14 de outubro de 2011

L5R 4th: Fictions de "The Great Clans" 2 (Caranguejo)

Para quem ficou esperando, aqui vai mais um fragmento deste épico lançamento para L5R 4th: A fiction de abertura do Clã Caranguejo. O "quebra-crânios" de Rokugan se dedica basicamente ao combate defensivo contra as bestas diabólicas das Terras Sombrias, no maior colosso de engenharia já feito pelo homem: a Muralha Kaiu. Além dela, está um reino infernal onde qualquer coisa pode matá-lo e certamente o fará se tiver a oportunidade.

Na minha opinião, The Great Clans é o segundo melhor livro até agora da 4ª edição. Perdendo apenas para o Emerald Empire. E não por desmérito.

Sem mais delongas, deixo-vos com o espírito-mor do Caranguejo resumido aqui neste fantástico conto no qual um Hida Bushi precisa medir-se à sua mais árdua prova: os terrores das Terras Sombrias.

Hida Roku olhou para a poeira de cor marrom amarelada em seus pés e franziu o cenho. O que seu instrutor dissera? Que os rastros parecem mais fundos quando a criatura estava correndo ou quando estava andando? Como ele poderia contar quantos deles havia? A tensão deu um nó em seu estômago e seus pensamentos vazavam por sua mente, um atrás do outro infrutiferamente. Ele não conseguia se lembrar, não conseguia se lembrar. Poderia haver uma centena deles bem depois do morro.

Acalme-se, pensa Roku, respirando fundo, encontrando seu centro da força da Terra. Você sabe que duas coisas são certas, ele disse a si mesmo. Eles são goblins, e você vai matá-los.

Algum tipo de criatura alada voou logo acima, invisível pelas grossas nuvens de cinza pétreo, e deu um perfurante grito que durou quase um minuto. Roku se agachou embaixo de uma pequena pedra saliente, espiando e então garantindo que a criatura não se aproximara. Seus irmãos provavelmente teriam avançado e gritado em desafio à coisa voadora… Eles também provavelmente teriam morrido, pensa Roku. Ele é mais inteligente. A coisa está a pelo menos um quilômetro, mas pode-se distinguir uma forma vaga pelas nuvens, ver o quão imensa ela é. Qualquer coisa deste tamanho nas Terras Sombrias não deve ser provocada por uma criança que ainda não completou seu gempukku.

Quanto a isso, qualquer coisa deste tamanho poderia provavelmente ser mais que um desafio para qualquer samurai do Caranguejo.

Roku espera pacientemente. Após alguns minutos, a coisa voa para o sul, fora da visão. Ele espera outros cinco minutos, contando em seu pulso, antes de se aventurar para fora da pedra. O jovem Caranguejo se alonga para fazer o sangue fluir de novo, e então direciona sua atenção à poeira amarelada na frente de suas sandálias.

Os rastros estão ficando mais fundos e mais distintos. Roku assente para si mesmo, bem certo de que está se aproximando de sua presa, e desacelera o passo para reduzir qualquer ruído. Nas Terras Sombrias, a furtividade é tão essencial quanto jade, armadura ou um bom tetsubo. Um Garça ou Leão provavelmente me chamariam de desonrado, ele pensa, se lembrando das palavras de seu sensei sênior, o velho Hida Hiroku: “Todos esses samurais honrados se mijariam de terror se vissem um ogro, ou até mesmo um goblin! Sem mencionar o que poderiam fazer se vissem um verdadeiro oni. Além de sujarem suas roupas de baixo. Não lhes dê atenção. Deixem falar que somos desonrados, deixe-os suspirar por trás de seus leques como somos rudes e insípidos, deixe-os dormirem em segurança atrás da muralha que o Caranguejo construiu com nosso sangue.”

Roku franziu-se ausentemente e deu um passo à frente, usando as pedras dentadas que saíam do chão como cobertura. Ele ouve os goblins à sua frente — não é difícil, pois de repente estão gritando com fúria e terror.

Um ogro encontrou o pequeno bando de goblins. Roku sorri enquanto a imensa criatura pega um goblin que se agita e berra, e arranca seus pedaços, abocanhando cada pedaço com sua mandíbula saltada e mastigando com monstruoso prazer. Os outros goblins se atiram nele, furando e batendo, mas seus golpes parecem não fazer nada ao seu couro marrom peludo.

O jovem Caranguejo se inclina contra a pedra e respira fundo de novo, então abana uma tosse enquanto o ar de poeira amarela tenta sufocá-lo. As palavras de Hiroku-sensei ecoam em seus ouvidos: “As Terras Sombrias não são apenas uma paisagem. Ela é seu inimigo e quer matá-lo. Não a dê esta chance.”

