22 de fevereiro de 2011

L5R - Gempukku (Parte 11): Misticismo, Espiritualidade e Magia



Olá, blogueiros de plantão! Comeram arroz hoje?

Em primeiro lugar, hoje foi um dia cheio, portanto não estou em 100% de minhas condições normais. Assim, não estranhem se o post ficar uma droga, já que o assunto não é dos mais simples.

Bom, a pedido do Pablo (de quem eu vou ler o RPG que me mandou assim que meu cérebro voltar do conserto), hoje estaremos excepcionalmente abrindo a semana para falarmos de mais uma interessante faceta de L5R. Magia não chega a ser novidade em 99,9% dos cenários de RPG de fantasia. Em quase todo D&D a magia está lá. Arcana, divina, primal, taumatúrgica, mekânica ou sei lá mais de que tipo. Mas, e em Rokugan, que é um cenário burocrático pra tudo? A magia lá também é cheia de rituais, protocolos e filas que nem as do INPS? Bom, não é bem por aí. Mas, antes de mais nada, vamos diferenciar as três coisas mais proeminentes associadas e por vezes erroneamente confundidas com magia em Rokugan:

1. Magia Elemental
O tipo mais simples e habitual de magia encontrada em Rokugan. Esta é a forma (padrão) dos shugenjas usarem seus poderes. Obviamente, o termo "elemental" se refere aos cinco elementos que compõem tudo no Universo: Terra, Água, Fogo, Ar e Vácuo (ou Vazio. Depende de quão budista é o tradutor).

Antes de explicar o que é a magia elemental propriamente dita, vamos explicar o que é sua mais básica unidade: os kamis, os espíritos elementais. Basicamente, tudo em Rokugan é composto de combinações e quantidades variadas desses espíritos. Sim, espírito gera matéria. Uma pedra é composta, obviamente de kamis de Terra. Ou talvez de apenas um kami. Isso quer dizer que eles ficam inertes na sua forma material até que outra força aja sobre eles? Não. Tecnicamente, quando se acende uma fogueira, você está chamando os kamis do Fogo que já estão por ali a se manifestarem fisicamente. Kamis de todos os elementos costumam ser encontrados em qualquer lugar. Só não se manifestam fisicamente (como fogo embaixo d'água) porque escolhem não fazê-lo. Sim, para os espíritos do Fogo, riscar um fósforo ou acender uma fogueira com pederneiras é quase o mesmo que uma prece de um shugenja orientando-os a acender a fogueira. Teria diferenças, mas na prática, para o propósito "acender fogueira", o efeito é o mesmo. Isso quer dizer que a magia rokugani não é tão burocrática, séria, sisuda, ritualística e hermética assim? Bom, ela é bem menos complicada do que muitos pensam.

Primeira parte em que muitas pessoas costumam confundir. Dizer que a magia elemental comanda os kamis remete ao raciocínio inicial de que os shugenjas comandam os elementos à maneira dos "dobradores" de Avatar: The Last Air Bender. Sim, está correto. Não são raras as visões de shugenjas tacando jorros de fogo, relâmpagos, fazendo fincos de terra surgirem do chão ou atirando correntes de água ou lufadas de vento para atrapalhar seus inimigos das mais diferentes formas. O que é complicado para as pessoas "de fora" entenderem, é que Fogo não é apenas a chama no pavio da vela, ou a labareda sobre a lenha. O Fogo é tanto a capacidade humana de trazer luz à escuridão da ignorância, quanto a capacidade de ter a precisão e coordenação de um raio, que por mais destrutivo que seja, ainda é uma força puríssima da natureza. RPGistas ligados facilmente associarão essas sentenças aos atributos Inteligência e Agilidade da ficha de personagem. Não coincidentemente, são os Atributos ligados ao Anel do Fogo. Ou seja, quanto mais esses Atributos são elevados em harmonia, mais próxima do elemento Fogo uma pessoa é. Raciocínios semelhantes se desdobrariam aos outros Anéis.

A Fênix, além dos melhores shugenjas, também conta
com os melhores shugenjas surfitas do Império!
Logo, feitiços de Água tendem a serem mais direcionados à remoção de impurezas (cura, entre outras coisas) e auxílio na batalha (pois o guerreiro ideal é irrefreável e incessante como o rio); os de Ar visam capacidades intuitivas e efeitos práticos mais sutis (pois o Ar representa aquilo que não pode ser visto, mas pode ser sentido, como os pensamentos humanos); os de Fogo são por vezes os feitiços mais agressivos e danosos, mas também os de afetam a esfera mental; e os de Terra, a estabilidade, e as diversas tarefas humanas associadas à Terra, como agricultura, metalurgia e extrativismo mineral (JADE!).


