Crítica/Review: Rurouni Kenshin - The Movie

Ok, ok. Muito tem  se falado esse filme, inclusive considerando-o um dos melhores de 2012. Muito se falou também sobre uma provável vinda dele para o Brasil, o que, ao que me consta, não ocorreu. De toda forma, assisti ele ontem, e vim aqui dar alguns pareceres a respeito, e talvez até mesmo falar sobre o que ainda pode oferecer a nossas mesas. Claro, tentando ao máximo correr dos tão temíveis spoilers.


Em primeiro lugar, me convém dizer que Rurouni Kenshin (mais conhecido pelas bandas tupiniquins pela alcunha escabrosa de "Samurai X") foi um dos primeiros mangás que acompanhei fervorosamente aqui no Brasil. Convenhamos, não é difícil se interessar pra caramba pela diferente jornada do herói proposta por Watsuki. Kenshin é um espadachim que possivelmente decidiria guerras sozinho, no entanto, ele faz questão de não lutar, não se envolver nas grandes políticas do governo, e simplesmente, não matar. Isso, fora o conhecimento magnífico que o autor cria sobre as lutas de katanas, suas técnicas, estilos e aplicações mais mirabolantes. De fato, uma coisa ou outra passou as raias da chutação de balde, mas, grande parte delas é apenas fantástica, não necessariamente "impossível".

Bom, vamos ao filme então. Se você acompanhou o mangá/anime, sem grandes surpresas. A história pega o início mesmo. Kenshin conhecendo Kaoru Kamiya e montando seu "grupo". Mas se prepare para ver uma ou outra diferença histórica no processo. A adaptação ficou meio capenga quanto à aparência de alguns personagens, o que é lamentável. Os atores interpretam super bem os seus papeis, mas realmente alguns casos ficaram doídos. E por incrível que pareça, o personagem mais igual aos quadrinhos foi justamente o quase insignificante Takeda Kanryu. Enfim, fora uma ou outra dor no nervo ótico pela caracterização do Hanniya (falo sobre ele mais a diante), não há grandes sustos. Ainda está dentro do "suportável".

Para variar, como ficaria quase impossível contar um volume considerável de páginas frações de horas cinematográficas, a tesoura rolou solta. Kanryu não é protegido exatamente pela Oniwabanshu, e sim por um grupo que a lembra bastante, mas Jin'e Udou está lá também, e sua técnica Shin no Ippou ficou até legal. Sincero que eu imaginava algo mais espalhafatoso em termos de efeitos, mas, bom... Deu pro gasto.

The dinamyc duo of ass-kickers!

Um parêntese em especial para aquilo que considerei caracterizações ofensivas em relação aos personagens originais. Hanniya, meu filho, o que fizeram contigo? E pasmem, odiei como ficou o tão adorado Sanosuke Sagara. O estilo de luta dele com a zanbatou eu sempre tive como algo mais rápido, eficiente, e não golpes lentos e vagarosos mostrados no filme. A cena em que ele enfrenta o Kenshin então chegou a doer a têmpora. Mas depois de pouco tempo as demonstrações de parentesco entre o hitokiri battousai e um certo Peter Parker parecem coisa normal. Ainda estou meio em cima do muro quanto ao Gorou Fujita (pseudônimo realmente adotado por Hajime Saitou, citado no mangá). O ator não parece TANTO assim com ele, e o estilo de luta do lobo de Mibu ficou MUITO mal representado (o gatotsu é usado apenas uma vez. Num estilo que mais me lembrou Super Mario do que kenjutsu).

Gatotsu no Super Mario Bros.!

Mas no geral o filme é razoável. Consegue dar conta mais ou menos de dar o clima de transição da Era Meiji. Acho que o conflito pessoal de se negar a matar de Himura Kenshin ainda meio apagado. Mas no meio de algo tão denso, a equipe ainda conseguiu fazer o que dava para fazer.

Enfim, recomendo o filme, mas com as ressalvas anteriores.

Tá, e o no que ele pode nos ajudar em nossas mesas? A ideia mais óbvia seria pensar em algo para L5R. Afinal, Japão feudal, samurais, kenjutsu pra tudo quanto é lado... Não é tão difícil assim. Bom, uma das coisas que acho relevante no filme (e no mangá, e no anime), é a característica cortês do Kenshin. Não se vê em momento algum (*cof* Shishio *cof*) ele xingando seus inimigos nem nada do tipo. A maioria de nós tende a esquecer que a Cortesia é uma virtude do Bushidô. E que não há necessidade de ser grosseiro, mesmo com inimigos jurados. Não por ser fresco (tá, o Kenshin é fresco pra cacete às vezes), mas sim por admitir seus próprios erros do passado e lamentar as escolhas lá cometidas. Enfim, o Kenshin é um personagem bem complexo, e até certo ponto, é muito legal termos isso nos grupos de RPG a fora. Sem contar as costumeiras sátiras de L5R de que o Kenshin na verdade seria um Bushi Kakita com descendência Kitsu (daí o cabelo vermelho) e Kolat (por sua disposição em "se rebelar contra o governo").

E sobre uma "Era Meiji" em Rokugan? Sinceramente, acho a hipótese tão esquisita que teria dificuldades imensas em pensar algo a respeito. Mas o que se vê lá é uma sociedade amargurada pela ascensão da classe mercante (Kanryu), sedentos por vingança pelas injustiças passadas dos abusos de poder dos samurais. Esses, que estão perdidos numa sociedade que dispensou guerreiros numa era de paz.