9 de dezembro de 2011

Fiction: Estado dos Clãs, Parte 2


Olá a todos!

Enquanto definitivamente não ando conseguindo reunir tempo livre com inspiração para escrever algo legal, prosseguimos um pouco com as fictions traduzidas de L5R.

Devo confessar que elas estão ficando cada vez mais difíceis de traduzir. O texto está ficando maior, quase me impedindo de fazer tudo "numa leva só". Ou seja, não estranhem se eu subitamente desanimar no meio do caminho.

Hoje, ficaremos sabendo como ficaram os clãs Caranguejo e Escorpião depois do Quiprocó dos Destruidores.


Estado dos Clãs, Parte 2
Por Yoon Ha Lee
Editado por Fred Wan
Tradução de Thiago Hayashi

Não muito depois da Guerra dos Destruidores…
Era outra manhã triste acampada na sombra das ruínas da Muralha, mas não seria a última de Hida Reiha. Ela podia ouvir o ruído dos passos dos guardas na lama, os gritos agitados dos pássaros, o estalar da chuva. Chuva em seus olhos. Chuva em seu cabelo.

De pé no perímetro do acampamento, ela pensou na água. Ela pensou na história de Kuni Osaku e o Maw, que ela conhecia mais do que qualquer outra história, mesmo as que eram sobre Hida. Alguém deve ter contado a ela pela primeira vez, mãe ou pai ou primos há muito mortos, mas ela também poderia ter nascido com a história amarrada em seus ossos.

O Maw tinha uma sombra repleta de soldados e dentes afiados de terror. Desimpedidos, eles poderiam marchar pelo Caranguejo e destroçado todo o resto de Rokugan, escuridão causando escuridão. Mas uma shugenja, Kuni Osaku, levantou uma muralha de água para deter sua horda. Por vinte e sete dias ela sacrificou os anos de sua vida enquanto engenheiros do Caranguejo construíam uma Muralha mais duradoura. E então, esvaziada pela prece, vinte e sete anos mais velha, ela morreu.

O sacrifício de Osaku não incomodava Reiha. Ela sabia para que servia a vida de um Caranguejo. Não: o que ela não podia suportar era a dor da facada de sua falha. O Caranguejo aqui e agora falhou para com Osaku e todos os construtores dos muros, falhou com seus ancestrais, falhou com a própria Rokugan.

“Reiha-sama.” Era um guarda Hiruma. “Uma delegação de Escorpiões está se aproximando. Dez deles. Eles pedem para falar com você pessoalmente.”

Reiha olhou em volta: céu cinzento, tendas cinzentas, luz cinzenta rachada em poças de chuva. Ela tinha a maior tenda, o suficiente para encontros. Lá não haveria manuais bem caligrafados de estratégia, nem jogos de go, nem doces de feijão. Ela era uma Caranguejo. Ela não esperava tais coisas. Suas visitas podiam discordar, mas isso não poderia ser evitado. Após tudo o que aconteceu no último ano, ela não estava propensa a luxos.

“Permitirei,” disse Reiha. “Mande alguém fazer chá, não me importa de que tipo.” Foi uma piada, e o Hiruma riu antes de se conter. O único chá que tinham por hora era um de baixa qualidade que algum mercador tinha poupado. Havia dúvidas se água lamacenta teria um gosto melhor.

A delegação logo chegou. Dez Escorpiões, sóbrios e toxicamente belos em vermelho e preto, mas isso era normal. Não surpreenderia Reiha se outro Escorpião se esgueirasse por algum outro lugar; os guardas já sabiam que deveriam estar duplamente alertas. Um alto bushi de face fina segurava um guarda-chuva sobre uma mulher no centro. Reiha notou que o guarda-chuvas não pelo seu estilo de fitas e penas escandalosamente colorido, mas porque suspeitava que era uma arma.

A mulher usava uma máscara que Reiha nunca vira antes, cordas pretas intrincadamente trançadas com miçangas de jade esbranquiçada. Os olhos e roupas, porém, eram inconfundíveis. Bayushi Miyako veio vê-la em pessoa.

