Idéias para RPG: Changeling + Fábulas (Bill Willingham)

Sinceramente, tenho andado sem muitas idéias do que postar no blog. Quase sempre os assuntos andam permeando Qin ou L5R, e temo que a HnI acabe se tornando um blog restrito a esses RPGs. Contudo, depois da bronca generalizada que todo mundo levou hoje sobre a simulação de pré-projetos, imagino que essa situação vá piorar ainda mais. Definitivamente, precisarei dedicar mais tempo aos meus projetos acadêmicos (potencialmente inúteis) e o blog provavelmente ficará meio abandonado neste tempo.

Mas não temam! A seção Gempukku certamente continuará, pelo menos no próximo post.


Bom, mas no meio de tanta incerteza, peso nos ombros e socos no estômago acadêmico, ao menos minhas idas e vindas à loja de quadrinhos daqui tem sido recompensadora. Tenho gostado bastante do plot atual que tem inserido todo o DCverso ("A Noite Mais Densa"), principalmente por protagonizar minha equipe de heróis predileta: A Tropa dos Lanternas Verdes (repitam comigo em voz alta: "No dia mais claro, na noite mais densa..." XD).

Capa de "A Marcha dos Soldados de Madeira" (EUA). Nela, temos
Chapeuzinho Vermelho à esquerda, ladeada por Bigby, Brance de Neve
(grávida!). Além de Pinóquio e os temidos soldados de madeira
Hugo, José e Luís.

Mas também não é sobre isso que quero falar. Em minha mais recente ida à Conclave, tropecei numa raridade: um exemplar perdido de Fábulas. Salvo engano, seu volume mais atual aqui no Brasil (Terras Natais). Fábulas é uma história em quadrinhos que aprendi a adorar e de longe, considero uma das melhores obras dentro do Universo Vertigo. De lá pra cá, fiquei muito fã do trabalho do Bill Willingham como roteirista, ao ponto de considerá-lo alguém tão bom nisso quanto, senão melhor que o tão adorado e admirado Neil Gaiman.

Pegando pelo viés que "sempre dá certo" de colocar no cotidiano banal urbano relacionado a mitologias, misticismo e coisas fantásticas de modo geral, Fábulas se baseava primeiramente em apresentar versões "mais realistas" sobre os contos de fadas célebres da cultura popular. Neles, os sete anões não são as tão boas almas que cuidam da princesa perdida Branca de Neve. Que por sua vez, também não é mais a mocinha plácida e inofensiva com que estamos acostumados. O Príncipe Encantado é o conquistador que toda mulher sonhou, e ele acha injusto reter seus dons a apenas uma princesa (ou seja, ele é um galinha mesmo). A bruxa de Joãozinho e Maria, por outro lado, não é tão má assim; ao passo que o Lobo Mau, bem... Tem muitos motivos para ser... Mau. E Pinóquio virou um menino de verdade, mas... E depois? Essas e outras histórias se encontram, convivem e vivem várias aventuras nas terras imaginadas pelos humanos na Antigüidade Terrena.

"A princesa beija o sapo e..."
Creiam-me, este não é o final da história...

Contudo, mais recentemente, o "Imperador" simplesmente tem conquistado irrefreavelmente reino após reino dos contos de fadas. Os mais lendários guerreiros perecerem diante de suas hostes de monstruosidades demoníacas e a única saída para as "Fábulas" são os portais para o nosso mundo terreno. Com o tempo, porém, esses mesmos portais foram fechados pelas forças do Imperador. As Fábulas que se estabeleceram nos EUA, porém, conseguiram se reunir num (não tão) pacato condomínio, apelidado entre elas de Cidade das Fábulas. As de aparência mais incomum aos humanos, como sereias, animais falantes ou monstros diversos, no entanto, foram remanejadas para uma fazenda nos quiprocós do estado de Nova Iorque, criativamente chamada de "A Fazenda" (felizmente, em nada tangente ao reality-show da Record).

Ah, sim. Outro detalhe importante. Uma vez no mundo real, todas as Fábulas precisam jurar anistia. Ou seja, bruxas não podem mais tentar arrancar corações das lindas princesas para fazer poções, nem príncipes bonitões matarem dragões porque deu vontade. Inclusive, o próprio Bigby (mais conhecido em terras tupiniquins como Lobo Mau) é o "xerife" da Cidade, não podendo mais ser acusado pelos crimes que cometeu nas Terras Natais. Uma ou outra Fábula, porém, recebeu encantos que permitem disfarçar sua aparência humanamente. É o caso de Bigby, que aparenta ser um homem de meia idade com barba por fazer e vive fumando charutos, quando na verdade é um lobo imenso.

Pinóquio e seus soldadinhos de madeira.
Ou talvez seja o contrário...

O fato é que as Fábulas viveram por séculos no subúrbio da Grande Maçã sem causarem grandes problemas, vez ou outra até se relacionando com humanos comuns comedidamente. Mas, como era de se esperar, o Imperador começou a perseguirem-nas até mesmo aqui, é onde se tem início a "Marcha dos Soldados de Madeira" (foi a primeira edição de Fábulas que comprei. Portanto, já existente no mercado nacional em nosso idioma).