"FIREBALL! Digo, Chamas do Âmago!"

O Elemento do Vácuo é o mais complicado de se entender. Por quê? Por que não há um exemplo palpável para o Vácuo. Na verdade, não há exemplo algum. O Vácuo é o mais fugaz dos elementos, mesmo em comparação ao Ar. O Vácuo, como o nome diz, não é nada. NADA mesmo. Bom, você deve ter uma mesa aí perto de onde você está lendo este post, não tem? Olhe bem para ela. O que há entre os pés da mesa e o chão? Nada. Depois dos pés da mesa, vem o chão. Pronto. Pois é. Isto é o Elemento do Vácuo. Ele não existe propriamente, mas permeia todos os outros objetos, corpos e provavelmente kamis também. Por isso o Anel do Vácuo na ficha de personagem não representa nada (ele não possui Atributos), mas pode se transformar em qualquer outra coisa (diferentemente dos outros elementos), no caso, como um "esforço a mais" por parte do personagem. Derivado ou não de uma epifania repentina mística transcedental. Bom, se entender o que é o elemento do Vácuo já é complicado, lidar com ele é proporcionalmente difícil. Tanto que shugenjas portadores do raríssimo dom Ishiken-do (habilidade de "falar com o Vácuo") por vezes acabam loucos ou morrem prematuramente. Os feitiços de Vácuo tendem a ter ênfases extremamente sutis, mas capazes de perceber mudanças insensíveis a outros elementos.

Beleza. Então shugenjas são samurais que saem por aí conversando com amigos imaginários que fazem as magias por eles propriamente? Exato. Um shugenja, por si só, não tem poder algum. O poder dele vem dos kamis que o cercam, para os quais ele é apenas um "regente" de uma orquestra. Um shugenja com um pingo de humildade não manda os kamis pra lá ou pra cá. Ele apenas ora a eles para que se comportem daquela ou desta maneira (ou façam o que quiserem fazer). Então tudo bem. Os kamis tem sua própria língua, que os shugenjas aprendem na Escola de Shugenja que freqüentarem. Ótimo. E se meu bushi resolver aprender essa língua? Na prática, ninguém sabe com certeza o que aconteceria. Talvez os kamis se sintam revoltados por um "não-shugenja" falar com eles, um dever Celestial que não lhe foi outorgado. Talvez eles obedeçam, por nem ligarem ou não terem como saber se quem está falando com eles é ou não um shugenja. Ou talvez eles simplesmente ignorem o falante. Talvez por ele não ter o dom "inato" de ser um shugenja.

Magia e Religião
Os kamis são um princípio fundamental das ordens Shinseístas (monges de Shinsei. Lembram deles? Seguidores do velho maluco monge que levou os Trovões para morrerem lutarem contra Fu Leng, no Primeiro Dia do Trovão...). E falar com os kamis é algo que deve ser levado a sério. Magia em Rokugan não é algo que não deva ser usado para tarefas triviais (como mandar os kamis do Ar varrerem seu quintal). Ela poderia em tese ser usada sim para fins triviais, mas isto seria uma desonra para o shugenja, pois é um uso leviano de um dom sagrado (o equivalente bushi seria usar a katana ancestral da sua família pra palitar os dentes, ou se depilar). O respeito pelo ofício dos shugenjas é tamanho que, mesmo no calor da batalha, se for possível preservar a vida de um shugenja (tradução: ele está caído, inconsciente, e não berrando palavras esquisitas, com os olhos brilhando e fogo jorrando das mãos), ela deve ser preservada. O dom dos shugenjas é raro para muitos clãs, e privar o Clã rival de tais samurais é uma excessiva violação do princípio da Cortesia do Bushidô.

HEHEHE! Então isso quer dizer que meu shugenja pode sair tranqüilão quebrando os soldados inimigos com magias explosivas em batalha que ele não vai ser tocado por medo da desonra? NÃO! Isso quer dizer que ele será preferencialmente deixado inconsciente e levado sob escolta de seus rivais até suas terras. Bom, se ele vier a morrer por uma infelizmente altíssima rolagem de dano... Bem, o general inimigo fez o possível, mas quiseram as Fortunas que ele morresse. Não se pode lutar contra as forças do Kharma, diria Katsumoto, dO Último Samurai.