“Eu poderia dar-lhe um elaborado discurso de boas-vindas,” disse Reiha, curvando-se, “mas por que apenas não saímos da chuva?”

Miyako inclinou sua cabeça. “Não tenho objeções,” ela disse.

Reiha entrou primeiro na tenda de comando. Os guardas da tenda olharam para ela, pétreos, e então olhara para a Escorpião. Ela olhou de volta. “Uma visita,” ela disse curtamente. “Seus guardas podem dividir seu dever com vocês.” Todos entenderam que isso significava que os guardas passariam o tempo todo olhando uns para os outros, atentos a cada chance de movimento.

OS guardas olharam para os Escorpiões de novo, mas não contestaram a ordem.

Dentro da tenda havia uma mesa pequena, bela se beleza fosse meramente medida por termos funcionais, e dois copos crus com chá fervendo. Isso era tudo.

Miyako se sentou depois de Reiha. “Você sabe meu propósito aqui,” ela disse com sua voz calma. Ela não tinha que elaborar sobre as portas do Jigoku que agora havia nas terras do Escorpião, ou porque ela pediria ajuda ao Caranguejo com ela. Ela sorveu o seu chá e não deu a Reiha a satisfação de parecer agradada pelo seu gosto. “Mas antes de começarmos, desejo lhe oferecer uma prova de nossa apreciação.” Ela retirou um pergaminho da manga de seu kimono.

Reiha sabia perfeitamente que ela deveria arranjar uma recusa delicada. O que saiu foi um grunhido.

Quando Reiha pôde confiar em si para falar mais ou menos civilizadamente, ela exigiu, “Escorpião, você acha mesmo que precisa dar a uma Caranguejo um presente para ela fazer seu dever?

“Não,” disse Miyako levianamente. Seus olhos encontraram-se com os de Reiha, firmes. “Sei que o Caranguejo não guarda o Império por esperarem qualquer coisa tão efêmera e tacanha como gratidão. Vocês guardam o Império porque é de vocês e deve ser feito.”

“Bem,” disse Reiha, apenas um pouco amolecida, “ao menos você entende alguma coisa.”

“Vou tomar isto como sua primeira recusa, então,” disse Miyako, com um pouco de humor negro. Reiha estava impressionada com sua habilidade de achar graça na situação toda. “Reiha-san, talvez você não precise de agrados, mas facilitaria meu raciocínio se você aceitasse minha oferenda.”

“Não,” disse Reiha, determinada a encerrar o ritual o mais cedo possível.

Miyako talvez sorrira por trás de sua máscara. “Mais uma vez, então. Disseram-se que os Caranguejos são pessoas práticas. Não lhe trago uma bela nemuranai que invoca cascadas de borboletas vivas, ou um antigo obi tecido por mãos Doji. Trago-lhe algo prático. Por favor, Reiha-san, leia o pergaminho. Você não se arrependerá disso.”

“Muito bem,” disse Reiha. Ela esperava que o papel criasse dentes e lhe mordesse a garganta, mas certamente que se a Campeã do Clã Escorpião quisesse assassiná-la, haveria lugares mais seguros para fazê-lo do que no meio de um acampamento do Caranguejo. Mesmo assim, ela abriu o pergaminho.

O manuscrito era feito de belo papel, tecido com pétalas secas e filamentos de seda. Reiha imaginou porque Miyako correra o risco. Então ela começou a ler. Ela chegou no fim, e então leu as palavras de novo. Ela não era especialista em caligrafia, mas parecia errado que palavras tão diretas fossem escritas por mãos tão graciosas, com cada pincelada perfeita.

A Escorpião estava oferecendo à Caranguejo a total cooperação dos Kuroiban e o irrestrito compartilhamento de informação em questões relacionadas à Mácula ou maho. A palavra “irrestrito” se destacava como se tivesse sido escrita em letras maiores e vermelhas.

