Conforme falei aqui no blog, a bola da vez é o RPG Jovian Chronicles. Ficção científica anime, ópera espacial, sistema psicótico, bla bla bla...
Mas uma dúvida que cheguei a compartilhar com o povo do facebook e gostaria de trazer para cá também é: Qual edição dele trabalhar? Jovian na verdade tem três edições. Uma delas é no sistema original do cenário, o Mekton Zeta, que é até bem legal de se conhecer. Mas não consegui achar este bendito livro de cenário. De qualquer modo, vale uma passagem pelo sistema Mekton, onde absolutamente QUALQUER COISA que lembre um robô bem lá longe pode ser montado devidamente. Contanto que você tenha muitas horas e neurônios para depositar nisso.
Mas falando de Jovian em si, vale dizer que o cenário foi posteriormente comprado pela DP9, que o adaptou ao seu sistema exclusivo, o Silhouette, ganhando duas edições, os famosos "livros brancos" (porque nas duas edições, as capas são brancas. No Mekton, a capa era verde escura). Na primeira edição, temos o sistema básico anexo ao livro básico. Faz bastante sentido, funcional, prático. Já na segunda, houve uma cisão entre sistema e cenário. O "Jovian Chronicles 2nd edition" comporta apenas descrições sobre os cenários, comentários superficiais sobre o sistema e uns mechas aqui e ali.
Nas duas versões, o sistema psicótico se mantém. Tudo é resolvido com d6's, numa lógica básica até que bem simples: Você usa o número mais alto de todos os dados (+bônus/-penalidades) para ver se você atingiu a dificuldade da ação pretendida. O que eu acho meio problemático é que a curva de probabilidade endoida com esse segundo fator: Caso mais um dado dê o resultado "6", este dado conta como +1 para o teste. Mas nem é isso que chego a achar mais problemático no sistema em si. Na hora que creio ser o que mais interesse no RPG (batalhas com navezonas e robozões) o mapa hexagonal e os princípios de que se você não "der ré" no seu veículo ele vai naquela direção ad infinitum já perturbam demais. Não obstante, ainda temos esquemas meio confusos sobre inversão de direção durante o movimento, e algo que até hoje não entendi muito bem como funciona para determinar altura e outros problemas tridimensionais num mapa bidimensional.
De resto, o sistema de combate me pareceu bem mortal (as armas dão danos cabulosamente altos), embora eu ainda precise tirar na prática para ter certeza de como funciona.
Ok, agora sobre as edition wars (XD): A segunda edição do sistema acrescenta algo que pode complicar (mais) a vida de todos, que é o esquema de "complexidade de perícia". Tal qual já estamos acostumados a ver, toda perícia tem um nível. Ele indica o quão bom você é naquilo. A complexidade da perícia é outro valor anexo a ela que indica a diversidade que você tem com ela. Ex.: Você pode ter Pilotar 5/1, indicando que você é um bom piloto mas dificilmente conseguiria lidar bem com um caça super-avançado tecnologicamente. De outra maneira, Biologia 1/5 indicaria que você sabe pouco sobre quase todo tipo de forma de vida.
A segunda edição em si é mais legal que a primeira (afinal se trata de uma evolução natural). A única coisa que odeio nela é a dependência vital do Silhouete CORE. Ela também possui maiores informações de fluffy (99% desnecessárias, como as opiniões dos pilotos após testarem alguns dos exos principais).
A saber, dou muita predileção à primeira edição, por ser mais simples, mais fácil de ser trabalhada e, apesar dos pesares, complica menos do que encher a mesa de cálculos como imagino que a segunda faça (a saber, a primeira também faz. Só que menos, eu imagino). Não, não há salto algum na história de uma para outra. Ambas aliás possuem textos quase iguais em muitos momentos. E ambas também deixam a história partir do mesmo ponto padrão.
Agora deixo-vos a pensar aí com o dilema e também com o conto introdutório da primeira edição (não há nada parecido na segunda):
JOGANDO
JOGOS
Tensões continuam a
crescer entre a Confederação Joviana e o Governo e Administração Central da
Terra. A Presidenta Joviana Alexandra Itangre anunciou ontem que as Divisões
Alfa e Gama das Forças Armadas Jovianas aumentarão as patrulhas na região do
Cinturão até a órbita de Marte. Oficiais do GACT anunciaram que forças navais
responderão à “defesa de nossa segurança planetária e à de nossos aliados em
Marte”. A Guilda Mercante Mercuriana já lançou um protesto contra os novos
limites impostos à viagem civil pela região contestada e o Banco Venusiano
expressou preocupações sobre o livre fluxo de capital. Observadores informados
dizem que as duas frotas estão em alto alerta e alguns preveem violência antes
do fim do ano que vem.
— Rede de Notícias Zenith Orbital, 3 de Janeiro de 2208.
13:00
horas - 8 de janeiro de 2208
“Creio que tenha explicações a dar,
senhor Malachai.” A precisa dicção do Diretor Kosama em seu Japonês nativo
ocultava seu desprazer pela sala inteira.
“Não há razão para se preocupar, diretor Kosama. Os
interesses do banco estarão protegidos a qualquer custo.” Devon Malachai
parecia desconfortável pelo imenso quadro diante dele. Uma janela de pelo menos
quinze metros de altura se erguia atrás dos cinco diretores do poderoso Banco
Venusiano, revelando a hostil paisagem da região polar do planeta.
“Certamente assim espero, senhor
Malachai. Graças à sua irresponsabilidade, uma repórter descobriu o Projeto
Lancelot na Estação Stevenson. Obviamente, seu plano de esconder seu projeto de
pesquisa genética ilegal em Saturno falhou completamente.”
