Dante perdido na selva escura. Ilustração de Gustav Doré. Séc. XIX |
Assim começa A Divina Comédia, obra máxima de Dante Alighieri, bem recorrente na nossa cultura pop atual.
Bom, resolvi abrir o post com estes versos por que creio que eles ilustrem bem como estou no momento. Tenho pesado muitas coisas em minha vida e em parte creio que tal assunto nem deveria ser exposto aqui por não tanger os interesses de quase nenhum visitante do blog. Por outro lado, já que se trata de um blog pessoal, acho que me cabe o direito de moderado desabafo.
Como esta dizendo, uma avassaladora maioria dos visitantes do blog só chega aqui interessada nos trabalhos de tradução ou qualquer outra coisa gratuitamente disponibilizada em que eu esteja trabalhando. Verdade seja dita, sempre as fiz apenas porque eu quis e cria piamente que isso resultaria num ambiente RPGístico nacional mais difundido e acessível para todos. Também acreditava que o reconhecimento por um trabalho perfeito me bastariam, e quem sabe de repente através dele uma contratação profissional não pudesse surgir daí?
Para variar, a realidade tem tendido a ser mais dura do que eu pensava. Os RPGistas brasileiros, que grifo me referir a uma esteriotípica e majoritária parte, embora também deva ressaltar deveras áureas exceções, se interessam apenas em adquirir o trabalho de graça, independente se isso ferra ou não com o trabalho de outros profissionais na Devir, Jambô, ou outras editoras. Não há a consciência de que o próprio uso indiscriminado desse tipo de material pode acabar atrapalhando ainda mais o RPG no Brasil ao invés de ajudar. E para que tal discussão discambe aos outros âmbitos de pirataria, pouco custa. E não é isso que pretendo aqui. De toda forma, quero dizer que não, tudo isso já não basta mais.
A iniciativa de traduzir a priori o L5R 3ª edição parece-me ter trazido bons frutos para todo RPG aqui no Brasil. Até imagino que isso tenha incentivado outros tradutores a trazerem coisas que jamais teriam sido trazidas para cá. Fato, este parece um caminho mais curto, imediatista e eficaz do que esperar que a Todo-Poderosa Devir se dedique a investir um título improvável num mercado caquético. Hoje vejo que o caminho melhor seria outro. Falar com outros jogadores a respeito, trazer novos adeptos, incentivar iniciativas prósperas e colaborar com os eventos oficiais obviamente atraem investidores. O mercado de quadrinhos americano não é esse gigante todo pela quantidade de nerd/km² dos EUA ser maior que a nossa (tá, isso ajuda também). Mas, acima de tudo, como em várias coisas nesse mundo baseado em carbono, se deve porque dá dinheiro. Não basta fazer o RPG crescer no Brasil. É necessário fazer que ele cresça de modo sustentável no Brasil (e esse "sustentável" em muito tange o "lucrativo").
Assim sendo, ao invés de falar para seu amigo baixar um livro de RPG que você leu na Internet, compre-o. Se você não pude comprá-lo então também não pirateie. É difícil mensurar o quanto ajudam as pessoas que não atrapalham o que já está difícil. Acho risível quantas pessoas se defendem ao consumir essas traduções dizendo que "não poderiam comprar o livro original", como se ele fosse agora um item essencial para a sobrevivência. Bom, não compre. Continue com sua vida. Simples assim. O fato de ser oferecido de graça na Internet não nos obriga a baixar.
Ultimamente, o RPG internacional tem sido uma imensamente dolorida fonte de frustrações para mim, mas não pelo sentido ruim da expressão. Dresden Files é realmente um RPG excelente, assim como L5R 4th, Scion, e tantos outros que vi, mas que nunca conseguirei jogar por estar cercado por jogadores "ocupados de mais para aprenderem um RPG novo". O que é perturbador para uma mecânica inovadora quanto a do sistema Fate usado em Dresden (que segue o esnobe costume americano de se basear no fato de que TODO jogador leu o livro de regras). Mas, não estou no direito de reclamar. Certos estão eles, que dedicam todo seu tempo e intelecto como membros produtivos da sociedade sem sentido e corrupta. Enquanto eu, continuo sendo o rebelde pós-adolescente, a voz dissonante que ninguém ouve, independente de quão certo ou errado esteja.
Não estou dizendo que as traduções gratuitas de RPG se tornam insustentáveis para mim. Só que pelo menos no presente momento, não consigo mais comportá-las e sair por aí oferecendo-as de graça para um monte de "espertos" que poderiam estar comprando, mas "pra que? Se tem gente oferecendo de graça?". Na verdade, vivemos numa sociedade onde mais NADA é feito de graça. Muita coisa é disfarçada como gratuita, mas acho que dá pra contar nos dedos do Capitão Gancho quantas coisas são realmente de graça hoje em dia. Também não vou começar a cobrar pelos meus trabalhos.
Parafraseando o grande filósofo Capitão Nascimento: "RPG: É você quem financia essa ÞØΓΓā!" |
Bom, acho que era esse o recado que queria passar. Desilusão RPGística, crise de identidade funcional, elogiar Dresden Files, não faça pirataria, faça mercado... É, é por aí. O mercado RPGístico nacional precisa urgentemente de mudanças drásticas, mas para isso acontecer, uma mudança no perfil do jogador de RPG brasileiro precisa acontecer primeiro. O que temo, é que para isso ocorrer, uma mudança na ideologia nacional precise ocorrer primeiro. E isso sim me parece impossível.
ResponderExcluirComecei a acompanhar o seu site, a 2 semanas, li muitas matérias interessantes e diga-se de passagem acho os erros ortográfico normais “o que vale a intenção” do que ser muito perfeccionista nesse quesito.
O seu posto foi fantástico, confesso que não sou fluente na língua inglesa e fico muito tempo para traduzir um parágrafo e utilizo de suas traduções para ame aprofundar mais no mundo do L5R, mas entendo que precisamos compra os livros mesmo de língua estrangeira, somente dessa maneira poderemos movimentar o mercado nacional quiça internacional de RRG.
E a cada nova edição melhorara os recurso para capa, livro, ilustrador, roteirista e etc .