Reiha entendia que um presente de informação de um Escorpião era ou um ato de desespero ou manipulação. Neste caso, provavelmente ambos. Ela pensou sobre isso por um momento. O Escorpião não tinha muito o que oferecer em termos de ajuda material por agora, especialmente quando eles é que precisavam deles, e embora provavelmente tivesse material de chantagem e inteligência em todo clã do Império, o Caranguejo tinha outras questões para lida do que com políticas tolas. Talvez eles ofereceram isso porque foi tudo o que puderam pensar que entreteria o Caranguejo.

Ou talvez fosse simplesmente porque queriam ajudar o Caranguejo a ajudá-los.

“Tive que discutir muito sobre isso,” disse Miyako. Suas costas estavam muito retas e suas mãos repousavam na mesa entre elas, magras, calejadas e fortes. “Mas minha vontade é a vontade do Escorpião, e eu prevaleci.”

“Não me interesso muito pelo que você teve que fazer,” disse Reiha secamente. “Mas, muito bem. Sua oferta é aceitável.” Ela pausou, olhando para a outra mulher por olhos apertados. “Como se supõe, já pensei consideravelmente sobre o problema. Presumo que seu poço esteja ao menos vigiando, ou intensamente guardado como deve estar.”

“Fizemos o que pudemos,” disse Miyako.

“Em todo caso,” disse Reiha, “nós duas sabemos que você precisa de uma muralha. Ao menos você sabe quem procurar para uma.”

“Não uma muralha,” disse Miyako. “Duas.”

Reiha se inclinou para trás, considerando. Considerando, e então rindo. “Explique.”

“Duas muralhas, e duas razões. Primeira:” disse Miyako, “para permitir resposta para invasões, preciso de um ponto de encontro próximo ao poço infernal propriamente dito. Um vilarejo fortificado, digamos. Segunda: temos em nossa custódia um pequeno grupo de samurais Maculados. Estou-” ela disse bem precisamente “-relutante em enviá-los aos cuidados do Dragão, quando o Escorpião pode se beneficiar imediatamente de tropas sacrificiais para linha de frente. Tal vilarejo seria uma residência apropriada para eles.”

Reiha pensou sobre as palavras. “Você quer uma muralha externa e uma interna, e um vilarejo no meio. A muralha externa para proteger o Escorpião dos olhos do Império, e a interna para proteger o Escorpião do poço em si. Fazer com que as duas pareças duas muralhas internas. Todos esperarão que haja uma muralha interna, logo vocês poderiam também construir uma adicional e esconder o vilarejo entre as duas muralhas internas.”

“Você entendeu minhas intenções exatamente.” Miyako olhou para o chá, e o terminou com três goles rápidos.

Seria quase impossível. Pelo ponto de vista estritamente estratégico, ela concordava com a necessidade do proposto ponto de ação. Mas ela esperava um bom senso estratégico de uma ex-Legionária Imperial.

“Você entende,” disse Reiha, “que tal empreendimento não seria aceito com aprovação pelo resto do Império.” Ela entendia as complicações da construção do trabalho; ela entendia que observadores perceberiam certas inferências pela quantia de pedra e argamassa transportada, quantidade de terra escavada, os planos envolvidos. “Pela escala que você fala, você precisaria da ajuda de shugenjas para preservar o sigilo.”

“Posso fornecer shugenjas,” disse Miyako. Ela estava pálida perto dos olhos, mas composta.

Hida Reiha pensou se seria um terrível dia quando o dever do Caranguejo envolveu a construção de muros dentro do Império, para conter a corrupção em seu coração, ao invés de na fronteira do Império, para manter a corrupção longe. Ainda assim, não havia outro jeito se não lidar com o poço infernal onde ele estava, ao invés de onde ela preferia que estivesse.

Reiha pensou, também, em seu irmão lhe contando que não havia nada a fazer além de aceitar o edito da Imperatriz abraçando a Aranha, e aceitando-a parcialmente apesar da luta contra a Mácula. Seu próprio irmão, após anos que passaram lutando juntos contra as trevas. Ela não podia fazer nada sobre o edito; ela tinha que ao menos concordar com o seu ponto de vista. Mas isso não queria dizer que havia outras coisas que não pudesse fazer pela defesa do Império que a Imperatriz tão voluntariamente erodia.