“Não inteiramente, diretor.
Esta…” Malachai consultou suas anotações. “…Roxanne Fujita deve voltar de
Saturno antes que possa nos prejudicar. Estimo que ela se encontrará com
executivos da Rede Orbital Zenith na órbita da Terra para receber o dinheiro
por sua informação. A jornada deve demorar vários meses via linha comercial.”
Kosama pareceu aliviado e seu
humor se espalhou pela luxuosa sala de reuniões. “Excelente. Tomaremos
providências para cortarmos laços com Lancelot. Quando as notícias chegarem ao
ar, ninguém será capaz de descobrir os fundos das atividades. Não podemos
aparecer violando os Editos, afinal.” Os outros diretores murmuraram sua
concordância, mas Malachai sabia que eles estavam assinando a sentença de morte
de sua carreira.
“Diretor Kosama!” Malachai
respirou fundo, dominando sua emoção. Ele passou os últimos dez anos crescendo
pelos níveis de poder dentro do Banco Venusiano. Os diretores foram altamente
resistentes a promover um soldado e, ele estava certo, estavam procurando por
uma desculpa para despedi-lo. Ele não os daria uma. “Você não pode cortar
Lancelot; passei cinco anos fazendo este experimento e me recuso a vê-lo
descartado tão casualmente. Não quando há outra solução; uma que selará este
vazamento permanentemente.”
“Um assassinato só chamará mais
atenção para Lancelot e para nós, Malachai. Esta opção já foi descartada.” Para
soturnos executivos que controlavam grande parte da riqueza do sistema solar,
os diretores aparentemente pensavam pequeno demais. Malachai não.
Ele ativou um projeto portátil e
projetou uma imagem do sistema solar. Destacada em vermelho, uma fina linha
curva saía de Saturno pelo ponto L5 de Júpiter — conhecido como Novo Lar — rumo
a Marte. Seria o curso padrão de uma nave comercial indo de Saturno ou Titã
pelo atual alinhamento global. Uma série de outras linhas indicava as trilhas
naves militares da Frota GACT nas mesmas regiões.
“Mas e se Fujima fosse eliminada
de maneira que não pudesse ser relacionada a nos ou Lancelot?” Malachai sorriu
quando os diretores ouviram seu plano.
“Bom, senhor Malachai. Faremos
do seu jeito, mas você vai cuidar disso pessoalmente.”
Malachai engoliu, sua boca nunca
esteve tão seca. “É claro.”
22:00
HORAS –- 21 DE ABRIL
DE 2208
“Sabre Um, relatório.” A voz de
Páris apareceu nos fones de Helena e sua face apareceu num pequeno canto de seu
visor. Ela sorria toda vez que o via, todo vestido em seu uniforme das Forças
Armadas Jovianas. Como sempre, ele parecia mortalmente sério.
“O que é, irmãozinho?” Helena
não conseguia aguentar. 400 milhões de quilômetros de casa e ela ainda cuidava
dele. E ela ainda o enlouquecia.
“Lena, não quebre o protocolo!”
O calor de sua voz quando estava bravo era tão meigo.
“Oh, desculpe. Sabre Um aqui.”
Helena adotou uma grave e comicamente séria voz, esperando o impossível de seu
irmão rir na ponte da estação do JSS Audaz.
“Pareço séria agora?”
“Lena!” Páris estava tentando
sussurrar em seu microfone, mas Helena tinha quase certeza de seus colegas na
ponte podiam ouvi-lo. “Fique séria, isto não é um jogo!”
“Não, irmãozinho,” ela respondeu
em sua voz verdadeira enquanto manobrava seu interceptor lancer num rodopio. “Isto é muito mais divertido!”
“Pelo amor de Deus, Lena!”
Dessa vez ele pareceu realmente
bravo. Talvez ela devesse animá-lo pelo menos dessa vez. “OK, bem, não é um
jogo. Entendi.” Ela limpou sua garganta e adotou um tom militar. “Situação
normal. Prosseguindo com a patrulha designada. Nada a relatar.”
O alívio da voz de Páris foi
palpável. “Entendido, prossiga para… Saber Um, mudança de ordens. JSS Steadfast relata uma nave se
aproximando.” Coordenadas e outros dados transmitidos do Steadfast apareceram no console de Helena e colocaram a nave vindo
por trás da informação. “IFF é comercial, mas não temos qualquer registro de
plano de voo da nave em si. Leve a Esquadra Sabre e cheque. Distância atual é
de 10.000 quilômetros e se aproximando.”
“Entendido, comando Audaz.” Isso, isso deve deixá-lo feliz.
Ela não o chamava de ‘comando Audaz’
há quase uma semana. Helena abriu um canal de comunicação com seus alas; as
faces de Darren e Keiko apareceram em seu visor. “Ok, Sabres, hora de honrar
seus salários.”
Os três caças espaciais Lancer que formavam a Esquadra Sabre
acionaram seus motores de manobra em uníssono, girando de frente para a nave
que se aproximava. Os motores principais então dispararam, levando-os ao novo
curso. Helena amava a sensação de seu veículo acelerando e sorriu enquanto
afundava no assento do piloto. A posição rastreada do alvo foi repassada a ela
pelo Steadfast, logo ela não tinha
necessidade de anunciar sua presença com um sensor de varredura. Para aumentar
a discrição, Helena desligou a aceleração e manteve o silêncio no rádio até que
sua unidade se aproximasse a uns 200 km.
“Ok, gente, formação fechada.”
