8 de agosto de 2010

Contos de Rokugan (Parte 2,5): Rastros

Galera, infelizmente o tempo me é fugidio e este conto de longe não ficou tão bom quanto eu queria. Dada a urgência, ele vai como Parte 2,5 mesmo, enquanto a parte 3 não chega.

Por hoje, os Magistrados de Jade chegam a Mitsu Ama no Mura e algumas conclusões interessantes começam a surgir...

Contos de Rokugan (Parte 2,5): Rastros
“Deveras interessante, Niro-san,” observou Kitsuki Horai ao desmontar de seu cavalo. A estrada havia ficado para trás há algumas horas. Ao seu lado, estavam Ikoma Niro, magistrado da cidade de Mitsu Ama no Mura e Isawa Sageru, seu companheiro como magistrado de jade. Os dois foram chamados por Niro para investigar a misteriosa morte de dois samurais do Unicórnio em território fronteiriço às terras do Clã Leão. Horai prontamente identificou o local do assassinato, mesmo que houvesse pouco mais ali além de terra remexida por patas de cavalos há alguns dias. Sageru se mantinha montado, juntamente com Niro, ele parecia mais interessado em observar os arredores, como se pudesse ler escritos na linha do horizonte.

“A perspicácia dos Kitsuki não é injustificada, Horai-sama,” elogiou Niro, enquanto desmontava de seu cavalo, o gesto desacelerado pela idade. “O que pode nos dizer?”

“Lamento não poder ter vindo com a devida celeridade, Niro-san.” Horai pegou um pouco de terra e a deixou escorrer por entre os dedos, seu olhar era de quem examinava algo. “Nossa viagem até aqui
irremediavelmente teve que durar alguns dias.”

“Dias que certamente recuperaremos com trabalho árduo e digno de nossos emblemas Imperiais, Niro-san.” Completou Sageru. O shugenja se referia aos brilhantes crisântemos bordados em seus coletes verdes, da cor de jade. Por baixo deles, os dois magistrados trajavam as cores típicas de seus respectivos clãs. Sageru, o alaranjado e vermelho da Fênix, apenas com as bordas de suas roupas amarelas; enquanto Horai exibia um verde mais escuro, também com amarelo nas extremidades de suas mangas e nas bainhas e cabo de suas espadas. O crisântemo era o símbolo da autoridade do Imperador. Os dois estavam ali primeiramente como pessoas dignas de portar tal autoridade em nome do Trono, para o bem do Império. A Legião dos Magistrados de Jade era responsável pela investigação e execução de qualquer fenômeno sobrenatural que prejudicasse o Império. Resumidamente, podia se dizer que lidavam caçando Oradores de Sangue. Pessoas que corrompiam a magia típica rokugani, comunicando-se com os espíritos elementais corrompidos, os kansen, por poderes nefastos a custas de sangue. Normalmente alheio. Por vezes, porém, lidavam com casos apenas misteriosos, mas meramente naturais. A Família Kitsuki, do Clã Dragão era conhecida como os melhores investigadores de Rokugan, capazes de discernir mentiras e inferir pensamentos intrincados e precisos a partir de uma simples premissa. Numa terra onde a palavra valia mais que qualquer prova material, porém, este talento encontrava meios diferentes de funcionamento do que a maioria pode imaginar.

“Como eu dizia, nossa demora infelizmente atrasará minhas conclusões. Consigo determinar que os Unicórnios acamparam aqui. Vejo rastros de suas tendas, e se não estivessem com seus típicos cavalos, mal poderia ler seus rastros. Contudo, eles manobraram logo ali.” Horai indicou uma direção, ainda agachado. Niro pareceu admirado e tranqüilizado com o progresso da investigação.

“Niro-san, seus yorikis já cuidaram dos ritos dos corpos, certo?” Indagou Sageru, ao que Niro prontamente assentiu. “Algum deles poderia nos dizer onde os corpos estavam quando os encontraram?”

“Dificilmente, Isawa Sageru-sama. Até mesmo pelos relatórios, este é o ponto mais preciso que eles descrevem, mas Kitsuki Horai-sama já descobriu isto antes mesmo de lê-los.”