“Sim,” disse Reiha, e de novo, “Sim. Vou ajudá-la.” Ela sorria friamente.

Bayushi Miyako não sorriu, mas curvou-se com a cintura.


*

Treze anos depois…
Kurumi, não mais Bayushi, acordou duas horas antes do nascer do sol, como todos os dias pelos últimos vários anos. Havia muito pouca luz. Ela vivia numa pequena tenda sozinha, o que camponeses e etas chamariam de luxo. No seu caso era uma punição.

Cuidadosamente, ela rastejou até uma vasilha e lavou seu rosto em água tépida. Próxima à vasilha estava uma caixa perolada que outrora continha cosméticos aromáticos e o ocasional veneno. Os cosméticos acabaram anos atrás. Agora ela guardava sua máscara nela.

Toda manhã, ela desenrolava a máscara e a segurava nas mãos, pensando sobre falsas faces e deuses caídos e no Bosque do Traidor. Então ela a enrolou e a colocou debaixo da bandeja, e pegou uma simples escova de madeira para pentear o cabelo. Ela já teve uma de casco de tartaruga entalhada com chifres, mas ela a penhorou nove anos atrás por arroz e lenha. Algum dia ela teria que penhorar a caixa também, mas ela imaginava se poderia guardar a máscara, como uma algema, até o dia da sua morte.

Beleza era uma arte, e embora Kurumi não mais usasse o kimono de seda brocada ou prendedores com joias em seu cabelo, ela ainda era bonita. Ela não cortaria o cabelo ou deixaria o rosto sumir após uma semana de fuligem e sujeira. Kurumi fazia questão de fazer os rituais de beleza mesmo agora, não por esperar lucro deles, mas porque Bayushi Miyako a enviou para cá como uma oferta de sacrifício. Kurumi queria garantir que o Caranguejo jamais esquecesse quem ela era ou como ela traiu o Império. Ela sabia qual era a sua vergonha; ela recusava-se a escondê-la.

Não era bravura — ela viu os ferimentos com que bushis do Caranguejo voltam da Muralha — mas foi o que ela deixou.

Ela se vestiu lenta e cuidadosamente em tecido sem costura. Era difícil amarrar o obi direito às vezes. Os interrogadores Kuni não deixaram cicatrizes depois da primeira vez que ela veio ao Caranguejo, por ordem de Reiha, mas mesmo agora ela sentia terríveis dores. Ainda assim, ela levantava cedo e demorava-se para fazê-lo direito.

Para o desjejum ela comia dois bolos de arroz amarrados em folhas, que ela preparava na noite anterior. Ela não gostava especialmente do gosto das folhas, mas comida era comida e ela não estava em posição de escolher. Para o almoço, ela amarrava mais bolos num saco. Ela ainda tinha doces do festival da semana passada no vilarejo e ainda não se decidira se deveria comê-los. Luxos eram escassos, agora.

Kurumi se amarrou num casaco — outono estava começando a ficar sério, e ela sentia o frio precisamente — e caminhou para fora, com o saco amarrado. Ela se prostrou perante o vigia Caranguejo. Hoje era uma mulher. Sempre eram. O nome dela era Kaiu Raku, e ela vinha aqui a serviço quase duas vezes por ano. Ela era pequena para um Caranguejo, mas atleticamente musculosa e facilmente mais alta que a própria Kurumi.

A expressão de Raku foi a de familiar contentamento paciente. Após um momento, ela fez um barulho de insatisfação, e Kurumi sabia que era seguro se levantar.

“Não estou fazendo isto para seu benefício,” Hida Reiha disse a ela todos esses anos atrás, quando ela explicava os acordos que fizera pela vida de Kurumi.

Kurumi se ajoelhou diante dela, cintura amarrada por grossa corda. Ela ainda sentia fortes dores do interrogatório do Campeão de Jade, e a Campeã do Clã Caranguejo poderia estar falando sobre o pior sakê que já bebeu ou dos jogos que seu filho brincava. Apenas depois as palavras fizeram sentido para Kurumi. Em sua maioria, ela estava ciente da dor e do fato que ela não usava máscara. Ela a achou amarrada em seu obi depois e pensou na estranha consideração.

