7 de agosto de 2011

Corte de Inverno: O Que Torna um RPG Ruim?


Bom, já discutimos aqui e em muitos outros lugares a pergunta inversa à proposta hoje: "O que torna um RPG bom?". Hoje, porém, levanto a questão inversa, pois, já que é extremamente difícil definir o que determina que para nós este ou aquele RPG seja melhor do que aquele lá ou aquele outro, pelo menos vamos tentar pegar pelo lado mais fácil (já que todo ser humano adora ser um crítico voraz e descer a lenha no trabalho alheio) e tentar responder a questão mais corruptiva do game design: O que determina que este ou aquele RPG sejam ruins?

Em primeiro lugar, gostaria de ressaltar que esta me parece ser uma pergunta de extrema importância para qualquer um que queira ser um game designer de relativa eficácia, ou pelo menos embasar mais seus argumentos pessoais críticos em relação à comparação entre os tantos RPGs que circulam por aí. Nem de longe estou me propondo como uma autoridade cabal no assunto, ou anseio chegar a alguma conclusão que insira um ponto final absoluto na questão. Mas acho que pode ser uma discussão interessante. Senhoras e senhores, teclados a postos, e vamos lá!


"Matem este RPG! Agora vou assistir minha novelinha..."

Acho que hoje em dia, em pleno início do séc. XXI, nós, RPGistas-nerds temos como principal ferramenta de qualificação a internet e a crítica alheia. Pode parecer estranho, e eu falando desse jeito parece uma atitude altamente preguiçosa, mas eu mesmo já conheci e norteei minhas considerações a respeito de RPGs a partir de resenhas que encontrei pela net. Bem ou mal, é humanamente impossível acompanhar todos os lançamentos que os EUA produzem dos mais diferentes, variados e alguns até mesmo bizarros títulos produzem. Coisas antigas ganham remakes, novas edições, erratas e reconsiderações, enquanto cada vez mais coisas novas do mainstream ao indie chegam disputando o mercado com unhas e dentes com marcas já consagradas. Vivemos um tempo de mudanças em que pela primeira vez em quase 40 anos D&D não é mais o título mais vendido do mercado (para quem não sabe, a Paizo vive subindo e caindo da pole position com seu Pathfinder. Mas agora parece ter se mantido). Assim, é plenamente natural, como em muitos outros ramos, como o cinema, a impressão de que só duas pessoas no mundo inteiro parecem escrever suas críticas, enquanto toda uma Internet "copia e cola" com algumas remexidas aqui e ali. Não custa lembrar, embora esteja mais moderada hoje, tivemos um maremoto mundial anti-D&D4th, e agora parece que a Wizards conseguiu dividir um barco que já não ia bem criando seu retrógrado Essentials.

Uma máxima que circula bastante em nosso meio é a de que "O que torna um RPG bom é o grupo em que se joga". Isso pode até ser bem verdade, mas é muito relativo, pessoal, e praticamente invalida um critério muito preciso, já que um grupo pode muito bem pegar o bicho de sete cabeças crítico que é GURPS, fazer uma campanha imensa muito maneira, ou transformá-lo numa seção chata pra diacho de contas e considerações mecânicas infundadas, abstratas e... Chatas. Bom, esse último já aconteceu comigo, mas nem por isso cheguei a pegar birra com o sistema. Quanto a este detalhe, creio que seja um fator relevante também. 3D&T (e seus infinitos derivados) é muito criticado por apresentar uma mecânica extremamente simples, o que atrapalha muito em horas em que uma necessidade maior é desejada. Por outro lado, regras extremamente complexas, que fazem parecer que deveriam incluir um aviso de "Tenha um mestrado de Engenharia RPGística antes de ler este livro" também desanimam bastante. Os exemplos disso com que tive contato até agora, são dois RPGs em que tinha grandes esperanças: Robotech e Jovian Chronicles.

Introdução a GURPS com o Pato Donald!

Este ano de 2011 viu a explosão do universo martiano de A Song of Ice and Fire arrecadar milhões de dólares e fãs nas mais diversas mídias (ainda espero lançarem uma lancheira da linha). Seu RPG trouxe um sistema novo, bastante arrojado e muito elogiado por aí. Suas três indicações ao Ennie parecem traduzir bem isso, e imagina-se que seu sistema seja muito bem construído e acabado. Erh... Nem tanto. Quando fui comprar o livro pela Amazon, me surpreendi ao ver que alguns erros do livro chegam ao nível quase cômico. Entre terem esquecido de colocar um dos atributos de personagem na ficha (erro que jamais vi em RPG algum) e vários outros pormenores de regras, a errata/faq extra-oficial do RPG atingiu incríveis 21 páginas. Fato, grande parte dela nem é tanto de coisas erradas, mas FAQs mesmo (Frequently Asked Questions - Perguntas Feitas Freqüentemente). Algumas coisas que a Green Ronin achou que seriam óbvias, mas que os leitores não entenderam bem assim. E embora L5R 4th empate em indicações com apenas um livro (SIFRPG possui indicações tanto pelo seu livro básico quanto pelo seu guia de campanha), a nova encarnação de Rokugan também não fica muito atrás. Desentendimentos sobre duração de duelos com informações contraditória na MESMA PÁGINA, animais com Perícias copiadas erroneamente, uma ou outra Escola meio estranha e o persistente erro na indecisão da Glória dos monges parece ferir bastante a reputação da AEG como empresa séria.