Os outros dois Lancers se aproximaram
e Helena abriu um canal ao veículo de carga. “Cargueiro não identificado, aqui
é uma patrulha de caças das Forças Armadas Jovianas, por favor identifique-se e
anuncie seu propósito.”
“Patrulha FAJ, aqui é a nave de
carga independente Belo Sonhador em
rota para a Cidade de Ceres em Novo Lar. Capitã Algaée DesSources no comando.
Meu propósito é comércio.”
00:15 HORAS –-
22 DE ABRIL DE 2208
“Você está louco?” A face de
Aglaée DesSources preencheu a tela principal da ponte do Daring. Seu belo semblante e pele lisa estavam um pouco distorcidos
pela óbvia irritação.
Capitão Luther Columbus,
comandante do JSS Daring, respirou
fundo. Sua cabeça já estava doendo. “Não completamente, Capitã DesSources.
Estou só dizendo o óbvio: Você terá que mudar o curso.”
“Isto está totalmente fora de
questão. Sou uma comerciante livre cuidando de negócios legítimos entre Titã e
Marte e não tenho intenção de mudar meu plano de voo gastar combustível para
atender seus desejos. Já basta eu ter que lidar com seus caças na minha tela.”
“Esta é uma operação de patrulha
das Forças Armadas Jovianas, não uma caravana de comércio nômade. Você nos
contornará enquanto viaja para Ceres.”
“Não, não vou.” DesSources
parecia estar lutando contra sua raiva e passou um momento para se recompor.
“Vou simplificar para você. Estou indo para Ceres para catapultar pelo
asteroide e conservar massa de reação. Se seguir suas ordens, não apenas vou
queimar massa para mudar de curso, mas também perderei Ceres e terei que
queimar ainda mais combustível para evitar voar à deriva.”
“Que seja—”
“Não tenho massa de reação para
poupar, Capitão. Simples assim: deixe-me passar ou chame a Cruz Solar porque
vou ficar presa no Cinturão pelos próximos 15 anos.” DesSources deixou a frase
penetrar. “Logo, não há muito o que discutir, não é?”
Columbus fechou o canal de
comunicação e se virou para seu oficial de navegação. “Tenente, ela está
certa?”
“Pode ser, senhor. Presumindo
que ela esteja com baixa massa de reação, seria difícil voltar a Ceres assim
que nos contornar. Eu não gostaria de estar com pouca massa tão longe, mas os
comerciantes são um povo esquisito.”
“De fato, são.” Columbus ajustou
a grade que o mantinha no lugar na microgravidade do destróier e reabriu o
canal. “Prossiga para Ceres, Capitã DesSources.”
“Obrigada, Capitão.” Ela
desligou as comunicações antes que Columbus a fizesse.
“Cabo Juno, abra um canal com o
grupo.” Uma simples luz indicou que o canal estava aberto. “Aqui é o Capitão
Columbus para todas as naves. Estaremos dividindo espaço com uma nave comercial
por um dia ou quase. Formação de escolta fechada e ajustar velocidades.”
Em pouco tempo, a tela tática
mostrava o grupo do destróier começando a responder. Os três destróieres classe
Thunderbolt — Audaz, Resoluto e Bravo — se colocaram ao redor do cargueiro com Audaz na liderança. Os dois cargueiros classe Forge — Alexandra e Magdalen — formavam a retaguarda da formação, com esquadras de
caças e exo-armaduras indo e voltando.
Este seria um longo dia.
12:40
HORAS –- 22 DE ABRIL
DE 2208
“Vermelho Um para comando Isonami. Em posição.”
Capitã Nera Pondera das Forças
Navais GACT falou diretamente ao tenente júnior que pilotava a exo-armadura Comando Wyvern. “Entendido Vermelho Um.”
Ela abriu sua tela tática e checou que tudo estava bem. Esquadrilhas Vermelho,
Azul e Ouro — consistindo de exos Wyvern,
caças Wraith e exos Syreen já estavam à frente da força de
ataque. Acima e abaixo deles estavam a nave de ataque de Ponderas, corvetas
classe Bricriu Tacoma e Arzana. Atrás durante a operação estavam
sua própria nave, o destróier classe Hachiman Isonami e um grupo de transportes de escolta classe Tengu. Mais do
que o suficiente para lidar com um cargueiro comercial, mesmo que ele
escondesse as piores surpresas.
“Atenção todos, aqui é sua
comandante. Lembro-lhes que esses são terroristas fanáticos com quem estamos
lidando. STRIKE está enviando equipes de assassinos para nossa terra natal e
não vai parar por nada. Somos a primeira e melhor linha de defesa entre eles e
a Terra.” Ponderas já havia lidado com o STRIKE antes e sabia que eles eram bem
perigosos. Ela estava feliz por ter chegado a eles primeiro dessa vez. De
acordo com sua informação, o cargueiro estava repleto de exo-armaduras e armas
roubadas, tudo indo para a Lua.
Ponderas abriu um canal de
comunicação interno para a observação do convés e sinalizou ao único passageiro
civil do CSS Isonami. “Senhor
Malachai, se você quer ver os terroristas que mataram sua família receberem o
que merecem, recomendo que vire o monitor que lhe fornecemos.” A Capitã sabia
que era contra o protocolo deixar o venusiano olhar, mas ele havia fornecido a
informação sobre o STRIKE usar o Belo
Sonhador como fachada para uma ação terrorista. Ele disse à Capitã em
confiança que o STRIKE havia assassinado sua esposa e filho. Ele queria
vingança e Ponderas apreciava isso.
“Esquadrilhas Azul e Ouro,” ela
continuou, “preparem-se para se aproximar da nave assim que as operações se
iniciarem. Esquadrilha Vermelha irá com vocês. Arzana e Tacoma darão
cobertura se necessário.”
