29 de abril de 2014

L5R 4th: Cortesãos


Ok, já faz tempo desde o último post, e muito mais tempo ainda desde o último post desta seção em específico. E desta vez, depois de já termos passado pelos duelistas, yojimbos, arqueiros e pela logística rokugani, resolvi atender a alguns pedidos do Face e falar um pouco sobre os cortesãos. Estereotipados como os caras frescos do cenário, aqueles que vivem longe do calor da batalha apenas discutindo, negociando, filosofando e tramando as mais loucas tramoias. Afinal de contas, eles são importantes? Eles são poderosos? É legal jogar com eles? Cortesãos: Onde vivem? O que comem? E como sobrevivem no meio de um cenário onde a maioria da nobreza anda para cima e para baixo com uma navalha de 90 cm na cintura? Hoje, no Globo Repórter na Hayashi no Ie.


Aviso prévio: Este será um post longo. Portanto, prepare seu chá, pois isto custará algum de seu tempo. Se você ainda não leu o post da seção Gempukku sobre a corte, taí o link. Agora, se você não é nenhum marinheiro de primeira viagem nestas águas, creio haver pouca coisa nele que lhe possa ser útil.


Em segundo lugar, para falar devidamente sobre os cortesãos, é necessário antes explicar sua necessidade no cenário. Isso provavelmente já está carimbado e firmado nas mentes de cada um de nós, mas não custa ressaltar: Rokugan é um cenário de fantasia medieval sim, mas ao contrário das típicas D&Dzices por aí, também é um lugar onde guerreiros são seres nobres, eruditos e que tentam ser civilizados ao máximo. A sociedade é cheia dos mais diferente rituais, regras, convenções e etiquetas para praticamente... Tudo. Nesse contexto, até seria justificável haver pessoas mais que profissionais na civilidade, e sim inteiramente dedicadas a ela. Basicamente, é para isso que servem os cortesãos, para representar o espírito arquetípico de seus clãs na esfera social. Mas um pouco mais também.

Outro aspecto a ser ressaltado é que Rokugan seria como um país (o Império) dividido em diversos estados (as terras dos Grandes Clãs). Assim, embora possam ter suas desavenças que até mesmo cheguem a guerras em alguns momentos, os clãs jamais se esquecem que, no fundo, eles são compatriotas e deveriam (ênfase em "DEVERIAM") cooperar mais entre si do que competir ou lutar um contra o outro. Assim, é natural que haja ao menos uma rede de comunicação entre eles. Este papel diplomático é normalmente área dos cortesãos, treinados desde a infância (assim como seus "primos" bushis) em seus ofícios.

"O próximo assunto da pauta é: Que cor de flores estarão em voga
na próxima estação. Zzzzzz..."
Ok, então cortesãos são os especialistas nas áreas de civilidade, conhecimento legal e diplomacia. Isso quer dizer que jogar com eles é um pouco monótono, não? Quer dizer, tudo que eles fazem é ficarem sentados, viajarem de um lado para outro e participar de discussões monótonas, assistir discursos maçantes, etc., etc... Hm... Isso seria até tão certo quanto dizer que ser um bushi também envolve vigia de entrada de cidades, guarda em postos de viagem e outras atividades também quase, tão, ou até mesmo ainda mais monótonas quanto. Ser um cortesão é ser a "face pública" do seu clã para os outros. Principalmente em cortes de outros clãs, onde tecnicamente, um cortesão age como representante da vontade de seu superior/daimyo/Campeão.

Os clãs lutando entre si. Ah, como é boa a vida de um Imperial...
Ok, você entendeu o espírito. As cortes de Rokugan são um lugar altamente refinados e civilizados, onde cavalheiros se encontram para exibir sua finésse. Certo? Sim. Mas não é apenas isso. Há várias forças atuantes para gerar conflitos políticos em Rokugan. Primeiramente, as Famílias Imperiais, que creem em sua maioria que enquanto os Clãs estiverem batendo cabeça entre si, não terão chance de se unirem contra o Imperador. E claro, os típicos antagonistas eternos de Rokugan: o Clã Escorpião, que normalmente exerce esta mesma função. Ou seja, se esforçar para ser odiado e combatido por todos os outros clãs, para que assim nem sequer pensem em se unir contra o Imperador. Fato, exercer esta função "bem demais" já resultou na extinção do Clã durante um tempo. Agora a Aranha também faz isso. Mais ou menos... E claro, há também a competitividade natural dos samurais individuais, que querem porque querem se mostrar os melhores em tudo. Opcionalmente, dependendo do interesse realístico e dramático pretendido para a narrativa, também pode-se arbitrar que simplesmente não há recursos suficientes para todos os clãs viverem na mais perfeita harmonia. Ou seja, competir por minérios, alimentos, terras, nobreza e dinheiro é algo tremendamente essencial para todos os clãs. E guerra é algo que custa caro. Ou seja, conquistar estes mesmos recursos pela corte é algo muito mais viável do que tomá-los à força.

