22 de maio de 2011

"... E Vivemos em Tempos Interessantes" para o RPG Brasileiro


Tá, é bem cedo para começar um clima de retrospectiva 2011, mas, acho que hoje me bateu a epifania de que algo, se não mudou, está começando a mudar no panorama RPGístico brasileiro.

Até ia dizer algo do tipo "nunca antes na história desse país...", mas não sou lulista o suficiente. Gosto dele, mas não tanto assim. Bom, fato é que, mesmo de uma maneira bastante atravancada e cheia de tropeços, o RPG no Brasil tem mostrado sinais de andar para frente. Finalmente! Já não era sem tempo!


Sei que o clima por aqui na HnI há algum tempo já é de pessimismo e desânimo principalmente com os responsáveis pelo esteriótipo no inconsciente coletivo do conceito de RPGista. Sim, tem gente que se esforça, arregaça as mangas e sua a camisa de verdade pelo hobbie, mas, como já falamos em trocentos posts lá trás, para cada desses, parecer haver 30 malucos decerebrados sem noção, ou daqueles que realmente pirateiam na cara dura ou não fazem o menor esforço para melhorarem a imagem que nós temos aos olhos do leigo comum. Histórias como essas não faltam, e como meu objetivo é tentar tornar este post o menos quilométrico possível, não contarei nenhuma... Até porque o clima deste post não é tão down assim.

Hoje foi mais um dos dias de ficar atirando no escuro no RRPG em busca de alguma sala interessante. Já faz um tempo que as salas do programa se resume a um "código binário" de d20 e ST. Vez em nunca aparece alguma variante homemade bizarra inspirada em algum seriado da TV fechada (e já faz um tempo que ando interessado em pôr à prova o Final Fantasy RPG. Talvez seja um sintoma colateral de tantas horas por dia jogando o FFTA... Enfim...). Não vou discutir o quanto essas vertentes são ruins/boas. Mas fato é que há muito tempo não acho nada de legal por lá. A última sala em que joguei era de D&D 4th. Forçação de barra tremenda para reunir o grupo, prelúdios sumariamente ignorados e seção acabando justamente quando a aventura ia começar. Tenso. Minhas salas de Qin e M&M estavam quase sendo reclamadas pela reforma agrária. L5R e Scion então é melhor nem comentar... Tá bom, parando com o clima deprê.

Hoje também parei para pensar nas causas dos problemas de tudo isso. Por que ninguém experimenta mestrar algo novo? Ah tá, porque ninguém quer JOGAR algo novo. Ninguém quer "aprender" um sistema novo. O livro é caro... E depois de comprar, ainda tem que lê-lo! Esforço do caramba e ninguém aqui é vagabundo (que nem eu, pelo menos) pra perder tempo lendo um livro que, redundantemente, ninguém vai jogar. E acaba que isso vira um ciclo vicioso Tostines e passaríamos (ou será que já passamos?) anos nisso sem sair do lugar. Até os dias de hoje.

Alguns fatos (que chego a ousar considerá-los históricos) realmente me fazem pensar que isso está para mudar. A Internet de fato democratizou a informação. Não só por se achar praticamente qualquer livro online, mas também por diminuir MUITO a distância que tínhamos entre autor e leitor. Não só no RPG, claro, mas, no que tange essas três letrinhas, tivemos coisas muito, mas muito legais.

Por mais que eu seja crítico do modo em que as traduções nacionais piratas sejam feitas, é inegável que elas criaram lendas. Nomes nunca antes conhecidos eram acessados no 4Shared. As editoras grandonas deixaram de ser entidades onipotentes e inquestionáveis. Agora, se a editora não se interessava pelo título, alguém(ns) traduzia. Torto, mal e porcamente às vezes. Atropelando um bom número de direitos autorais, é verdade, mas o fato é que isso aproximou o RPG das pessoas. Mas ainda acho problemático o fato disso não abrir a roda. Quem baixa essas traduções são os mesmos RPGistas que poderiam (e deveriam) estar comprando o livro original. Continuamos não renovando o sangue que, uma hora ou outra vai (ou iria) morrer.

Depois tivemos algumas editoras menores comendo o bolo do mercado pelas beiradas. Red Box, Retropunk e minha conterrânea Conclave mostraram que o Brasil pode criar RPG. Ou quando não cria, pelo menos traz coisas para cá que antes seriam inimagináveis nas conservadoras Jambô ou Devir. Acho que a resposta aos meus temores chegou esses dias no anúncio da RedeRPG dizendo que Little Fears viria para cá. Fato, ainda não li o livro propriamente dito. Mas imagino que seja algo muito legal para renovar o sangue no Brasil.

Por quê? Porque é um RPG mais jovem. Capaz de atrair tanto a geração Crepúsculo/Harry Potter quanto fãs de coisas undergrounds como Changeling (eu incluso). Por ser um RPG indie, imagino que tenha um sistema super simples. O que gera menos dor de cabeça para montar ficha, explicar o cenário, regras, etc. Se o Chamado de Cthulhu foi o tiro de advertência da Retropunk dizendo que ela entrou sério no jogo, considero Little Fears como o ás na manga da editora. Espero sinceramente que ele dê certo. Ainda temo um pouco pela atmosfera terror ressuscitar os antigos fantasmas da geração Vampire, em que RPGista era quase sinônimo de gótico alienado e "elitista" à sua própria maneira.

E não só apenas isso! Como falei lá trás, a Internet diminui o abismo do conceito de autor e leitor. Agora, praticamente qualquer um pode lançar um livro! E isso é muito legal! Que nos diga nosso amigo Odin, cujo trabalho no Contos de Elgalor parece estar dando frutos para lançar ainda o RPG do cenário, e o Asgard. Ambos com um sistema próprio. Tá, inspirado bastante em coisas de D&D, mas também inovador o suficiente para ser considerado algo diferente. Este fato eu também considero extremamente importante na história do RPG nacional. Quando alguém deixa de estufar o peito para arrotar dizendo ser autor de RPG, e de fato põe a mão na massa com ajuda dos amigos, num resultado profissional e de qualidade, não há espaço para dúvidas quanto à importância da iniciativa. Fato, também não li totalmente nada do Odin. Os Contos de Elgalor não conheço na totalidade, mas só pelo que já saiu no Cancioneiro de Astreya já dá pra ver que não é qualquer um escrevendo.

Outras iniciativas mais pessoais e menos empresariais poderiam ser listadas aqui até a exaustão (maior exaustão, quero dizer) deste humilde blogger. Mas, reforço. Estamos vivendo tempos extremamente inovadores. Creio que a maior iniciadora do movimento de renovação tenha sido a Jambô, com o M&M. Mas, mesmo assim, tenho mudado bastante minha opinião a respeito do RPG no Brasil. Continuo fatalmente desanimado. Mas, se antes não havia meios, agora pelo menos Retropunk e a "aliança rebelde" nos oferecem trilhões das mais variadas ferramentas de trazer e causar a renovação que sempre quisemos no nosso público, que tanto precisamos e somos responsáveis. Isso quer dizer que as coisas vão mudar? Não sei. Não conheço o futuro. Mas agora, mais do que nunca, se elas não mudarem, a culpa será toda nossa.

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