14 de janeiro de 2011

Corte de Inverno: Um Novo RPG


Quando se inicia um ano, espera-se obviamente que ele comece com boas notícias, atendendo a toda a espectativa que acumulamos pelo início de um novo ciclo em nossas vidas. Afinal, ano novo, emprego novo, tudo novo! E se é novo, então que seja bom!

Parece que o RPG internacional não tem atendido às preces, porém. Antes de me expressar propriamente, gostaria de ressaltar duas notícias da RedeRPG no qual me basearei mais. Uma delas, foi tirada da coluna do presidente da Wizards of the Coast, sr. Bill Slavicsek, na qual ele anuncia o fechamento do D&D Miniatures e algumas outras mudanças drásticas no perfil editorial da Wizards. Outra, posterior, me pareceu mais uma análise em relação a todo o burburinho que já vinha bem antes disso nos fóruns estrangeiros de RPG.

Agora que você leu as matérias (você leu, não leu?), vale dizer que também não estou elegendo a palavra de Telles e seus asseclas como palavra final da questão, mas achei muito legal a opinião do artigo "Algo de Podre no Reino da Fantasia". Há muito mais tempos do que imaginamos, o mercado tal qual o conhecíamos mostrava um bambeamento das pernas. Talvez os fantasmas da era em que "WoW matou o RPG de mesa" não tenham sido tão bem exorcizados assim, e à medida que os títulos de RPG de papel têm encontrado sonoras dificuldades de se manterem respirando, o mercado de jogos de computador e videogame crescem exponencialmente. Talvez seja uma bolha, mas isso pouco importa para os empresários engravatados e endinheirados do mercado.


Uma nova geração de jovens está surgindo. Uma geração adaptada aos e-mails, orkuts e MSNs da vida, e que não se faz de rogada ao pesquisar qualquer coisa acadêmica ou não no Google ou na Wikipedia. Não estou pontuando se este comportamento é errado ou não (e eu já achei muita coisa boa nas Wikis), mas a questão é que eles estão aí, e quanto a isso, não há nada a se fazer a respeito. O livro como objeto físico tem se tornado obsoleto, e a tendência de uma vida cada vez mais corrida deixa proporcionalmente menos tempo para se criar fichas, pensar em prelúdios mais refinados ou aprender um sistema. Nossa sociedade como um todo quer tudo o quer pra ontem.

Mesmo quando se trata de ler um livro de RPG, o ato de baixá-lo e lê-lo em pdf creio ser o primeiro método em que muitos pensariam, para só então ver se vale a pena comprar o volume físico. Ou, mais "esperto" ainda, é baixar o pdf, ler, imprimir e sair por aí com o livro debaixo do braço por um fração ínfima do preço do original. Não é muito diferente da "geração xerox", mas acho que não preciso ressaltar aqui a diferença entre as duas.

Fato, os programas pra RPG de mesa online me parecem um ótimo meio termo. Porém, creio que a economia de tempo na preparação do jogo em si, é compensada no andamento. Basicamente, demoramos mais tempo para ler e escrever do que para ouvir e falar. Mas creio que seja quase uma diferença puramente estilística.

Porém, o mercado está mudando e isso ninguém pode negar. A Wizards partiu heroicamente pras iniciativas online com seu Adventure Tools, que também mudou. Mas nenhuma outra editora pareceu seguir o exemplo. Porém, de um jeito ou de outro, a Green Ronin já havia autorizado seu Hero Builder muito antes de sequer cogitarem uma 4ª edição de D&D. Todavia, ainda resta a dúvida de que, se o RPG está mudando, como ele mudará? Que lados valem a pena serem seguidos no meio dessa profusão de tendências e atitudes possíveis?

Tornar o RPG mais "game" seria uma saída? Investir no formato de caixas? Até mesmo a extinção do formato "livro" já foi cogitada, deixando os livros de RPG apenas em pdfs comprados. O público está perdido igual cego em briga de Arqui-Mago e até agora nenhum sinal de luz no fim do túnel. Será essa a extinção do RPG como o conhecemos? Tcham, tcham, tchaaaaaaaammmmm!

D&D: "Entre o RPG e... Alguma outra coisa."
Eu particularmente acho exagerado esse circo que têm armado pra cima disso tudo. Não me parece ainda nenhuma catástrofe. Em tempos de vacas magras, a idéia é apertar os cintos mesmo. E é isso que a Wizards está fazendo, assim como a AEG fez não faz tanto tempo assim. E olha ela aí, lançando suplementos para o RPG de Legend of the Five Rings. Fato, ela vendeu Warlord, mas parece ter sido algo bom pra editora. Assim como achei bastante exagerado o Essentials como uma 4,5ª edição. Ele me pareceu mais um retrocesso do que uma progressão.

Novamente, não posso deixar de relacionar essa presente crise de identidade que D&D tem sofrido com à que sofreu na época da 3ª edição, em que todos os xiitas de AD&D e do Storyteller acusavam-na de ser "videogame de papel", se por nenhuma outra coisa, pela "tão odiosa grade de combate". Agora, os órfãos da 3.X (que não raramente são na verdade órfãos da OGL, já que raros são os livros da própria Wizards que prestam pra alguma coisa) acusam D&D 4th de ser "MMO de papel". Creio que o circo seja bem maior por que de lá pra cá, a Internet cresceu e se tornou essa "nova TV" que temos hoje. Aliás, pelo rumo que a barca vai, talvez nem mais "papel" exista mais no RPG.

Agora eu passo a bola para vocês. E aí? Que rumo parecerá mais atrativo aos nossos sanguinários e capitalistas colegas engravatados ianques? Valeria mesmo a pena investir na bolha da Web?

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