E é aqui que entramos no "campo de batalha" dos cortesãos. Tá, mas como as "batalhas" são travadas? Que ferramentas as mais diferentes Famílias políticas do Império têm à sua disposição? Como elas operam? Como são úteis aos seus daimyos afinal de contas? E como torná-los mecanicamente eficazes nisto?

Ataque com Corte, defenda com Etiqueta. E use Awareness para ambos.
Bom, basicamente, todo cortesão, em termos de ficha de personagem, segue mecânicas básicas bem simples. "Tudo" o que você precisa para ser um com cortesão é do Atributo Awareness (ainda em dúvida se traduzo como Consciência, Atenção, ou qualquer outra coisa do tipo. Enfim, é Atributo mental do Anel de Ar), e algumas graduações nas Perícias Sociais principais: Corte e Etiqueta. Basicamente, elas funcionam respectivamente, como as perícias de ataque e defesa sociais. Corte é usada para impor seu objetivo social sobre outras pessoas, e Etiqueta para tentar revidar a tentativas disto. De resto, pontuar Vontade também pode ser útil para não ser persuadido tão facilmente, embora isso também não seja tão essencial assim. Todo o resto, como Vantagens, Desvantagens e outras Perícias são opcionais, e podem ser mais ou menos úteis dependendo das especificidades, capacidades e deficiências de cada personagem ou sua Escola.

Cortesão Doji escoltado por duelistas Kakita. Alguém está vindo
preparado para um duelo.
Abordando os cortesãos mais especificamente, falemos então dos diametrais padrões de cortesãos, que é o que normalmente gera o estereótipo que a maioria das pessoas tem da profissão: Bayushi e Doji. De certa forma, eles representam as duas maiores potências políticas de Rokugan (Garça e Escorpião), mas operam de formas totalmente inversas. Os Doji, seguindo a tradição da fundadora de sua família, são gentis, afáveis, belos e adoráveis em todos os aspectos. Eles são aqueles de quem todos querem ser amigos. E farão de tudo para se aproximarem. E é por aí que eles funcionam. Deixando com que outros se esforcem para vir até eles, garantindo que esses estejam portanto em desvantagem. Assim, esses outros ficam felizes em fazerem o que o próprio Doji quer. E, em troca de favores relativamente pequenos, todos ficam felizes! Isso, em níveis históricos, acabou criando uma rede de favores imensa, de tal modo que praticamente todos no Império de certa forma devem um favor à Garça. Algo que qualquer Doji pode acessar caso haja necessidade. Também não custa lembrar, o "combo" Cortesão Doji + Duelista Kakita também é altamente intimidador. A Garça pode simplesmente contestar a possa do que quer que seja com isso. Tudo o que o Doji precisa fazer é prolongar a disputa, até que ela seja considerada irresolvível diplomaticamente. E um duelista Kakita adorará a chance de provar a fama de sua família como melhores duelistas do Império em plena corte. E TADAM! Vitória para a Garça. É bem difícil deter este combo, mas possível.

"Não faça movimentos bruscos. Nós farejamos o seu medo."
Se os Doji preferem ser admirados, os Bayushi preferem ser temidos. Fazendo certo jus à reputação de trapaceiros, ardilosos e inescrupulosos líderes do Clã Escorpião, os cortesãos Bayushi são predadores na corte, farejando fraqueza em seus inimigos (vide sua Técnica de Nível 1) e usando pequenas brechas para abrir um estrago considerável nas linhas políticas de seus inimigos. Descobrir segredos é a especialidade do clã, e se os Doji têm reforço dos Kakita, os Bayushi usam de espionagem Shosuro (e até certo ponto, magia Soshi) para obter suas armas contra seus inimigos. Chantagem, injúria e coação são as armas políticas dele. Para as pouquíssimas almas do Império que conseguem viver sem nenhum grave segredo, o Escorpião tem as mais diferentes tramóias para retratar o dito alvo como odioso, repugnante, desonrado e lascivo possível (não se limitando a assassinato, roubo, sequestro, envenenamento, espionagem, e o que mais o Campeão do Escorpião ou o Mestre - normalmente, este é muito mais cruel que o primeiro - puder criar). "Ora, mas isso é mentira, trapaça e desonrado!". Bom... Bem-vindo ao Clã Escorpião, pequeno gafanhoto! Outro aspecto dos Bayushi é deliberadamente agirem como objeto de distração. Por isso as máscaras e cores espalhafatosas. Por isso o comportamento exagerado. Enquanto os outros clãs estiverem preocupados, centrados e atentos apenas neles, os Shosuro têm mais espaço livre para operarem de fato nas sombras. O Clã Escorpião é uma máquina impiedosa e implacável de pegar suas presas desprevenidas, e deixar uma sensação de assombro e devastação pelas cortes em que passa.



