19 de janeiro de 2012

As Crônicas das Terras Longínquas: Coração de Aço


Olás, olás e mais olás.

Bom, as postagens estão ficando realmente raras esses dias. O lado ruim é que assim deve continuar. O lado bom é que pelo menos todo o suór, lágrima, fôlego e fosfato gasto lá no meu emprego devem render bons espólios nérdicos mês que vem. Ou assim espero eu, pelo menos.

Quanto às Terras Longínquas, sim elas devem continuar sim, por pelo menos ainda mais um post. Ainda falando também sobre o "outro lado" dos Reinos. Se vamos ou não falar do que está "do lado de cá", é outra história. Creio que eu tenha algum talento na criação de vilões, e minha dificuldade com herois é pra lá de óbvia. Ainda assim, o barco segue.

Fora isso, gostaria de sugerir a possíveis comentadores que também sugiram sobre aquilo que eu deveria estar fazendo no momento. Reportando sobre a mais que badalada 5ª edição de D&D, falando de L5R (o novo arco do card está cheio nas novidades), ou algo que já tem me incomodado para ser criado há algum tempo: um artigo fan-made criando a mitologia tupi para Scion. Ou talvez continuando a me matar de trabalho porque assim produzo menos besteiras.

Para leitores do último post da série, a história começa meio que onde a anterior parou. Quer dizer, um pouco antes. Antes do fim, mas não no meio da história bem... Ahn... Estaria por ali no meio do caminho entre o meio e o fim. Mais pro fim que pro meio... Enfim, leiam e descubram.

Houve um dia, que constará na história de Al-Harzik como o dia mais negro entre todos os dias negros. Um dia em que a prepotência de um eladrin, confrontada ao orgulho anão, produziu algo que os Reinos ainda temeriam pelos séculos a vir. Sagariel, antigo príncipe herdeiro de Mirandel, filho mais amado da Casa Mirange, se aliou a Charchadrax e se tornou seu Príncipe Negro mais célebre, poderoso e odiado. Todo anão facilmente citaria este dia como o dia que mais gostariam de apagar da história da Terra. Talvez alguns ainda apontem o dia em que Charchadrax foi expulso dos Céus, e caiu na Terra, criando uma fenda dimensional da qual o Inferno paria. Mas talvez um anão lamentasse um outro dia ao aniversário do Sumo-Sacerdote de Charchadrax. Para Kriggel de Jyordah, o mais negro dos dias negros, seria o dia anterior a este.

Kriggel sempre esteve nas margens das páginas dos livros de História, como nota de rodapé de uma família já às margens da História de Al-Harzik. Seus ancestrais foram de grande valor na Primeira Guerra, mas isto foi mudando com o passar das gerações. Assim, Kriggel ganhou sua posição de Krordeneisen praticamente por hereditariedade do que por merecimento propriamente dito. Mais fascinado pelas artes do que pela guerra que nunca vira pessoalmente, Kriggel acabou despertando o interesse de outra nobre, de uma outra casa. Svenna da Casa Kol era uma anã de gosto refinado, igualmente amargurada por ter nascido com uma alma sensível em meio a um povo de brutos guerreiros cuja nobreza quase beirava a absoluta barbárie. Kriggel se tornou muito amigo de Svenna, e com o tempo, amizade germinou amor. Mas não é de bom tom em qualquer corte de qualquer reino de qualquer raça que dois nobres indignem suas famílias com relacionamentos que os mesmos não aprovem. Sendo a Casa Kol muito mais prestigiada que os Jyordah, algo precisava ser feito. Tentando ajudar seu irmão, Krinn, irmão mais novo de Kriggel, usou seus contatos e recursos para comprar favores reais por Kriggel, fazendo com que justamente ele viesse a ser o próximo Krordeneisen a ser escolhido pelo Rei Jerhah para a próxima missão que concebesse. Este veio a ser a "lição de humildade" que deveria ser passada a Sagariel de Mirange, o resplandescente príncipe eladrin. Tudo parecia extremamente fortuito. Kriggel venceria facilmente o combate contra um magricelo quase nu, ganharia os favores reais e cresceria facilmente na corte para poder pedir a mão de Svenna.

Mas o destino tinha outros planos, e todos sabem o que ocorreu. Aconteceu que nos dias seguintes, enquanto Sagariel fazia pactos profanos contra o maior inimigo dos Reinos, Kriggel viu sua vida inteira desmoronar à sua frente. Nobre algum tinha respeito por ele. Os pais de Svenna proibiram qualquer aproximação dela à Casa Jyordah. Coincidentemente ou não, o mesmo Krinn de Jyordah conseguiu comprar favores suficientes por glória na Fronteira para conseguir a mão de Svenna. Talvez fosse coincidência, ou talvez seu irmão fosse uma víbora traidora a quem ele tinha como amigo. Em meio a tantas meias verdades, apenas uma real verdade crescia na mente e coração de Kriggel: Ele estava se tornando um fantasma do que já fora. A pena e o papel perderam a graça. Tudo que seu coração conhecia era o ódio. Pela estrutura social que tinha que obedecer; aos seus pais, que pareciam apenas tolerar sua odiosa presença depois de sua derrota; aos pais de Svenna, que a tiraram dele; ao próprio irmão.