Sageru finalmente desmontou. “Tudo bem, Niro-san. Não será necessário. Se os corpos já receberam os devidos ritos funerais, isto não tem mais a menor importância.” O shugenja caminhou para mais perto do outro magistrado de jade, sondando o horizonte. “Imagino que ainda haja deveres que requeiram a atenção do magistrado local em Mitsu Ama. Não se preocupe conosco. Em breve o seguiremos e lhe entregaremos nossos relatórios.”

“Como quiserem, samas.” Respondeu Ikoma Niro com uma reverência. Ele montou seu cavalo, e com um rápido assentir, começou a cavalgar de volta à sua cidade.

Os dois magistrados esperaram alguns momentos, enquanto examinavam diferentes objetos no local.

“O que foi, Sageru?” Horai quebrou o silêncio. “O que foi que descobriu, mas que ainda não resolveu contar a Niro?”

Outra pessoa talvez se assustasse com a intuição de Horai, mas não Sageru. “Não é bem essa a pergunta correta.” Horai parou de fazer o que estava fazendo o que estava fazendo e se virou para Sageru. “O que temos até agora, Horai? Dois cavalos entram em território de outro Clã sem que autoridades locais saibam, morrem repentinamente, e tudo isso enquanto as relações diplomáticas entre Leão e Unicórnio se tornam cada vez mais tensas?”

“Entendo. Você se preocupa com as repercussões que esse incidente pode ter. Afinal de contas, o Unicórnio não aceitará, não irá querer aceitar que esses dois batedores morreram sem que o Leão tivesse culpa.”

“Não é apenas isso. Somos Magistrados de Jade. Lidamos com situações tipicamente fora da alçada para a maioria das pessoas. Inclusive samurais. Este caso é um deles.”

“E de onde vem tanta certeza?”

“Nossos rastros estão prejudicados, como você mesmo ressaltou. Mas há outra coisa… Há dois cavalos do Unicórnio aqui. Há duas tendas. Temos dois corpos. E mais nenhum outro rastro.”

“Entendo aonde quer chegar. Nosso assassino não deixou rastro. Mas o evento aconteceu há dias. Não teríamos visto nada que ele já tenha deixado.”

“O solo do Clã Leão é de planícies terrosas, expostas aos ventos que descem das montanhas dos Clãs Dragão e Fênix. Os ventos rapidamente encobriram rastros até mesmo mais intensos que os que temos aqui, Horai. Contudo, não há rastros dos cavalos no caminho para cá. Os únicos rastros dos batedores surgem no exato local em que repousaram.”

“Supondo que tenha sido onde passaram mais tempo, faz sentido, não? O solo teria se moldado com maior intensidade.”

“As marcas dos cascos de montarias Shinjo se agravam quando estão a pleno galope, não quando dormem, Horai-san.”

“Então o que sugere?” Perguntou um confuso e interessado Kitsuki Horai.

“Os kamis do Ar evitam este local. Algo ocorreu aqui que os perturba. Simplesmente, o vento não se manifesta aqui. Nem preciso consultá-los para inferir isto. O vento não modificou esses rastros, e os kamis da Terra também evitam se mover.”

“Esta é sua área, Sageru. Prossiga.”

“Como eu dizia, não há outros rastros. E desde o evento, fenômeno erosivo algum afetou esta área. Nosso assassino simplesmente não emite rastros.”

“A única conclusão a que isso me leva é que ele já estava aqui quando os Unicórnios chegaram, então.”

“Ou isso. Ou ele nunca esteve aqui, para início de conversa.”

Os olhos de Horai se abriram com interesse. Um sorriso pareceu despontar no canto de seu lábio. “Isso já é suficiente para preenchermos alguns relatórios, Sageru.”

“Não é apenas isso. Espíritos elementais não se amedrontam levianamente, principalmente os de Terra. O que quer que tenha acontecido aqui foi algo que profana a própria Ordem Celestial, uma corrupção do mundo natural tamanha que não ousaria pronunciar exceto que fosse plenamente necessário.”