“Ok, Vermelho Um. Ilumine o alvo
para nós.”
A Tenente Júnior Luce Sonora
socou algumas teclas e acionou o conjunto de sensores de seu Wyvern de Comando, enviando imensos
pulsos de radar/ladar pelo vácuo do espaço. Seu computador de alvo
instantaneamente começou a mostrar e identificar alvos — muitos alvos.
“Nave comercial — classe
desconhecida. Destróier — classe Thunderbolt. Destróier — classe Thunderbolt. Exo-armadura
— Pathfinder. Caça — Lancer. Destróier — classe Thunderbolt.
Transporte de escolta—”
“Oh, saco.”
12:44
HORAS –- 22 DE ABRIL
DE 2208
“Grupo de batalha GACT a 35 por
45, Capitão. Ao menos três esquadrilhas de exos e caças se aproximando e duas
corvetas Bricriu em formação de ataque.”
Columbus respondeu rapidamente.
“Ponha as esquadrilhas Sabre, Adaga e Espada em rota de interceptação. Mova Resoluto para proteger.”
Em pouco tempo, uma tela tática
estava na tela principal, revelando uma visão impressionante: um destróier
Hachiman, duas corvetas Bricriu e um transporte de escolta Tengu. Três alas de
caças e exos — Wraiths, Wyverns e Syreens — estavam lá também.”
“O que diabos esses moleques da
Terra estão fazendo? Abra-me um canal para aquela Hachiman.”
Páris Juno ajustou sua estação
de comunicação, esperando que suas mãos não tremessem demais — isso era real — mas não conseguiu nada. Suas
chamadas não eram respondidas. “Nada, senhor.”
“Droga!” Pessoas iam morrer e
Columbus não sabia porque. Ele não gostava nada disso.
12:57
HORAS - 22 DE ABRIL DE 2208
“O destróier líder está enviando
um pedido de novo, Capitã!”
“Ignore.” Capitã Nera Ponderas
não estava feliz. Isto deveria ser um ataque rápido contra terroristas, contra
no máximo uma esquadrilha ou duas de exo-armaduras roubadas. Agora ela frente a
frente com um grupo de destróieres das Forças Armadas Jovianas. Mesmo com a Isonami na luta esta seria uma batalha
difícil — com ela fora da zona de batalha, uma vitória era quase impossível.
Felizmente, eles não estavam ali para destruir naves jovianas; tudo que
precisavam fazer era eliminar o Sonhador
e o armamento em suas baías de carga.
“Nave inimiga identificada,
Capitã”, relatou o oficial de sistema de sensores. “Parece com o terceiro grupo
de destróieres. Os Thunderbolt são Audaz, Bravo e Resoluto.”
“Atenção, todos,” ela falou no
sistema de comunicação. “Naves das Forças Armadas Jovianas formaram um padrão
defensivo ao redor da nave alvo terrorista. Só podemos presumir que entraram
numa aliança—”
“Capitã, Arzana foi travada pelo Resoluto!”
“Tacoma, vá cobrir as Esquadrilhas Azul e Ouro. Tempo de contato com
os caças inimigos?”
“Oito minutos.”
“OK, damas e cavalheiros, é isso
aí. Vermelho e Ouro vão atrás dos caças inimigos. Azul se aproxime do Belo Sonhador. Quero este cargueiro
alvejado e destruído. Podemos limpar a bagunça diplomática depois.”
No convés de observação, Devon
Malachai sorria nervosamente. Sua simples tela tática mostrava as superiores
forças jovianas — o que eles estavam fazendo ali, ele pensava. Ainda assim, ele
havia escolhido bem. A tal de Ponderas era a perfeita joguete da Frota GACT:
dedicada, mente simples e mortal. Com visão de proteger o mundo natal e se
vingar por “aquele pobre joviano” passando pela cabeça, ela enfrentaria de bom
grado as naves jovianas e destruiria o Sonhador,
junto com Roxanne Fujima.
Ele notou com um pouco de alívio
que a Isonami ficaria fora da linha
de fogo. Ele deixou a Força de Defesa Natal Venusiana porque o irritava tirar a
vida dos outros. Que esse tolos do GACT façam isso por ele, agora.
13:04
HORAS - 22 DE ABRIL DE 2208
“Impedir!” Helena Juno puxou o
manche de seu Lancer, acionando
aceleradores laterais para mudar sua visão. A esquadrilha de exo-armaduras Wyvern agora estava no raio de dez
quilômetros e se aproximando numa velocidade relativamente imensa. A trava foi
fácil e ela disparou uma salva de três mísseis. Seu ala a seguia quase
movimento a movimento, antes de se separarem e perseguirem os Wyvern individualmente.
Só demorou alguns segundos antes
da primeira explosão. Um dos mísseis de Keiko acertou, explodindo em uma das
armaduras do GACT. Os sistemas de defesa pareciam ter lidado com o resto da
salva, porém. Helena acionou os aceleradores para mandar seu caça num padrão
complexo, enquanto rajadas repetidas dos canhões inimigos passavam por ela.
“Continuem, Sabres! Temos que
afastá-los das naves principais.” Helena sabia que não podia fazer muito,
porém. Só havia uma esquadrilha de naves inimigas, e elas já começavam a ter
uma vantagem apesar das baixas. O Lancer
era um caça poderoso, mas Wyverns
eram simplesmente mais manobráveis. Um alarme cintilante disparou em seu visor,
avisando que mais naves inimigas estavam a caminho.
Um segundo depois, o comando Audaz confirmou as leituras de seus sensores.