Foi então que numa fatídica noite, Kriggel decidiu facilitar a vida de todos, e subiu à murada do castelo de sua família. A jornada até o fim do precipício pareceria um passeio em relação a outro amanhecer naquela situação. Foi então que uma voz o chamou de volta. Ele não teria ligado, se não fosse surpreendido pelo tom de voz de um tenor. Não havia meio de Kriggel esquecer aquela voz. Era o arquiteto por toda essa destruição. O mais odioso dos nomes mortais: Sagariel.

Kriggel virou com sangue e fúria nos olhos, e seus punhos apontavam para o eladrin uma arma imaginária. Sagariel vestia uma armadura com detalhes em obsidiana, e seda preta que parecia a noite. Kriggel o xingou com todo o vigor, impulsividade, criatividade e rancor que todo aquele sofrimento lhe permitia. Mas Sagariel, embora estivesse armado, sequer tirou o sorriso de seu rosto, e ironizou. "É bom ver que o dom da poesia não se perdeu para você, Kriggel de Jyordah."

"Achei que vocês eladrins fossem sábios. Você está numa fortaleza anã, imbecil. Basta um alarde meu, e aço choverá sobre sua cabeça até que só sobre uma poça do que você já foi exista para que eu cuspa nela."

"Sim, de fato. Estou ciente disso," disse o príncipe eladrin, criando um banco de pedra negra onde se sentou, confortável. "Mas você não vai fazê-lo."

"Tente-me, maldito. Por favor."

"Sei que não vai, porque sei que é inteligente. Bom, façamos um trato..."

"Um anão não faz tratos com sua laia, traidor!" Interrompeu Kriggel, e pôs-se a caminhar com passos fortes rumo à atalia, quando preparava um grito, as palavras de Sagariel o fizeram parar.

"Seu irmão ainda é um anão, Kriggel?" Kriggel pareceu petrificado. "Eu vi o que ele fez com você. Vi o que ele fez com sua família. Não preciso descrever, não é? Imagino que seja... Como é mesmo a palavra em seu idioma? Ah, sim. Doloroso."

Kriggel não ousou dizer nada. Apenas olhou para Sagariel. Aquele olhar dizia que as próximas palavras de Sagariel decidiria se ele sairia dali ainda vivo. "Não é necessário que me diga o que pensa ou sente. É evidente. É óbvio que ele não fará Svenna feliz. Ele provavelmente ainda gasta o dote dela com rameiras da pior qualidade, enquanto isso, sua família o louva por destroçar crânios de goblins indefesos diante do colosso da armadura que é... Bem, se me permite, sua por todo o direito. E tudo isso mesmo tendo vendido o bom nome dos Jyordah em toda essa rede de mentiras e ardis."

"O que você quer aqui?" Perguntou Kriggel, bufando entre as palavras.

"Esta é a pergunta errada, meu amigo. A pergunta é 'o que você quer?'. Você quer corrigir o passado. Quer Svenna. Quer fazer Krinn pagar pelos crimes que cometeu. Quer sua honra de volta."

"E você vem até aqui oferecer um trato para que eu os obtenha em troca da minha alma? Hah. Faça-me rir, capacho do Deus Negro."

"Não. Vim aqui entregá-lo um presente que o permitirá não só recuperar tudo isso, mas fazer ainda muito mais." Com um sinal de seus dedos, dois dragões negros do tamanho de cavalos voaram pelos muros do castelo, e pousaram lentamente carregando um colosso de aço e obsidiana. "Estive estudando a cultura e engenharia anã por anos antes de visitá-lo pela primeira vez. Sua armadura de Krordeneisen era realmente uma obra prima. Que, modéstia à parte, tomei a liberdade de melhorar nesta segunda versão. Se desafiasse o próprio Rei Jerah com ela, creio que qualquer camponês poderia vencê-lo facilmente. Este é meu presente para você, amigo Kriggel. Use-a. Desafie Krinn. Tome o que é seu de volta."

Kriggel ficou admirando a armadura por alguns momentos. E o eladrin parecia estar certo. Runas mágicas pareciam fortalecer os pontos fracos mais conhecidos de qualquer armadura, compensando fraquezas e ampliando forças a níveis inimagináveis. Qualquer legião que o Deus Caído mandasse à Fronteira seria dizimada por aquela armadura apenas. O eladrin certamente fizera um péssimo acordo, mas quando se virou para respondê-lo, nem ele, nem os dragões, nem mesmo o seu banco de pedra negra estavam lá. Mas pela primeira vez em meses de amargura, Kriggel riu em alto e bom som.