“Se fosse apenas você,” continuou Reiha, “sua existência contínua não teria valor. Seria tentador usá-la para alimentar um oni, mas é claro que somos as últimas pessoas que deveriam fazê-lo. A verdade é que estamos criando uma geração de Caranguejo que não conhecerão-” Ela parou. Pela nuvem de dor, Kurumi pôde notar a rudeza na voz de Reiha.

“A vela está se apagando,” disse Reiha após um momento, o que também não fazia sentido. “Logo haverá Caranguejos que crescerão sabendo que a Aranha sempre foi, em suas vidas, um Clã Maior. Logo haverá Caranguejos que pensarão que uma Muralha no Escorpião tão normal quanto no Caranguejo. Outros clãs podem vencer e perder suas guerras patéticas uma geração após a outra que não importa. Nós devemos vencer nossa guerra em toda geração, várias vezes, ou Rokugan estará cheia de poços e não haverá mais Império.”

“O que quer que deseje de mim, eu darei, Hida-sama,” coaxou Kurumi, ciente de que apenas esse tipo de resposta era requerida dela.

“Viva,” disse Reiha em voz como gelo e ferro. “Viva para que alguns Caranguejos conheçam o preço da falha, alguns mais antes que a vela se apague e meu filho herde estes destroços. Viva.”

Kurumi pensou muito nas palavras de Reiha enquanto dormia. Ela gostaria de dizer que o dilema do Caranguejo a mantinha acordada à noite, mas a verdade era que ela geralmente estava tão cansada que dormia tão logo se deitasse.

Em todo caso, o Caranguejo a guardava, não porque qualquer um deles se importasse se ela estava viva ou morta, mas para que eles pudessem olhar para uma das pessoas que libertou Fu Leng. Às vezes eles vinham em grupos. Às vezes eles diziam coisas terríveis a ela e ela suportava em silêncio. No princípio, Kurumi desejava que um deles deixasse sua raiva explodir e encerrasse sua vida miserável rapidamente, esmagasse seu crânio com um tetsubo ou ono ou uma simples rocha, mas embora zombassem dela, ninguém o fez.

Kaiu Raku não era gentil — ninguém era, e ela não tinha o direito de esperar gentileza alguma — mas sob o cuidado dela Kurumi sentia um tipo de pálido alívio. Raku era completamente justa, e nunca mostrou a ela qualquer particular crueldade. Enquanto ela escoltava Kurumi para o local de renovação, ela mantinha misericordioso silêncio.

No local de trabalho, Kurumi pegou sua pá e seu carrinho de mão. Ela sabia onde ir: mesmo agora, quando melhorias eram feitas na Muralha, havia muita sujeira a ser limpa. Suas mãos doíam com calos, e sua pele estava enrugada pelo vento e sol. No passado ela zombava dessas cosias. Ela passou por isso suficientemente rápido.

Ela trabalhava sozinha. Os aldeões raramente falavam com ela, mas em dias de festivais eles a deixavam se sentar na sombra de sua tenda, como um fantasma escrito em palavras de cansaço. Aqui, eles se chamavam e ocasionalmente cantavam em seu rude dialeto, ou ofereciam goles de sakê uns aos outros durante as pausas. Ela se acostumou com as cadências de seu trabalho.

Eles deram a Kurumi um trabalho difícil demais que pudesse soterrá-la. O Caranguejo a odiava, mas eram bons juízes de labor e odiavam o desperdício.

Suas costas doíam assim como seus pés mas ela não reclamava. Ela se familiarizou intimamente com os diferentes tipos de sujeira: as farpas que entrava, ou raízes enroladas, ou ocasionalmente pedaços de ossos velhos. Às vezes ela pensava que talvez gostaria de cultivar um jardim, plantar algo belo e cheiroso, mas em pensar em trabalhar ainda mais na terra já a impedia.

“Ele está te observando,” disse Kaiu Raku inesperadamente. Ela esteve vigiando tão alerta como se esperasse que goblins brotasse do cadafalso a qualquer momento; não que fosse uma preocupação incomum, baseada na experiência de Kurumi. “Ele não se aproximará, mas ele quer que você saiba que ele está te observando.”