“Esquadrilha Sabre, Wraiths vindo às
cinco por dois baixo. Esquadrilha Adaga, mover em cobertura, TE 30 segundos.
Esquadrilha Espada, rastrear e matar Syreens
às uma por uma cima.”
Trinta segundos era muito tempo
para estar em menos número e Helena levou seu Lancer a manobras evasivas enquanto os Wraiths chegavam. “Saber Dois, Wyvern
às seis, mova para—”
Antes que pudesse terminar, o
exo do GACT disparou sua bazuca hiperbólica de novo, atravessando o caça de
Darren, que começou a girar fora de controle, seu interior brilhando de poder
explosivo. Helena sussurrou uma jura, girando para evitar uma salva dos dois Wraiths que chegaram por trás dela.
Onde raios estavam aqueles Pathfinders?
13:21 HORAS - 22 DE ABRIL DE 2208
“Tacoma, fogo!”
A ordem de Pondera se tornou
realidade numa fração de segundo quando várias dúzias de dardos das baterias
cinéticas duplas de Tacoma. Atingindo
uma impressionante velocidade relativa, eles cruzaram os oito quilômetros entre
a corveta Bricriu e o JSS Resoluto. A
nave joviana tentou acelerar para evitar a salva, mas não podia escapar afinal.
Ao menos cinco dos dardos atingiu o seu lado, rasgando camadas de armadura e
destruindo tudo por dentro.
“Arzana, fogo!” A segunda corveta Bricriu respondeu, disparando sua
própria salva de tiros cinéticos. O Resoluto,
apesar do dano que sofrera, estava se movendo agora e conseguiu tempo de evitar
grande parte da segunda rajada. O civil Belo
Sonhador não teve tanta sorte e seu compartimento de carga de estibordo foi
rasgado por projéteis super densos. Uma nuvem de brilhante vapor condensado e
destroços jorrou do casco quebrado da baía de cargas.
Ponderas demorou um segundo para
perceber o que estava vendo. “Inferno! Quero uma análise espectral daquela
nuvem, o que estão carregando?”
“Resoluto está disparando, Capitão,” interrompeu o controle de
armas. O destróier joviano danificado havia sofrido o bastante para apresentar
suas armas às naves de guerra da GACT. Suas próprias baterias cinéticas
lançaram um voleio de dardos, enquanto suas baías de mísseis liberavam várias
ogivas — todas miradas na Tacoma.
“Audaz se aproximando, senhora!” Na tela tática o destróier líder
estava virando para enfrentá-los, seus propulsores laterais queimavam em luz
branca na noite. Seus canhões rastreavam Tacoma
com facilidade e se abriram um segundo depois.
A corveta classe Bricriu
precisava de toda a sua lendária agilidade para evitar a destruição pois uma
barragem de dardos cinéticos e mísseis perseguidores choviam sobre ela. Seus
Lasers de Ponto de Defesa estavam disparando loucamente nos mísseis que vinham,
mas os dardos sólidos não emitiam sinal para o LPD rastrear. Os motores de
manobra e outros aceleradores da corveta vieram à vida como se a nave tentasse
evitar as salvas. Sua inércia foi grande demais, porém, e ela não conseguiu
evitar o disparo do Resoluto. Suas
torres portuárias ficaram em pedaços pelos dardos. A arma do Audaz disparou 45 segundos depois, mas
foi tempo o bastante — a Tacoma já
estava além da linha de fogo.
“Tacoma, responder fogo ao Audaz!
Arzana, concentrar em Resoluto e Bravo!” Capitã Ponderas sabia que ela tinha que conter os
destróieres jovianos. “Onde está aquela análise?”
“H2O e hidrocarbonos,
Capitã,” O oficial de convés percebeu o que estava acontecendo também. “Mas
pensei que esta nave estava carregando exo-armaduras.”
“Exatamente.” Pessoas estavam
morrendo e ela queria saber o porquê. “Tragam-me Malachai!”
No convés de observação, Devon
Malachai xingou em alta voz. Ele ignorou o comunicador e voou pelo convés,
tentando reajustar seu plano, se acalmar, qualquer coisa. Bem, ele pensou, ela
é apenas um soldado. Ela seguiria ordens. Tinha que seguir.
13:29 HORAS - 22 DE ABRIL DE 2208
“Comando Audaz para Esquadrilha Sabre.” A voz de Páris estava tensa, mas
certa. Ele estava indo bem. “Mova-se doze por dois baixo.”
“Entendido.” Helena afundou seu Lancer em relação à elipse, levando seu
ala consigo. Os Wyverns e Wraiths moveram-se para seguir, mas os Pathfinders da Esquadrilha Adaga os
afastaram das costas de Helena e Keiko. “Lembre-me de agradecer Adaga Um,
irmãozinho.”
“Mova-se para três e prepare
para correr em Bricriu Tacoma.” Páris
não subiu o tom de voz apesar do frenesi na ponte do Audaz. “Esquadrilha Adaga continuará a cobrir seus caças durante
uma—”
No mesmo instante, a estática
explodiu na unidade de comunicação de Helena, a voz de seu irmão Páris sumiu de
seu monitor e sua tela tática mostrava o Audaz
como “ATINGIDO”.
“Páris!” Freneticamente virando
sua cabeça e ajustando câmeras externas, Helena vislumbrou um destróier ferido,
seu lado aberto e gás e destroços vazando. “Páris! Responda, comando Audaz!”
“Sabre Um,” uma nova voz, novo
canal. “Aqui é comando Bravo, estamos
assumindo o comando das operações de caças; Audaz
relata baixas na ponte. Mova-se para três por um cima e continue seu ataque.