Os fatos históricos se tornam nublados nesta parte da história. Sabe-se que um Krordeneisen apareceu na mesma noite de lua minguante destroçando a guarda do castelo Kol. Sabe-se que ele empalou Krinn como se seu Krordeneisen nada representasse, sacudindo-o no ar enquanto ele jorrava sangue e tripas, numa brincadeira horrenda. Sabe-se que ele agarrou sua esposa, e a arrastou pelo castelo aos prantos, sumindo no meio da mata à noite. Apenas divaga-se se isto está relacionado com o surgimento de uma visão apavorante que os veteranos da Fronteira contam, de um demônio do tamanho de um Krordeneisen, com armadura feita de aço reluzente e obsidiana e runas eladrins. Que quando enfrentado emite apenas urros de dor e ódio, e que, quando olhado de perto, pode-se distinguir um assombroso rosto de uma jovem anã, quase que como um fantasma, gemendo enquanto seu vulto se contorce pelos detalhes da armadura. Os dois gritam, os dois sofrem. Todos temem. Seja lá aquilo o que for.

E Charchadrax fez de Kriggel de Jyordah seu Príncipe Negro do Amor.

4 comentários :

  1. Uau, adorei. Fiquei até arrepiada no final. Seu talento para criar vilões é mesmo impressionante, Hayashi, e eu aposto que seus heróis serão ótimos também. Por favor não pare de escrever sobre as Terras Longínquas!

    Tenho que admitir que fiquei com dó de Kriggel e de Svenna. Gostei muito do título de Kriggel, "Príncipe Negro do Amor". Muito legal mesmo!

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  2. Obrigados costumeiros, Astreya.

    Bom, sinceramente, confesso q ainda nem pensei nos heróis. Tenho vagas idéias a respeito dos outros Príncipes Negros restantes (na verdade, só resta uma Princesas Negra restante, provavelmente pra não deixar a Zora ser a única mulher no meio dos marmanjos). O q me incomoda é q não tenho NADA pensado ainda a respeito dos ditos cavaleiros de armaduras reluzentes e lindas camponesas que saem todas as tardes colherem flores nos bosques. Isso acaba me fazendo recuar um pouco ao escrever. Odeio ficar sem idéias afinal. E enquanto novas não surgem, economizar munição pareceu uma boa idéia... Enfim...

    Sobre o processo criativo das CTL, uma confissão minha: Apenas o conceito geral dos personagens citados até agora fica na minha cabeça antes de passar pro teclado. E tudo é escrito praticamente de uma vezada só. Sem Word, sem deixar para ler no outro dia para ver se ficou legal ou não. Sem ensaio, sem rede de segurança. Tudo na primeira ventada. Confesso q tenho andado meio p da vida com algumas coisas, e q isso, feliz ou infelizmente me ajuda a escrever melhor, mas não é legal. Pelo menos pra mim, não é. XD

    O título do Kriggel me fez lembrar q os outros Príncipes Negros tiveram seus títulos sumariamente esquecidos pelo autor incompetente. A saber, os títulos de cada Princípe Negro:

    Sagariel de Mirange (Príncipe Negro do Orgulho e Sumo-Sacerdote de Charchadrax)
    Zora de Sarel (Princesa Negra da Fúria)
    Kriggel de Jyordah (Príncipe Negro do Amor)
    e Waleska "Ruiva" dos Mares Altos (Princesa Negra da Ambição)

    Sim, essa última ainda não apareceu. Mas estejam certos de que não falta muito para ela aparecer. E depois se lamentem novamente em mais uma história corta-pulsos das CTL.

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  3. Nossa, Hayashi, se você escreve todas essas coisas de uma vez só e nem revisa, eu tenho que dizer que seu talento me assombra mais ainda... Os textos estão muito bons mesmo. Pelo menos a desvantagem de você estar zangado com algo está lhe trazendo alguma coisa de produtivo... mas sinceramente espero que os motivos que o deixam incomodado sejam exterminados em breve e você continue a escrever em paz =D.

    Estou ansiosa por saber a próxima história "corta-pulsos"...

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  4. Costumava ter ideias sobre frases soltas q poderiam ficar legais neste ou naquele texto enquanto andava de ônibus tb. Agora q estou dirigindo, realmente isso tem acontecido menos. Mas, tendo algo ou não relacionado, pelo menos dirigir me ajuda a escrever mais. Grande parte das ideias do ônibus ficaram... No ônibus mesmo.

    Bom, o negócio de escrever chateado é estranho mesmo. Basicamente, é bom estar feliz (óbvio). Mas aí eu mesmo começo a me culpar por não estar produzindo nada. Aí alguma pedrada me atinge e eu fico p da vida por causa disso... Mas, reconheço. Meus textos melhoram exponencialmente nesse estado. Então, ainda não sei se isso é algo bom ou ruim. XD

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