Apesar de si própria, Kurumi se esticou um pouco e seguiu o olhar de Raku para uma das torres completadas. Em sua base estava um homem que ala só viu uma vez antes, menor que muitos Caranguejos: Hida Kisada, o Pequeno Urso em pessoa.

         Eu sou a face da falha, ela pensou. Olhe para mim, e aprenda.

O trabalho que fazia aqui era pequeno, e quando ela pensava no dever do Caranguejo era menor ainda. Uma coisa era construir muralhas de pedra e argila e ângulos agudos. Qualquer um pode fazer isso. Mas era mais importante construir muralhas ao redor das fraquezas do próprio coração. Kurumi sabia disso mais do que muitos.

O Caranguejo sabia disso há muito tempo, é claro; a Muralha foi feita de suas forças de vontade. Mas agora o Escorpião deveria aprender esta lição também.

Ela voltou ao trabalho, e quando o sol estava baixo e chegasse a hora do jantar, o Pequeno Urso teria ido embora há muito tempo.

______________
Fiction original em: State of the Clans, Part 2
Imagens retiradas de: L5R Search e The Kolat Informant (Hida Kisada será o Campeão do Caranguejo no arco "previewzado" no blog)

7 comentários :

  1. Muito legal essa fic. Eu desconheço quase todos acontecimentos após a nomeação da Iweko I e fiquei surpreso em saber que existe outro poço! Nas terras do Escorpião ainda!

    Obrigado por traduzir essa fic Hayashi, sei que não é fácil, mas com este trabalho você está ajudando bastante.

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  2. Concordo! Já faz eras que não lia nada sobre Rokugan e seus nobres clãs, e admito que estava com muita saudade (culpa minha por não ter vindo a esta nobre morada com mais frequência e tempo).

    Excelente trabalho, nobre amigo!

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  3. Obrigado, Elriolt e Odin.

    O lado bom e ruim de ficar fora da storyline por um tempo é q ela tem o péssimo costume de seguir essa proto-continuidade de super-comics. Um evento liga no outro, e por fim, para sabermos onde a história q nos interessa começa acabamos indo parar num longínquo "No princípio a Terra era sem forma e vazia e o espírito de Deus pairava sobre a face das águas".

    No caso, o Poço do Escorpião surgiu quando Kali-Ma (q faz jus ao nome, sendo "má" pra caramba) matou Fu Leng bem ali (isso mesmo. Sem mais nem menos). Daigotsu assume então o lugar do Nono Kami, e mata Kali-Ma em seguida (por sinal, herdando de tabela o XP do Fu Leng). O q é estranhaço nisso, é q pelo visto a Aranha passa a ser o único Clã com não só um Kami. Agora eles têm DOIS!

    E sinta-se à vontade para voltar e comentar com toda a freqüência que lhe agradar, Lorde Odin.

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  4. Humm, eu gostava mais do Aranha quando era um plano de infiltração em rokugan, tinha muito mais gosto. Mas vejamos o que será feito do tal filho do Daigotsu.
    Sei lá, parece que andaram puxando o saco cabuloso da Aranha, ou talvez os perdidos realmente tenham muito poder (o que dá c´redito ao fato da Iweko ter "convidado" os maculados a se juntarem aos conquistares, outra idéia na qual eu gostaria de ouvir mais.)

    Viu que já lançaram a capa do Imperial Histories Hayashi? Ta aqui: http://images.frpgames.org/products/product_80066.jpg (achei ela bonitona!)

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  5. Vi sim. Só não falei nada ainda a respeito dele. Talvez eu compre junto com o TGC, mas estou esperando para ver como vão ficar algumas coisas por aqui ainda (por exemplo, se L5R vai continuar a viver aqui em JF).

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  6. HAyashi...

    sou do Reduto do Bucaneiro!

    Me encontre no Face (Rafão Araujo) ou por e-mail, preciso falar com vc!

    Desculpe por usar area indevida!

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  7. Seu blog é sempre incrível, manolo. Parabéns.

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