Alvo: destróier Tacoma, disparar
todos os mísseis.”
“Entendido.” Helena cerrou os
dentes e mordeu o lábio para canalizar sua concentração. Seu ala Darren estava
morto e seu irmão sangrando ou morrendo, mas tudo que ela podia fazer era fazer
os culpados pagar. Sua tela tática mostrava o Resoluto e Audaz como
danificados e duas corvetas Bricriu do GACT se aproximando para matar. Tacoma era a mais próxima e tinha
causado maior dano até agora. O computador navegador rapidamente calculou uma
abordagem. Ela rejeitou sua escolha e fez a própria.
“Sabre Três, siga-me; vamos
fazer um ataque relâmpago. Keiko, você é o escudo.” Os Lancers se moveram numa formação apertada com Sabre Dois à frente.
Eles assumiram uma abordagem em arco, tentando maximizar sua velocidade
relativa à da Tacoma. Eles passariam
por ela numa velocidade absurda, dificultando o destróier a travar neles. Eles
ainda poderiam alvejar a nave imensa, porém.
Enquanto investiam para o
destróier, eles viram seus canhões se abrirem de novo. Helena rezou para que o Audaz o evitasse. Ela não teve tempo
para chegar. “Keiko, ao meu sinal… Agora!”
Sabre Dois lançou uma imensa
salva de pequenos mísseis MMJ-2LR, rapidamente seguidos por um segundo voleio.
Keiko acrescentou todos os seus dois mísseis de asa restantes, criando um
enxame de ogivas. Os pequenos mísseis anti-veiculares não eram uma grande
ameaça para a Tacoma mas seus lasers
de defesa pontual nunca os alvejariam. Os minúsculos painéis e torres
explodiram, tentando rastrear a dúzia de mísseis. O SDP estava fazendo um bom
trabalho, mas estava sendo cobrado ao seu limite; Helena tinha uma janela por
onde olhar.
“Mísseis disparados!” Helena começou
com seus mísseis pesados anti-nave HMJ-6. Quatro poderosas ogivas deixaram seus
lançadores enquanto seu Lancer passou
a cem metros acima do casco de Tacoma.
Nenhuma fuga era impossível, nenhum SDP poderia responder, e a Esquadrilha
Sabre deixou uma corrente de destruição explosiva atrás dela.
Explodindo pelo lado estibordo
do destróier, os mísseis do Lancer
atingiram Tacoma numa linha perfeita.
O primeiro tiro atingiu o casco frontal, arrancando as imensas placas de
armadura e causando danos internos severos. Então vieram os canhões de
estibordo; menos protegidos que o casco, sofreram dois acertos diretos e
detonaram numa explosão de metal e circuitos fundidos. O último míssil foi
mirado no motor de fusão do destróier, atingiu em seu corpo, e destroçou uma de
suas quatro pás de direção.
Helena e Keiko estavam além do
destróier num instante, deixando a Tacoma
em ruínas. Massa de reação, atmosfera e destroços estavam jorrando por todo o
estibordo, criando uma nuvem crescente de partículas e cristais de gelo. A nave
estava começando a girar, alguns módulos de fuga ejetavam de seu lado intacto a
bombordo.
13:46
HORAS - 22 DE ABRIL DE 2208 q
“O que estão fazendo?! Continuem
atirando!” Malachai estava voando no convés de observação, seus gestos furiosos
o faziam flutuar no ambiente de micro gravidade. “Você tem que completar a
missão.” Ele estava tendo dificuldades em manter o tom de sua voz.
“Senhor Malachai.” A voz da
Capitã Ponderas era fria e amarga. “Seu pequeno plano já custou as vidas de
quase trinta bons soldados. Tenho—”
“Mas os terroristas, você não
pode deixá-los escapar!” Soldados do GACT eram fanáticos em eliminar
terroristas. Ele ainda podia jogar esta carta. Ela não mordeu a isca.
“Não há terroristas, senhor
Malachai.” Seu tom foi afiado e frio, e ele sentiu um nó no estômago. “Este
cargueiro está transportando água, metano e outros suprimentos.” Ela deixou a
frase penetrar, e observou o pânico e a raiva correrem a face de Malachai antes
que um semblante de calma retornasse. “Um engano grave foi cometido, senhor
Malachai, e suspeito que tenha sido seu. Já dei ordens de cessar fogo e disse a
nossas forças para retornarem. Minha decisão é final; creio que deva considerar
suas próximas palavras cuidadosamente.”
Ele sentiu o suor na
sobrancelha. Ela simplesmente não podia entender. O Banco não lhe deu segundas
chances. Se aquela reporterzinha chegasse à Terra, ele estava acabado. Como ele
odiava aquela mulher. Sua raiva repentinamente cresceu dentro dele e explodiu.
“Sua vaca! Você está deixando a nave escapar! Você não percebe—”
Capitã Ponderas desligou o
intercomunicador e se sentou novamente em sua cadeira. “Mandem PMs lá embaixo.
O deixaremos assim que voltarmos à base. Navegação, calcular as trajetórias dos
módulos de fuga que saíram da Tacoma
e trace um curso de interceptação que nos mantenha longe das forças jovianas.”
Ponderas percebeu entristecida que não seria difícil calcular; apenas dois
módulos saíram da corveta destruída.
“As forças jovianas estão
recuando também, Capitã. Elas parecem ter aceitado o cessar fogo. A nave
terrorista ainda está com eles.” Um leve tom de crítica rastejava no tom da voz
do oficial de navegação.
