinho. Toda a casa de Sarel se alegrou com o feito e demonstração de força de nosso rei. Mas, o que me aconteceu, provavelmente só será sabido por estas páginas e por meu primo Yarin.

Enquanto caminhava sozinha pelas matas, encontrei uma clareira, de onde podia admirar as estrelas como jóias adornando o vestido de Lady Inara. Foi quando ouvi o estalar de folhas e um rugido contido na garganta. Mal acreditei quando olhei para frente e me deparei com um tigre! A fera era adulta e ao olhar nos seus olhos pude ver a certeza da morte do adversário. Jamais me esquecerei daquele olhar, daquela imponência, da elegância e graça daquele matador diante daquilo que tomara como sua presa. Mas então me lembrei de quem era. Eu sou a herdeira do trono de Ladérsia! Sou uma Sarel e não me intimidaria por um animal, por maior que ele fosse. Tomei a faca que estava à minha espádua, e tomei a postura de luta que já vira tantas vezes Yarin tomar. O tigre rosnou, e eu rosnei de volta. Queria provar de fato nossa superioridade como caçadores divinos. Nos circundamos por alguns momentos, um esperando encontrar uma falha no outro.

Mas quando o felino se retraiu para avançar, aconteceu. O seco som das mortais pontas de metal de Yarin se cravaram no lado esquerdo do tigre. Ele olhou em sua direção surpreso pelo novo oponente, mas nem teve chance de protestar além do seu rugido de dor. Lado direito, olho e coração, e o tigre jaziu no chão, reduzido a uma mera massa de carne e pêlo escorrendo sangue na mata. Yarin recolheu seu arco e veio até mim correndo, sem ligar para discrição. Ele me tomou em seus braços e me virou para ver se eu estava ferida. Com olhos correndo em aflição, ele me perguntou: "Você está bem?".

Nunca fui tão ofendida em toda a minha vida.
________


13º Dia da 7º Lua do 296º Ano da Casa Sarel
Hoje eu tive um sonho estranho. Em que um dos príncipes eladrins, a quem não pude reconhecer de minhas aulas de História ou dos contatos que tive com sua corte, vinha até mim. Ele tinha o rosto perfeito, como que esculpido diretamente por Lady Inara e Lorde Alragor, e o cabelo de um dourado escuro como o ouro em brasa. Sua armadura brilhava como o sol, e a espada na cintura parecia ser capaz de ferir a escuridão tal qual a lua. Ele veio até mim e se curvou com admiração. Ele dizia que ficou impressionado pelo modo como enfrentei o tigre. Ora, como ele poderia saber daquilo? Só eu e Yarin estávamos lá, e ele não se arriscaria a contar que quase deixou a herdeira Sarel ser devorada. Então me lembrei que era um sonho, então estava tudo bem.


O eladrin prosseguiu, com uma voz firme e doce. Ele me ofereceu um reino para eu governar, e tantas feras quanto eu quisesse domar. Não mais como predadora, mas como irmã delas. Como prova de sua palavra, ele virou-se de lado, permitindo que eu visse atrás dele um tigre. Mas não um tigre qualquer, o mesmo tigre derrubado pelas flechas impiedosas de Yarin. Ele estava curado de suas feridas e andando, mas o olho que lhe restava aparentava um brilho vermelho, que eu jamais vi em fera alguma, e seu pêlo era anormalmente branco. Ainda assim, belo. Me aproximei dele, pus a mão em sua testa e pude sentir o fino pêlo. Em resposta, o implacável caçador felino lambeu minha mão estendida. Acho que ri. Foi então que o homem disse que centenas iguais a este estariam num palácio todo meu, onde poderia fazer o que quisesse, e caçar o que quisesse, como eu quisesse. Disse que eu era uma princesa élfica, e que já tinha tudo isso. Ele me disse que não tinha. Ele disse que os outros me obedeciam porque deveriam me obedecer. Eram obrigados por tradição ou poder a isto. Mas aquele tigre não. E eu via sincero amor por mim nos olhos dele. Algo que nunca vi nos olhos de meu pai. Papai me dizia que meus olhos lembravam os da mamãe, por isso entendo porque ele nunca gostou de olhar muito neles. Tudo o que tinha de fazer, disse o príncipe, era olhar pela janela do meu quarto, onde um mensageiro dele me aguardava.


Acordei assustada, e apesar de ainda ter certeza de que estava no meu quarto, ainda sentia o pêlo do tigre na minha mão. Resolvi arriscar, e olhei pela janela. Caminhei para trás empurrada pelo barulho de asas de couro do tamanho de um homem. Era algo que parecia um morcego, mas com o mesmo brilho vermelho nos olhos que o tigre do meu sonho. Então perguntei em baixa voz o que significava tudo aquilo. O 'morcego' então se virou para mim, e pude ouvir na minha mente o que cri ser a sua voz guinchada me dizer apenas: "Porque ele te ama, e quer fazer de você sua princesa. E eu também te amo, rainha das feras Zora". Não sei ao certo o porquê, mas me emocionei com aquilo. Abracei o peito crespo da besta num gesto de gentileza a todo aquele amor. O morcego então pulou castelo a fora, e fui envolvida pelo doce frio da noite. Foi o melhor abraço que já tive.


E Charchadrax me fez sua princesa.


Fim do Capítulo III do Livro dos Príncipes do Códice Negro


Na cadeia de poder do reino maligno de Charchadrax, diretamente abaixo dele estão os Seis Príncipes e Princesas Sombrios. Esta foi Zora, que após o esclarecimento de eventos ocorridos durante a Primeira Guerra teve seus registros de descendência completamente apagados, para que não fosse relacionada novamente à casa de Sarel. Ela foi a segunda dos príncipes, e apesar de não envelhecer e crida como sendo uma menina até hoje, séculos após os eventos da Primeira Guerra, o que a torna "mais velha" do que os outros Príncipes e Princesas.

Entre os estudiosos do culto de Charchadrax, ela atende pela alcunha de Princesa das Mil Garras e Dentes, por ter ao seu dispor um imensurável exército de bestas modificadas pela insanidade do Deus Dragão Caído, algumas atingindo tamanhos colossais. Esses terrores foram vistos durante a Primeira Guerra, quando Ladérsia finalmente reconheceu amargamente o destino que recaiu sobre sua herdeira. Rindo histericamente enquanto seus "irmãos" arrancavam vísceras, ossos e gritos de dor hediondos dos soldados elfos, ela também foi chamada como arauta da dor.

Sem herdeiros, pois Zora era sua única filha, o rei Lacan de Sarel foi o último monarca desta casa, tombando em batalha na Primeira Guerra.

Nenhum comentário :

Postar um comentário

Leia Também:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...