Tá, tudo isso é muito legal, muito divertido... Mas o título do post falava sobre "Idéias para RPG". E o que tudo isso tem haver com a rolagem frenética de dados?

Bom, não sei se já falei a respeito no blog, mas uma das poucas coisas que considero salváveis no Antigo Mundo das Trevas, era o "cenário" de Changeling, o Sonhar. Nele, os jogadores interpretam seres meio-fadas/meio-humanos, capazes de acessarem os poderes do Sonhar e esporadicamente manifestá-los na realidade banal.

Em Changeling, tudo parece ir às mil maravilhas para os jogadores. Uma fração significativa da "alma" do personagem é uma fada. Um ser místico de poderes quase incalculáveis. Praticamente é missão delas inspirarem aos humanos a feitos de grandeza, seja nas artes, ciências ou na guerra. Elas vivem intensamente, e ensinam aos humanos a tirarem os melhores de suas vidas. Não se sabe até hoje se elas são influenciadas pelos pensamentos humanos, ou cabe a elas influenciarem os humanos aos bons pensamentos, mas, de qualquer forma, praticamente todo kith (raças de Changelings) é intrisicamente relacionado a um sentimento ou emoção nobre dos humanos.

Capa de Changeling, o Sonhar.
Sim, este relógio tem 13 horas.

Ou seja, ser um Changeling é muito legal. Se você não vivesse no Mundo das Trevas. As fadas viajam para o mundo banal "dentro" de corpos humanos porque a "Banalidade" (resumidamente, sentimentos negativos) as matam (imaginem a Sininho desmaiando quando alguém diz que não acredita em fadas. Mais ou menos isso). E nosso mundo irradia Banalidade naturalmente. E se é fácil você se sentir triste na nossa realidade tal qual ela é, imagine o quanto isso é mais grave no Mundo das Trevas da White Wolf, em que em toda esquina alguém quer te passar a perna, não se pode confiar em ninguém e várias criaturas sobrenaturais espreitam pra brincar com as vidas de milhares como se fossem peões de xadrez... Ou coisa ainda pior. Nas palavras de uma Narradora épica daqui, "Por mais que haja desafio a ser superado em Lobisomem, conflitos internos em Vampiro, em Changeling é o único lugar onde se luta uma batalha TOTALMENTE perdida." Não se pode vencer a Banalidade. Ela está crescendo cada vez mais, o mundo cada vez mais sombrio a tal ponto que o Grande Inverno (o total domínio por parte da Banalidade) é inevitável. Agora some isso ao fato das passagens para o Sonhar (reino natal das fadas) estarem cada vez mais raras, o caminho para Arcádia perdido, a nobreza Changeling cada vez mais paranóica e vítima de seus próprios vícios antigos, incabíveis ao mundo moderno, e você tem aquilo que o Mundo das Trevas deveria oferecer mais primordialmente: drama, interpretação, e um oponente "quase" invencível.

Enfim, algumas semelhanças entre essas duas histórias só me ocorreram agora:

1. As Fábulas fogem de suas Terras Natais para fugirem do Imperador. Os Changeling, por outro lado, parecem estarem aprisionados na Terra, tentando encontrar o caminho para Arcádia (a "capital" das fadas) antes da chegada do Grande Inverno de Banalidade aqui na Terra.
2. Ambas possuem grande influência da Europa romântica, com reis, princesas, duques e aquela nobretaiada toda. Jogos de poder são constantes nos dois lados, além de certa dose do heroísmo cavaleirístico ser bem dosado nas duas também. Heróis muito corajosos não tendem a durar muito, em nenhum dos dois lados, afinal.
3. Inspiração óbvia nos contos de fada, literatura medieval e mitologias, tudo isso liquidificado à vida cotidiana moderna. Ou seja, Fábulas vão ao supermercado. Changelings possuem empregos banais, e assim por diante.

Enfim, muita coisa poderia ser apontada como positiva e presente nesses dois lados. Mas, falando especialmente sobre RPG + Changeling + Fábulas, creio que seja bem interessante pegar o sistema de Changeling, e jogar os jogadores na Cidade das Fábulas. Talvez como "recém-chegados", saídos diretamente das Terras Natais (sem saber o que é "orkut", celular, TV, carro e coisas assim), ou como Fábulas que já apareçam nas hq's. Daí, eles teriam que lidar com os problemas já cotidianos para nós (pegar ônibus, trabalhar, estudar, etc.) e ainda lidar com o Imperador e seus soldados de madeira no encalço de todo mundo.

Além de, claro, trombarem com NPCs marcantes, como o Príncipe Azul, Papa-Mosca (que atendia nas Terras Natais pelo nome de Príncipe Ambrósia - maiores informações, LEIAM A HISTÓRIA!), Pinóquio, Bibgy, Bela e Fera (que agora estão casados, e morando juntos num apartamento do condomínio), Encantado e vários outros.

Bom, gostaria de discorrer mais sobre esse tema, mas o post já tá grande, e vocês já devem estar cansados. Mas, até agora, o que consideram? Viável?