Ou seja, embora tenham consideravelmente várias indicações ao Ennie (a saber, o mais indicado pela minha contagem ainda é Dresden Files: 6 indicações), eles ainda têm falhas consideráveis em seus livros. Isso desanimou os fãs? Não pelo que parece. A Green Ronin parece prosperar em seu SIFRPG, mas talvez mais graças à febre da franquia do pela sua qualidade, e em L5R, muita gente ainda continua preferindo edições passadas do RPG. Não necessariamente a 3ª. Mas nem por isso o design team aparenta abatido, mas certamente tem se mostrado mais feroz, com Mr. Shawn Carman escrevendo sua coluna online e o The Celestial Agonies cada vez mais ativo.

Não custa lembrar, a AEG também pecou bastante ao meu ver em seu 7th Sea. O sistema era genialmente fluido, permitindo muito facilmente a representação das emocionantes lutas de esgrima que víamos em Zorro ou nos Três Mosqueteiros. O RPG é um excelente capa e espada. Problemas? A começar pelo título. Conheci o RPG esperando algo sobre navegação e pirataria. 7th trata disso sim, mas em planos inferiores e com muito menor ênfase. Isso, combinado a mecânicas truncadas na evolução dos personagens, suplementos "caça-níqueis" e o total clima de desunião no cenário acabaram auto-destruindo Théah. Talvez por isso a AEG tenha preferido ressuscitar seu já destinado ao fracasso "Legends of the Burning Sands" do que 7th Sea.


E no polêmico embate nacional vs. americano? Por falar nisso, esses dias eu entrei numa discussão no orkut a esse respeito. Basicamente, um cara dizia que não valia comparar o que é feito aqui com o que vem de lá de fora por ser outro público, outro mercado muito mais vendável, e muito mais disputado. Meu contraponto era que os próprios EUA já editam seus livros pensando não só na repercussão nacional, mas como também em como o resto do mundo os receberá. Ora, D&D é vendido até mesmo em Japonês para ter idéia. E um desses mercados visados é nossa pátria amada, idolatrada, salve, salve. Não lembro onde li, mas o Brasil é (ou era) o segundo maior consumidor de RPG em formato de árvore morta, o que nos torna um alvo potencial para as editoras ianques. Ou seja, exceto para jogadores que morem em N. Sra. do Quiprocó de Judas, basta um cartão de crédito (ou algum conhecido que o tenha) e saber o idioma anglicano para se tornar um consumidor potencial dos títulos do Tio Sam. Os preços nem são tão díspares assim. O nacional é melhor porque é nacional? Bom, considerando que falar de Tormenta na blogosfera é pular de cabeça numa colméia, não vou tecer comentários a respeito. Mas aos defensores tupiniquins, nem tudo são trevas. A saber, Qin é um RPG genial, e é FRANCÊS (embora seja ambientado na China). Ou seja, nem tudo que é bom vem de lá de cima (e o Norte nem é o lado de cima). E também não tem desculpa de não produzir RPG bom só porque não nasceu nos EUA.

Bom, acho que já fiquei confuso o suficiente em relação às possibilidades apresentadas. Afinal, o que é determinante para considerarmos um RPG como " ruim"? Críticas negativas? Sistema inadequado (com muita ou pouca complexidade ou totalmente inadequado mesmo. [cof] Oriental/Swashbuckling Adventures [cof])? Arte ruim? Eu ainda acho que qualquer um deles pode dar a impressão de que o negócio é ruim mesmo. Às vezes, até mesmo algo mal jogado pode causar esta impressão também. Agora é com vocês... Para vocês, o que torna um RPG ruim? Já tiveram alguma experiência que já os fizeram ter vontade de queimar todos os livros deste RPG?

Um comentário :

  1. Chego mais que atrasado a discussão, mas realmente é uma questão interessante essa do que faz um RPG bom ou ruim - ambos podem ser igualmente subjetivos e o rpgista que não encarou de peito aberto um sistema que acha(va) enrolado porque adora(va) a ambientação que jogue a primeira pedra.

    Sou saudosista das primeiras versões do L5R (joguei apenas a 1a) e 7th Sea, joguei ao menos uma campanha regular de Jovian Chronicles - e Mekton ainda por cima! - e jogo GURPS, Space diga-se de passagem, com amigos volta e meio nos fins de semana.

    Conheço também quem já tenha mestrado jogos longos - e bons apenas com o básico do AD&T (sim, do tempo em que sacanear seriado japonês ainda era o mote do jogo).

    Muita coisa depende do gosto e estilo dos envolvidos, até porque cenários diferentes podem requerer sistemas de detalhamento diferente.

    Mas em geral eu não confio muito em resenhas se não puder ver algo do sistema em si. :-P

    ResponderExcluir

Leia Também:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...