5 de junho de 2012

D&D Next, Edition War e o Fanatismo RPGístico

Double-post na HnI.

Para quem vez em nunca posta alguma coisa, isto é um pouco estranho, não? Ainda assim, devo confessar de que não estava planejando nem mesmo escrever meu primeiro post de hoje, que dirá o segundo. Mas creio que uma hora a situação fica meio tensa, e por fim temos que acabar nos expressando de algum jeito. Apesar do que o título do post possa parecer, não vou falar de nada exclusivo sobre a próxima edição de D&D. Nem sobre as antigas, de modo geral.


Antes de abordar o assunto propriamente dito, gostaria de esclarecer algo a meu respeito. Nunca fui fã de D&D. Sim, gostar de RPG não significa necessariamente gostar do RPG mais vendido no mundo, oras. Assim como gostar de futebol não te torna estritamente um flamenguista (Deus me livre). Ainda assim, creio que minha opinião a respeito de todo esse furdunço armado sobre a(s) nova(s) edição(ões) de D&D possa vir a valer alguma coisa. Exatamente por eu ser neutro nesta questão.

Tercedishonmon digivolve para...
Conheci D&D na época da 3ª edição (já jogava RPG nos tempos de AD&D, mas nunca o joguei). Tanto eu quanto quase todo RPGista por aqui estava no embalo tolkieniano dos filmes de Senhor dos Aneis. Eis que de repente os gótico-punks vampiros davam lugar ao tom épico e "condadoso" da Terra Média. E o sistema de D&D 3.X tinha muitos pontos bons na época. E acho que este o seu principal defeito. Ele era bom para a época dele. Assim como o Super Nintendo teve a época dele. Tá, até hoje você pode jogar SNES pelo emulador. E tem muitos jogos dele que dão vergonha em muita coisa do XBOX 360. Mas é para frente que se anda, e um dia as coisas velhas precisam ficar para trás.

Imagino que é aí que está a maior dificuldade dos jogadores brasileiros. Verdade seja dita, nós suamos para comprar nossos livros. E creio que bata a sensação na maioria de que pular para uma edição mais nova significaria jogar as boas lembranças para trás. Estranho. Essa sensação jamais ocorreu em L5R. Em TODAS as edições (coincidentemente, também 4), todos os jogadores ficaram muito felizes por ter o clima renovado, um livro mais bonito, artistas mais competentes e regras mais refinadas. Por que isso não acontece em D&D?

... Kwartedishonmon!
Uma das coisas que mais me incomodou em D&D 3.X depois que a agitação de seu lançamento passou, era o clima "videogame". Isso mesmo, pasme. As magias se tornavam algo estático, para não dizer necessário em níveis mais elevados. A própria ideia de "nível" de personagem me fazia sentir jogando Diablo ao invés de um RPG de mesa. Fora a demora para termos alguma progressão no poder do personagem. E quando havia, ela caminhava a sólidos degraus. L5R 3rd dava uma lavada neste quesito, onde o personagem progredia mais suavemente. Digamos, numa rampa. O grid de combate também me incomodava bastante. Mesmo podendo ser um acessório, o sistema de combate em si mais parecia Final Fantasy (eu ataco, você ataca, eu ataco...), ou aqueles jogos táticos isométricos do PS1. Enfim, o combate era preso demais.

Já disse e repito. Videogame em RPG de mesa foi a 3ª edição. Se a 4ª parece com MMO, ou é na esperança de que ele vendesse como um MMO, ou porque, se pararmos para pensar, os papeis de combate sempre estiveram lá. Só não vinha um rótulo para defini-los.

Enfim, a questão não é debater sobre qual edição de D&D é melhor. Duchamp não é melhor que da Vinci. Nem o inverso. Duchamp só é mais sintonizado com a sua própria época do que um cara que morreu no séc. XVI. Semelhantemente, D&D 4th está mais sintonizada a um novo público. Diferente daquele de dez anos atrás. E busca também agradar gente que nunca gostou do clima "pseudo-tolkieniano" do anterior (eu por exemplo). Eu cheguei a quase chorar de emoção com a saída do sistema vanciano de magias. Ele não faz sentido lógico, não é prático, mas tá lá porque é um dogma de D&D. Sem ele, D&D não seria D&D.

