Dessa vez, a história é sobre o clã mais artístico, cultural, metro-sexual e afrescalhado de Rokugan: A Garça/Grou.
Este capítulo, ao meu ver, foi um dos mais prejudicados neste livro. Tudo bem, o TGC visa dar uma enxugada no que é mais importante dos suplementos anteriores, colocando tudo num lugar só, e resumindo do melhor jeito possível. O que achei prejudicial? O livro de Kakita (o fundador da família), A Espada, de praticamente um capítulo inteiro no The Way of Crane virou uma caixota de texto sem vergonha no canto de página. Ainda assim, temos uma visão atualizada às novas mecânicas dos Artistas Kakita (embora a tradução literal tenda para "Artesão", discordo veementemente) e regras para "Armadilhas Rurais" Daidoji.
Nesta fiction, temos uma guerreira do Leão, totalmente revoltada por ter que ir treinar com um fresco de um Kenshinzen.
Akodo Tatanko andou rapidamente pelos pinheiros cobertos de neve do jardim de inverno, perdida em sua irritação particular. Ela não viu como a trilha serpenteava por fora e por dentro das pequenas copas das árvores, fazendo o jardim parecer maior do que era. Ela não notou a maneira artística pela qual um grande pinheiro estava plantado atrás de uma ameixeira, para evidenciar a secura chapada dos galhos do pessegueiro. Nem notou o sorumbático farfalhar do vento pelas varas espalhadas de bambu. Sua atenção estava inteiramente fixa em quão desagradável sua tarde seria, quão difícil suportá-la sem causar embaraços ao cortesão que ela deveria estar protegendo.
Ela tem se sentido mal desde o momento em que descobriu que estava designada a guarda de honra de Ikoma Cheomo na Corte de Inverno de Kyuden Doji. Mas um samurai do Leão não questiona ordens. Tatanko cerrou os dentes. Não estava certo, ela pensa. Ser talentosa em guerra e obediente ao meu senhor não deveria me colocar em situações como esta.
Ontem Cheomo fez pequenos favores para um dos lordes Doji visitantes, e como gesto de agradecimento o Doji arranjou que um membro da guarda de honra de Cheomo tivesse o privilégio - o privilégio! - de passar a tarde treinando com Doji Nobutaka. Tatanko sentiu os músculos da mandíbula se apertarem ainda mais com a memória. Nobutaka é um Kenshinzen. O que só prova quão pouco a Garça realmente sabe do caminho da espada. Ela nunca o viu no dojô do palácio. Ela só o viu de relance poucas vezes na corte, rindo como se cortejasse todas as damas de lá, vestido tão suntuosamente que parecia ofuscá-las. Agora devo me sentir honrada em treinar com ele.
Tatanko caminhou até um teixo em cascata e parou. Ela encontrou Nobutaka. O Doji estava em pé de costas para ela, olhando para outra coisa na trilha. Ela respirou um pouco e começou a se aproximar , mas sem se virar ele levantou uma mão num gesto de cuidado. Tatanko baixou sua bokken e agarrou o cabo da espada - e parou. Não há nada à vista, nenhum perigo, e Nobutaka ainda segura sua bokken frouxamente debaixo do braço.
Tatanko retirou sua própria espada de madeira da neve e calmamente se aproximou do Garça até que estivesse exatamente atrás dele, pela direita. Ela seguiu o seu olhar, apontando a uma seção do jardim abrigada por pinheiros e um pequeno riacho composto inteiramente de rochas pretas gastas.
"O que é isso?" Ela perguntou calmamente.
"O pardal," Respondeu Nobutaka, sua voz rica de deleite.
Tatanko piscou, confusa, e olhou de novo. Havia de fato um pardal, encolhido numa lanterna do jardim esculpida em pedra branca, sua cabeça se virava como se olhasse para o céu cinzento de nuvens e o chão nevado abaixo. Parecia perfeitamente comum.
Ela se virou para fazer outra pergunta a Nobutaka e parou, atingida pelo que viu no seu rosto. O Kenshinzen estava totalmente absorvido observando o pardal; ele praticamente brilhava com a intensidade de sua atenção. Ela já viu homens indo à batalha de suas vidas com menos foco do que Nobutaka mostrava agora. Tatanko se virou de volta ao pardal, tentando perceber o que possivelmente havia de tão interessante nele.
O pássaro desceu de seu poleiro e pulou no chão, caçando o que quer que pardais caçassem. Tatanko lentamente olhou a clareira de novo, usando os sentidos refinados no campo de batalha, mas ela não vê nada além do riacho negro, pinheiros escuros e lanternas brancas. Quando olha de volta para o pardal, repentinamente a ocorre que a mancha cor de avelã em sua cabeça é a mais brilhante cor que já vira; todo o resto do mundo era composto no momento de preto e branco. Ela olha mais a fundo, notando os sutis nuances de marrom e castanho em seu corpo, o vívido pontilhado de preto e a clara definição de branco.
O pardal dá um último pulo, abre suas asas, e voa. Tatanko nota que seu peito tem o mesmo cinza que os céus acima, e ela sorri.
Nobutaka suspira e vai até a clareira, seus passos são cuidadosos, quase reverentes. "Era amável, não era?" Ele pausa, então parece voltar a si. "Mas agora que se foi, podemos começar." Ele começa a retirar seu haori.
Tatanko piscou um pouco. "Você não treina no dojô?"
"Ah, às vezes sim," Responde Nobutaka. "Nunca se sabe quando você terá que duelar em interiores, afinal." O haori cai sobre uma lanterna. Ele começa a agitar a bokken levemente, afrouxando os músculos dos ombros. "Mas seria uma vergonha não usar um jardim tão belo."
Nuncha lhe ocorrera em imaginar porque Nobutaka queria encontrar-se no jardim. Tatanko se irritava por isso; este tipo de distração mataria um samurai no campo de batalha. Ela caminha pela clareira e tira seu próprio haori, então começa o processo de amarrar suas mangas para trás. "Espero que a beleza do jardim não o distraia de nosso treino," ela diz, amarga.
Nobutaka sorriu calidamente para ela. "Te darei a mesma atenção que daria ao pardal," ele diz.
Impressionante... a intercalação entre a visão do Leão e da Garça para um mesmo meio. Bacana demais!
ResponderExcluirMuito legal mesmo, adorei. Esses contos são muito bacanas.
ResponderExcluirValeu, galera. Esperem então pelo próximo conto. O Dragon nos brinda com o Método Kitsuki.
ResponderExcluirCSI:Rokugan epi.hehehhehehe
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