"Decreta a Mão Direita do Imperador que este post está terminado.
Porém, ainda há espaço para mais uma ilustração bonitinha."
De resto, os cortesãos dos outros clãs complementam aquilo de que seus próprios clãs necessitam. O Caranguejo necessita de recursos básicos (como alimentos, soldados e outros bens) em quantidades enormes em sua eterna guerra contra as Terras Sombrias. Por isso eles têm os Yasuki. A máquina de guerra do Leão é extremamente grata ao serviço de historiadores e inspiradores em batalha que os Ikoma são. Se o Unicórnio é tratado como estrangeiro em suas próprias terras, os Ide fazem o que podem para se aclimatar em Rokugan e quebrar esta reputação. E assim por diante. Os Investigadores Kitsuki, do Clã Dragão, continuam sendo estranhos em Rokugan, principalmente enquanto cortesãos (sendo mais especificamente um tipo de "CSI Rokugani", tendo, portanto, muito mais a ver com magistrados, na minha opinião) e nem mesmo combinam com seu próprio clã, mas ainda assim, são bem interessantes. Por serem tão específicos e diversificados em suas especialidades e potencialidades, é difícil comentar sobre o serviço de cada um.

Mas de modo geral, a corte é um território extremamente mortal e desastroso. Onde ardis podem acometê-lo a qualquer momento, nada é absolutamente certo e qualquer erro mínimo pode resultar em desastres lá na frente.

E aí? Você ainda os cortesãos monótonos e frescos?
 

6 comentários :

  1. Que bom que voltou a seus textos. vim correndo postar. Agora espera que ainda vou ler! rs

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  2. Muito bom!

    Devo dizer que minha visão sobre os cortesãos mudou muito depois de ler estas nobres linhas...

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  3. Sempre achei um jogo na Corte muito legal e curto muito os cortesãos.
    Principalmente no sistema de Legend of the Five Rings onde a distribuição da ficha é livre e rola fazer um cortesão, bushi, shugenja etc, com as perícias que você quiser.
    Gostei muito também de algo que inclusive você tinha colocado no post de arqueiros, sobre disputas de arco e flecha serem comuns na corte. Isso permite que os personagens do grupo que peguem classes de cortesão não fiquem em posição de defesa/ defesa total o combate inteiro (assim como os bushis podem ter um mínimo de etiqueta/corte para não ficarem agindo como yojimbos-estátuas durante uma sessão na Corte).

    Enfim, ótimo post e que imagens legais!

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  4. Saudações gerais, pessoal.

    Fico feliz q o post tenha agradado a tantos assim.

    E sim, esse hibridismo de personagens é bem legal mesmo em L5R. De modo geral, sim, vc tem uma casta/classe a cumprir (shugenja, cortesão e bushi, basicamente), mas pode ser mais permeável às outras.

    Já mencionei no post sobre arquearia q é legal investir nisso se vc é um cortesão mas não quer ser inútil em combate. Ou talvez caçadas. Nobres adoram caças, e em Rokugan não é diferente. O "City of Lies" até menciona isso. Outro detalhe q talvez tenha passado despercebido, é q a ação na corte é política/social e não física. Mas de maneira alguma a corte é um lugar parado. Do mesmo modo q em ação física, vc tem um objetivo (matar o alvo antes q ele te mate, basicamente), e precisa de meios para realizá-lo (arma, chance de ataque, e talvez uma vantagem para isso). Só q na corte esses itens costumam serem menos táteis. Um clã pode se aliar ao seu (mas será isso uma fachada? Um prenúncio de ardil?) contra outro q esteja frustrando seus objetivos e até trabalhar junto com vc. Às vezes, ações aparentemente tolas (como ficar segurando um cortesão rival numa atividade/conversa fútil) é a vantagem q seu clã precisa para firmar uma aliança antes dele. Um duelo por um motivo q ninguém lembra também pode virar a mesa do avesso. Isso tudo, somado à toda significância sutil de linguagem corporal e simbologia de decoração e outros itens pode tornar a corte um lugar bem legal sim.

    E pensando em escrever sobre shugs agora...

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  5. Eu gostei muito desse post... Da uma animada pra colocar mais temas de corte. O Luiz realmente tem feito muito isso. To indicando o post a todos que jogam ou jogaram de cortesão comigo. E aqeles que tem preconceito com o fato de uma aventura ser mais social... Eu to vendo o estrago que um bayushi cortesão pode fazer em uma mesa. quando só tem um jogador de cortesão e o resto de bushi, ele simplesmente comanda a parada!

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  6. Fale sobre shugenja sim.. Se puder, foque nos tipos de narrativas ou como incrementar uma utilizando os efeitos dos shugenjas. Eu já discuti muito com jogadores sobre como podem ser moldadas magias. Pra não ficar uma coisa mecânica apenas. E a comunicação com kami o que deve ter de inovador pra interpretação..

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