"OH! Então isto é uma maçaneta!"
Encontra-se argumentos como este último aos montes entre os defensores da era d20. Outro ainda, que se pararmos para pensar, nem é tão lógico assim, é quanto às raças "absurdas". Realmente, draconatos e tieflings não têm o menor respaldo mitológico ou literário para estarem do lado dos elfos Orlando Bloom e gnomos. Mas, paremos por um momento para analisarmos a coisa que todos odiávamos nos elfos da 3ª edição: Eles parecem demorar um século para "aprender" tudo aquilo que as outras raças aprendem em quase uma década e meia. Seriam os elfos burros? Não, porque a classe predileta deles é mago, que privilegia Inteligência (nunca vi um arqui-mago elfo em cenário oficial. Mas enfim...), por mais que a raça não oferecesse nada de fato útil para um mago. Enfim, coisas sem pé nem cabeça não foram jogadas em D&D pela 4ª edição. Se procurarmos outros livros muito certamente encontraremos coisas tão estranhas quanto.

"CORRAM PARA AS MONTANHAS! O design team
quer dragões no primeiro nível!"
Outra coisa que já falei por aqui é que acho que a 4ª edição retornou D&D ao que era. A 3ª edição tem todo o mérito de ter definitivamente tirado D&D das masmorras, e levado a lugares de fato fantásticos. Mas a 4ª põe os aventureiros de volta às masmorras de pedra e mal iluminadas. Retinhas, porque são Tiles, é verdade, mas isso eu acho old-school pra caramba! Também gostei do aumento de poder geral, digamos assim. O lado "dragon" também está mais forte. Por termos draconatos, kobolds draconoides e até mesmo pelo gênero como um todo estar mais próximo dos níveis baixos.

Uma das coisas que todos criticam na 4ª edição, porém, é sua falta ou incompetência de fluffy. Os cenários estão sem carisma. Os livros de Poder são de leitura quase "maratônica" de tão cansativa. Não temos as descrições maneiraças que tanto nos davam vontade de jogar como antes. Há um motivo da Wizards para isso (digo desde já que ele não me convence). Nesta edição, a ideia é o grupo construir seu próprio fluffy. O Mestre encher o cenário daquilo que o seu grupo gosta, não o playtest da Wizards. Isso é super bem intencionado. Mas super mal executado. A Wizards parece esquecer que nem todo grupo tem um R. A. Salvatore à disposição para isso.

Enfim, não estou aqui para dizer que qualquer argumento a favor da 3ª edição é ilógico, apesar de eu já ter dor de cabeça ao lembrar das defesas mais estapafúrdias, em grande parte, por pura raiva. Sim, RPG é algo lúdico. Ninguém espera um tratado de lógica euclidiana para defender este ou aquele lado, mas pelo menos fazer sentido acho que não custa. Acho que o que todos os fãs da 3ª se esquecem é que eles têm o direito de preferirem-na, mesmo sem argumento algum para isso. Mas, vivemos num mundo onde fazer algo sem motivo é quase uma heresia à sociedade. E é muito triste que isto vaze para o RPG.

RPG é algo para ser divertido, não lógico e cheio de argumentos para se escolher este ou aquele lado.

"Já te falei que D&D 4 não é RPG! Para de mostrar isso
pro nosso filho!"
Aliás, o fato de termos este ou aquele lado é um dos maiores fracassos do RPG como um todo. Lembro de ter lido um artigo há muito tempo na RedeRPG comentando porque, embora tenham nascido na mesma época, RPG e videogames se tornaram tão díspares assim. Um dos principais fatores foi a inovação. O videogame via cada acréscimo tecnológico como algo ótimo. Levar um laptop para uma mesa de RPG parece um atentado ao pudor em alguns grupos. Isto também é muito triste. As ferramentas estão lá para serem usadas, oras. Não é por usar mapas do Maptool que o combate deixará de ser interpretativo. Pode até deixar de ser, mas não vejo relação entre os dois. Outra coisa que me incomoda é esse faccionismo. 3ª vs. 4ª vs. AD&D vs. Next. Todos querendo se mostrar como o povo de Deus no meio dos pagãos hereges. Não vou muito com a cara do novos designers de L5R, mas uma coisa que eles disseram é verdade: "Juntos vencemos. Separados, não existimos".

Perdões pelo imenso post, mas espero ter conseguido passar o que queria.