“Contenha esta atitude,
Alferes.” Ponderas já estava brava o suficiente com Malachai e consigo mesma
por acreditar nele; ela não precisava de outro na ponte a questionando. “Alguém
estava brincando conosco.”
00:00
HORAS - 23 DE ABRIL DE 2208
“Damas e cavalheiros do terceiro
grupo de destróieres.” A voz de Columbus ecoou por todas as naves sob o seu
comando, sua face em bandagens aparecia nos monitores e telas. “Este foi um dia
triste para nós.”
A imagem na tela de comunicação
mudou para uma imagem externa tirada da Alexandra.
Todas as outras naves do grupo de destróieres foram atingidas e muitas possuíam
as armas do combate.
Dez horas após o fim da batalha,
os combatentes estavam bem afastados um do outro. O Resoluto só contava com um reator de fusão, o grupo de destróieres
inteiro estava indo para Ceres, onde poderiam pegar suprimentos antes de
voltarem a Júpiter.
“O Resoluto e o Audaz
sofreram durante este combate, como sofreram nossas forças de caças e
exo-armaduras. Hoje, contamos nossos mortos e saudamos sua bravura na linha de
fogo.” De pé na frente dos oficiais sobreviventes do Audaz, a voz de Columbus era sólida e certa, mas muitos viam a
tristeza em seu rosto. “Enfrentamos um brutal e gratuito ataque e defendemos as
vidas de inocentes. Mostramos às forças do Governo e Administração Central da
Terra que não podem atacar pessoas cuidando de seus negócios legítimos indiscriminadamente
pelos territórios livres.”
“Alguns de nós pagaram o preço
cabal durante esta batalha. Vinte tripulantes do Audaz, 31 a bordo do Resoluto
e cinco pilotos de exos e caças, não retornarão para casa. Eles nunca verão os
céus escarlate e laranja de nosso planeta de novo. A eles agradecemos, pois
deram suas vidas pelas nossas. Como é nossa tradição, Chefe Hectors lerá os
nomes dos mortos e seus corpos serão confiados às estrelas. Deus os abençoe e
os leve em Seus braços.”
Helena Juno prestou atenção aos
nomes dos pilotos, suas botas magnéticas a mantinham no chão apesar da falta de
gravidade, e saudou os nomes que eram lidos.
“Cabo Muriel Anders; Soldado
Ethan Azona…”
Ela sentiu o calor se espalhar
pela sua face enquanto a lista crescia. A tela mostrava os corpos envoltos
saindo do compartimento de carga dos barcos em que serviram. Alguns ela
conhecia, outros não; todos doíam.
“…Tenente Katherine Fendel,
Soldado Darren Gimble, Sargendo Didier Gillaume…”
Um nome lido e faltava outro.
Helena prendeu a respiração. Ela sentiu que ia desmaiar, ou chorar, ou morrer.
Ao invés disso ela preparou sua continência e se segurou.
“… Sargento Mestre Vicenzo
Itoglio, Cabo Páris Juno, Soldado Gabrielle Lan…”
17:35
HORAS - 3 DE JUNHO DE 2208
“Eu posso explicar.”
Devon Malachai chegou a Nova
Tóqui há apenas uma hora. Nos longos meses desde a falha do ataque GACT ao Belo Sonhador ele não fez nada além de
tentar criar alguma forma de desculpa do porquê Roxy Fujima ainda estava viva.
Os diretores reunidos do Banco ainda iriam se pronunciar. Malachai abriu sua
boca para começar seu longo discurso quando o presidente simplesmente apertou
uma tecla em sua mesa. Um monitor de vídeo se ligou em resposta.
“… Roxanne Fujima tem mais.
Roxy?” O âncora da ZONet parecia perfeitamente polido. O logo da rede estava
coberto por uma pequena tarja indicando quando a transmissão foi gravada.
Malachai já a tinha visto mais de uma vez, mas ele sabia que estava sendo
ordenado a assistir de novo.
“Obrigada, Xavier. Como você
sabe, as nações do sistema solar vivem sobre Editos mutuamente criados que
impõem limites ou banem imediatamente certas formas perigosas de pesquisas
científicas, incluindo campos como inteligência artificial e genética. Mas como
se pode ter certeza de que os Editos estão sendo obedecidos? Por anos ouvimos
rumores de estações de pesquisas ilegais operando com aval de uma nação ou
outra. Provas, porém, sempre foram difíceis de encontrar — até agora.”
A imagem da jovem repórter
eurasiana mudou para fotos de um avançado laboratório de biologia. “Essas
imagens foram tiradas com uma câmera escondida que carreguei na Estação
Stevenson na órbita de Saturno. Este longínquo posto da humanidade seria o
lugar perfeito para esconder pesquisas ilegais e foi exatamente isto o que
encontrei.”
Outro corte, desta vez para uma
estação de trabalho com um molde de DNA flutuando numa matriz holográfica.
“Essas fotos de pesquisas em manipulação genética humana em larga escala foram
tiradas nas instalações da Robora Tecnologias — laboratórios dedicados ao
Projeto Lancelot, para ser precisa. Os fundos e propósitos de Lancelot
continuam incertos, mas investigadores da SolaPol estão a caminho de Saturno
neste momento para investigar evidências fornecidas pela ZONet News.”
A imagem congelou, deixando a sala
em total silêncio. As faces dos diretores só eram iluminadas pela fraca luz
laranja emitida pelo rosto de Roxy Fujima. Como Malachai odiava aquele rosto.
“Este é apenas um pequeno
retrocesso. Os fundos de Lancelot podem ser mascarados facilmente e seus
recursos realocados…”
“Já cuidamos disso, senhor
Malachai.” A voz do presidente era fria e distante. “Reunimo-nos aqui apenas
para discutir o que fazer com você. O Banco não está acostumado com falhas.”