Ele esconde outra olhada na batalha calorosa do outro lado da rocha. O ogro está de costas viradas. Ele sabe que nunca terá uma chance melhor de matar esta coisa.

Roku ergue seu tetsubo e anda para frente calmamente. O último dos goblins solta um guincho agudo enquanto o ogro arranca a perna da pequena criatura verde com um puxão gutural. Roku se inclina para frente. Outra perna. Mais perto. O ogro rasga o resto do corpo do goblin, cessando seus guinchos; sons úmidos saem quando seus pedaços caem no chão. Roku ergue seu tetsubo, chegando a poucos passos. O ogro esmaga um dos braços do goblin, sacudindo-o com imbecil alegria. Roku dá outro passo para frente, então outro… E um pequeno pedaço de osso, enterrado abaixo da poeira, estala sobre sua sandália.

O ogro se vira mais rápido que uma criatura de seu tamanho teria o direito. Roku golpeia com seu tetsubo na deformidade da criatura. Há um som como o racha de pedra e o ogro cai de joelhos.

O Caranguejo recua de outro golpe, mas é muito lento. O ogro estende seus longos braços e puxa o garoto num abraço esmagador. Roku sente seus pés deixarem o chão, seu tetsubo cair de sua mão. Num esforço desesperado ele consegue colocar o braço esquerdo na garganta da criatura, e seus imensos dentes amarelos passam a centímetros de sua face. O hálito imundo o percorre e ele luta para não engasgar. O ogro é muito forte, como nada que Roku tenha sentido — Hiroku sensei falou disso, mas a experiência vai além do que qualquer palavra pode ensinar. Nem mesmo o irmão mais velho de Roku, que podia segurar um carro de boi enquanto trocava-se a roda, era tão forte.

O ogro o está esmagando, apenas seu braço esquerdo e a força de sua armadura resistem enquanto ele tenta espremer a vida e o fôlego de seu corpo. Roku olha nos olhos amarelos da criatura que quer comê-lo, matá-lo e à sua família, seu clã, todos no Império. O medo agarra seu coração. Ele morrerá ali, nas Terras Sombrias, e se seu cadáver sobreviver ele retornará à Muralha como um dos mortos andantes.

“Se eu morrer aqui,” ele engasga, “Vou te levar comigo, monstro!”

A mão direita de Roku se fecha na tanto amarrada em seu cinto; ele puxa a lâmina curta e a enfia no lado do peito do ogro. A afiada lâmina de aço afunda menos de um centímetro na carne espessa da besta. O ogro ri, saliva e pedaços de carne de goblin jorram de sua boca para atingir a face de Roku.

Gritando, Roku inclina sua cabeça para trás e a joga para frente, batendo seu kabuto de ferro na cara larga do ogro. É como bater com a cabeça numa parede de pedra — uma breve memória de um acidente de treino passa por sua cabeça — mas o ogro solta um urro e diminui sua força por um curtíssimo momento. O jovem Caranguejo geme, arrastando seu braço esquerdo e arrastando a tanto para cima com o direito… E então o ogro aperta de novo, e Roku solta um grito estrangulado quando seu braço esquerdo se desloca com um ruído dolorido. Seu fôlego sai de seus pulmões e sua visão fica escura e borrada, a dor em seu ombro se torna um fogo insuportável que parece afogá-lo.

O ogro sorri, seus imensos dentes amarelos brilham com sangue de goblin… E então seus olhos se arregalam e a pressão de seu punho de repente diminui. A besta cai para trás, esmagando os cadáveres de goblins que deixou na poeira. O cabo da faca de Roku está para fora de seu peito, guiada pela grossura de seu couro pela força de seu próprio abraço letal.

Roku se levanta, lentamente, tremendo sobre pernas fracas como os primeiros passos de uma criança. Lentamente a dor começa a diminuir lentamente, permitindo-lhe tomar ciência de ferimentos específicos. Seu braço esquerdo está fora do lugar e provavelmente quebrado. Algumas costelas suas parecem estar quebradas também, sua cabeça dói mais do que na primeira noite em que bebeu sakê, e ele percebe que perdeu três dentes.

Mas ele sorri quando tira sua wakizashi e corta a cabeça do ogro. Uma ameaça ao Império está morta… E esta noite na Muralha, o clã o saudará e celebrará. Outro samurai do Caranguejo chegou à maturidade.

5 comentários :

  1. Muito bom. Eu li essa fiction ontem mesmo e a tradução excelente.

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  2. Parabéns Hayashi, mal posso esperar pela tradução das próximas fictions...

    Victor

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  3. Valeu, pessoal.

    Bom, ainda estou vendo coisas para postar aqui. Mas, entre outras coisas, as fictions do The Great Clans já estão garantidas.

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  4. Ótima fic e ótima tradução. Parabéns Hayashi!

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