“Os relatórios dos yorikis descrevem corpos retorcidos, olhos esbugalhados… E ressequidos.”

“Como se a própria essência vital lhes fosse tirada. Sugada, do modo mais violento, profano e imundo de parasitismo.”

Isso foi o suficiente para Kitsuki Horai saber aonde o shugenja iria chegar. O olhar silencioso de Horai concordava com o raciocínio de Sageru. Juntos, os dois montaram seus cavalos. O sol se punha e por menos supersticioso que fosse qualquer um dos dois, não seria conveniente convidar uma palavra tão pequena e assustadora diante do misterioso crepúsculo que surgia nas terras do Leão. A misteriosa escuridão da noite começava a tomar o céu, e o ar se esfriava rapidamente e ambos torciam para que os calafrios que percorriam suas espinhas fosse de frio. Os dois magistrados cavalgaram de volta para Mitsu Ama no Mura com uma palavra contida nos lábios. Maho.

5 comentários :

  1. De arrepiar... só quem conhece muito bem o cenário de Rokugan poderia escrever algo assim. Qualidade impecável, parabéns!

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  2. E olha q saiu na pressa...

    Uma pergunta: Pq será q ninguém comenta em post antigo? Foi só eu colocar esse post q todo mundo esqueceu do post pra avisar q eu to de volta. Jurava q todo mundo ia querer me matar pela associação Ravenloft -> Crepúsculo...

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  3. Muito, muito interessante. Tu realmente tens muito talento, Hayashi. O cenário de Rokugan é fascinante, sinto-me feliz de ter jogado ao menos uma vez nele. Parabéns!

    (Teus medos sobre a 4 edição de Ravenloft tem razão de ser... do jeito que as histórias de vampiro caminham...)

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  4. Como eu sempre digo:

    QUERO MAAAAAIS.

    Mais uma vez algo de arrepiar, mesmo suspeitando do que poderia ter acontecido os jovens Unicornios eu ainda não tinha certeza, e dessa vez esse conto veio para aumetar minhas incertezas. Não é qualquer um que consiga fazer Maho em Rokugan e não deixar rastro.
    E ainda mais o suficiente para deixar os magistrados de jade intrigados, a questão agora é uma só, bom ,na verdade duas.
    Quem fez? E a troco de que?
    Pode estar certo que alguem vai ficar inevitavelmente ferrado nessa historia.
    Quem precisaria de tanto oferenda de sangue assim?
    Daria um ótimo plot pra uma aventura... Ai que saudades.

    Bom uma ultima pergunta.
    Quando os escorpioes vão aparecer na historia?
    XD

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  5. Bom, ainda estamos tentando fazer L5R pegar no tranco. Tanto na mesa online ainda inexistente qto por aqui em JF, na mesa da faculdade... Qse tão inexistente qto.

    Sobre Ravenlof, algumas impressões que pelo menos a mim muito aliviaram: A Wizards adiantou que o livro será praticamente um RPG novo, e não apenas um livro de cenário. Ou seja, teremos regras novas (insanidade, medo, etc), visões novas qto a classes antigas, e, obviamente, classes novas mais adaptadas ao cenário. Também falaram sobre permitir vampiros, lobisomens e esses "trens" pra jogadores. Eu ainda acho meio sinistro... E torço para que não acabem fazendo disso um Underworld. Não lá fora, mas aqui no Brasil. Temo que a geração WoD Purpurina o faça. Mas, evitemos manifestar tais temores em voz audível. XD

    Qto aos Escorpiões, eles já apareceram, não viram? A menina que o Akodo derrubou na casa de sakê era um Shosuro disfarçado! Ikoma Niro na verdade magistra a cidade fronteiriça por chantagem Bayushi e os magistrados de jade na verdade são ilusões criadas por um Soshi muito sinistro!

    Brincadeira... Bom, os Escorpiões (na verdade, até agora planejo apenas um personagem Escorpião pros CdR) ainda devem demorar pra aparecer. Mas, eles têm q aparecer. Assim como o personagem do Caranguejo... Sincero, ninguém deu falta do Clã?

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