5 comentários :

  1. Mais um excelente ponto de vista apresentado...

    Sou Old school, amo AD&D, SNES entre outros, mas não fico enaltecendo o AD&D e tentando mostrar-me superior sobre outros sistemas... pelo contrário, tenho muita vontade de conhecer novos sistemas (tirando GURPS rsrs) com o simples intuito de me divertir entre amigos, que é uma das missões do RPG em si...

    PARABÉNS pelo post.

    Grande abraço!

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    1. Ufa! Por um momento eu pensei q a KKK do RPG fosse me pregar numa cruz pegando fogo.

      Mas a ideia é essa mesmo. Acho incrivelmente irônico o RPG ser considerado um hobby inclusivo e cooperativo onde tanta gente faz cruzadas épicas a favor das suas próprias causas em detrimento das alheias. Nunca se viu coisa igual entre os gamers para saber se o melhor RPG da Square foi Chrono Trigger ou Final Fantasy VII. Doom é melhor que Quake? Kratos é melhor que Goku? Não se vê discussões desse tipo (essa última é até meio absurda). Agora, qdo o negócio é RPG de mesa, todo mundo se acha na obrigação de defender seus gostos e pisotear os alheios. Tenso isso.

      Outra diferença é a reação diante da renovação. Qdo sai um jogo novo, principalmente a continuação de algum título anterior de sucesso, gamers formam filas, pré-vendas estonteantes, todos ficam ansiosos em relação à novidade. Qdo lançam uma nova edição de um RPG é qse como se tivesse morrido um parente. Apresentar um RPG novo para um grupo então é quase um crime.

      E por aí vai...

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  2. Jogos são jogos, cada sistema tem seus prós e contras e são mais divertidos de usar para cenários e estilos de intriga, ação, drama ou letalidade diferentes.

    E num aparte o Five Rings também já passou por vários altos e baixos em suas edições, tanto em cenário quanto regras. Com a 4a Edição que conseguiram encontrar um ponto de equilíbrio das regras e várias eras do cenário (bendito seja o Imperial Histories e suas várias opções de eras por isso!) - sempre há percalços entre edições ou quem goste de um detalhe que o sistema pôs de lado.

    Isso quando não vêm os chatos que fazem mimimi pelo mimimi, como uma galera que fica de chororo com a 5a edição que está vindo aí, quando os próprios desenvolvedores convidam quem tem alguma dúvida ou opinião a se manifestar - mas até aí ficar sentado de chororô com as mãos sob o traseiro é mau-hábito de todos nós brasileiros. :-P

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    1. No q tange L5R, raríssimas vezes se viu "altos e baixos" qto a inovações dentro do RPG. Salvo uma vez aqui ou ali, sempre vi os jogadores empolgados qto a novas edições. Principalmente as duas últimas. É possível notar tb uma evolução buscando um entendimento mais próximo com o público RPGista predominante na minha opinião. A 2ª tem MUITA influência do narrativismo do WoD, a 3ª ressuscita para o R&K muita coisa deixada na era OA, e prova q nem tudo no Rokugan d20 era horrendamente ruim.

      A questão tb nem era discutir a pretensa "evolução" do RPG. Ela é inevitável e deveria ser vista por todos como uma coisa boa. Mas tudo q vejo é gente fazendo disso motivo pra criar uma aura de pseudo-intelectualidade, saudosismo cult hipócrita, q acaba gerando faccionismo e todos nós perdemos com isso.

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  3. Cara... Não tem essa de sistema tal é melhor que o sistema tal.
    D&D é bom demais por ser um RPG de Fantasia Medieval e é isso que ele sempre será! Aí vai do grupo escolher qual que mais encaixa com o seu tipo de jogo.
    No meu caso, percebi que desperdicei dinheiro com o 4a Edição, pois vi que não agradou a mim e mais ninguém do meu grupo.

    Sistemas são feitos para serem jogados! E só depois de jogar é que alguém pode formar uma opinião.
    Depois de formada essa opinião a pessoa não deve sair por aí tentando converter pessoas para o seu sistema. InfeliZmente vejo muito disso no meio RPG, mas percebo que vejo mais isso no publico mais velho...

    Nunca vi um jogador de D&D4 falando mal pra cacete de AD&D como os jogadores de AD&D falam mal das edições seguintes...

    Enfim, todos devem jogar e SE DIVERTIR. Cada grupo que escolha o seu sistema, regras da casa, modo de jogo sem sair falando que seu jogo é melhor que o jogo alheio!

    Por um RPG com menos preconceitos! haha!

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