“Eu não falhei!” Lancelot era
promissor e continuará sendo. Fujima pagará pelo que fez a nós, bem como
aqueles tolos jovianos. Sangue jorrará disso, eu lhes prometo isso!”
Os diretores se levantaram em
uníssono e começaram a ir embora. O próprio presidente esperou mais um momento,
deixando algumas últimas palavras. “Vingança é o recurso de homens instáveis.
Tornou-se óbvio que operamos num nível que você não está familiarizado,
Malachai. Considere este seu aviso de demissão.”
“Você não pode fazer isto
comigo—”
“Acabamos de fazer, senhor
Malachai. Acabamos de fazer.”
07:35
HORAS - 8 DE NOVEMBRO DE 2210
“Nave 23 para comando Valente. Requisitando permissão para
aproximação final.”
Tenente Helena Juno — ela ainda
não estava acostumada com a nova patente — mantinha a nave de passageiros numa
trajetória reta, se movendo a 300 metros por segundo. Ao lado dela, o oficial
designado para pilotar a nave parecia um pouco nervoso de tê-la ao leme, mas
ela era uma piloto experiente; ele não tinha com o que se preocupar.
“Nave 23, você tem permissão
para se aproximar e aportar no Valente.
Por favor, prossiga.”
Olhando pela tela, ela manobrava
a nave num curso de interceptação com o poderoso cargueiro de ataque a 13
quilômetros de distância. O Valente
estava virtualmente coberto por M-pods de manutenção e suprimento correndo pelo
seu poderoso casco. Helena desacelerou 90 milhas por hora e falou aos
passageiros. “Lá está ela, Capitão.”
Luther Columbus sorriu
largamente quando viu a nave que seria dele. Os outros membros da equipe de
comando, todos veteranos do terceiro grupo de destróieres, logo se juntaram a
ele. “Observem, meus amigos, esta é a nave que cuidará de nós de agora em diante.”
Eles se sentaram em silêncio
enquanto o cargueiro crescia. Seu grande casco estava alinhado com catapultas
de propulsores de massa das quais os caças e exo-armaduras sob o comando de
Helena seriam lançados. Os alojamentos agora eram em modo centrífugo. Separados
do casco, eles lentamente giravam ao redor do eixo para manter a gravidade
artificial. Bem abaixo da armadura do casco estava a ponte, onde muitas pessoas
da nave iriam servir. Imensas baterias de canhões cinéticos estavam no lado do
casco, mas a arma mais impressionante estava anexa no corpo da nave. O laser
espinhal, logo abaixo das portas de lançamento dos mísseis, podia atravessar
qualquer nave que encontrasse e fazia do Valente
uma força a ser temida. Ela era espetacular e tirava suspiros coletivos.
Columbus, Helena e os outros
sentiam pontadas de arrependimento, porém. Ser escolhido para comandar a
primeira de uma nova classe de naves era uma grande honra, mas deixar para trás
o JSS Audaz e o terceiro grupo de
destróieres era bom e ruim. Eles viveram — e viram outros morrer — naquelas
naves e um pouco do Audaz sempre
estaria com eles.
Suas reflexões foram
interrompidas por uma esquadrilha de três Pathfinder
Alfas vindo por cima. Suas insígnias os identificavam como Esquadrilha
Tigre, uma das duas unidades agora sob o comando de Helena. Os pilotos e
tripulação ficaram no grupo de ataque por alguns dias. “Bem-vindos ao Valente, Nave 23.”
As três esguias exo-armaduras
entraram em formação um pouco à frente da nave, para que ficassem totalmente
visíveis pelas janelas. Assim que suas velocidades equipararam, eles
rotacionaram em uníssono para ficarem de frente para a nave. Juntos, eles bateram
continência. “Feliz em tê-los a bordo, senhores!”
Columbus sorriu, mas Helena o
interrompeu no comunicador. “Esquadrilha Tigre! Aqui é Tenente Juno! Retornem à
formação padrão e continuem sua patrulha imediatamente.”
O exo líder se zangou um pouco, respondendo
ao movimento do surpreso piloto novato. “Mas, senhora…”
“Cabo, você está viajando a 90
metros por segundo rumo a um grupo de naves e sua atenção está em nós.” A voz
de Helena era fria e clara. “Isto é um problema.”
“Sim, senhora.” Os exos retornaram
à posição de voo padrão e foram embora. Helena desacelerou a nave para preparar
para a aproximação final. Ela sabia que o capitão tinha algo a dizer.
“Você foi muito dura com eles,
Helena.”
“Eles são novatos, Capitão.
Precisam aprender.” Ela mais respirou as palavras do que as disse. “Isto não é
um jogo.”
MASSSSSSSSS BAAAHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!!
ResponderExcluirEscolha a que quiser!!!! Faz anos que penso em dar uma chance e ler o JC (any edition) mas nunca li.
Seria muito bom para o público em geral a adição de QUALQUER edição do Jovian. Não conheço elas, mas acredito em vsa. na escolha da edição.
Hayashi, tu és um santo do RPG!
Sendo assim, vou começar a colher assinaturas para solicitar minha beatificação no Vaticano. XD
ExcluirNo momento, estou trabalhando fortemente na 1ª mesmo. Embora de fato o livro da 2ªtenha algumas coisas legais, tipo um índice remissivo qse prestável. Mas vou ver o q ainda pode ser feito para talvez até frankensteinizar as duas edições.
E obrigado pelo comentário e volte sempre.