2. Kiho
Viu esse chute? O Escorpião também não.
Kiho é um assunto inicialmente complicado. Inicialmente porque traduzir isso corretamente é tarefa das mais difíceis. Kiho poderia ser traduzido como "tarefa", ou "truque" ou ainda como "talento". E poderia se desdobrar em pelo menos mais nove termos.

Eu associaria Kihos a iniciativas não-shugenjas de tentar se relacionar aos kamis. Kihos são normalmente praticados e possuídos apenas por monges, mas basicamente qualquer outro tipo de personagem pode aprendê-los, embora monges saiam com a vantagem imensa de terem maior aptidão e treinamento para isso. Além de serem naturalmente incentivados à sua prática.

Tá, e colé a dos kihos? Bom, Kihos são "truques" feitos por monges combinando tanto o auxílio dos kamis elementais, quanto imenso treinamento físico e mental. Isso os torna mágicos? Meio a meio, eu diria. Um shugenja por si só não aprenderia um Kiho apenas de olhar um monge fazê-lo, porque lhe falta o treinamento físico/mental necessário para compreender o Kiho completamente. Mesmo um monge, só de ver, poderia até entender os procedimentos holísticos associados a ele, mas dificilmente o aprenderia imediatamente com a facilidade de um simples golpe.

Kihos são estruturalmente MUITO mais simples de se usar do que feitiços, porém. Isso tem lá suas vantagens. Monges (ou qualquer personagem que esteja usando o Kiho em questão) não precisam dos manuscritos que os shugenjas lêem para realizar seus feitiços. Seus efeitos são muito mais imediatos e práticos. Contudo, eles tendem a ser menos em efeito também. Isso não quer dizer que são inferiores. Mas, contudo, são uma forma totalmente diferente de se relacionar com entidades mágicas que são os kamis.

Muitos monges criam seus próprios Kihos. De maneira similar, muitos shugenjas também criam seus feitiços. Mas monges por vezes partem da observação de princípios naturais, ou até mesmo animais para se inspirarem. É raríssimo, mas é possível que determinadas pessoas, até mesmo heimins, desenvolvam Kihos inconscientemente, e os tratem como uma espécie de talento natural para determinada atividade ou até mesmo uma manifestação natural. Um monge que tenha a caridade de explicar a origem deste "poder" a esta pessoa também seria muito bem-vindo.

Kihos são tão variados em seus efeitos quanto os próprios Elementos. Há Kihos extremamente combativos, que permitiriam a um monge estourar aço com os punhos, mas também há Kihos para cura, pre-cognação, intuição, movimento, resistência... Enfim... Tudo aquilo em que monges com tempo livre o suficiente conseguirem criar.

3. Maho
Maho, como muitos freqüentadores deste blog já sabem, é algo mau, usado por pessoas más, feias e bobas para fazer maldades. Más pra caceta. Ela usa o sangue como "componente" para então realizar efeitos destrutivos, maléficos e não raramente muito poderosos. Bom, isso tudo está certo, mas é apenas uma pequena parte da história.

O uso de sangue em rituais mágicos, pasmem, descende do próprio Isawa. Isso mesmo, o fundador da família Isawa e da própria tradição shugenja de Rokugan. Caraca, ele era mau assim? Ahn... Não. No início dos tempos, a "maho" (se é que ela era chamada assim) era na verdade um segredo da família Isawa. Isso os tornavam os shugenjas mais poderosos de sua era, superiores em muito aos estudos individuais de Kuni e Agasha, por exemplo, e ainda não vinha a ser algo maculado ou necessariamente maléfico. Basicamente, os sacerdotes da tribo das Crianças da Terra se cortavam e usavam o sacrifício de seu próprio sangue para aumentar a eficácia de seus feitiços. Mas o negócio começou a mudar quando Isawa usou este método para prender a alma do Deus Negro, Fu Leng, nas Doze Escrituras Negras. Aparentemente, tal ato corrompeu a "rede arcana" da magia de sangue, anexando-a inexoravelmente à marca do corruptor da criação: a Mácula das Terras Sombrias.

Chuda Ruri, uma oradora de sangue muito... Tentadora.
Ou seja, qualquer orador de sangue ("bloodspeaker" no original. Ou ainda maho-tsukai ou apenas tsukai) ou é uma pessoa terrivelmente insana para ignorar as conseqüências, ou está totalmente desesperado, ou realmente não dá a mínima para as regras da sociedade rokugani. Notem que essas três condições não são mutuamente excludentes. De qualquer maneira, fazer uso de tais poderes acarreta invariavelmente no contágio do usuário pela Mácula das Terras Sombrias.

O funcionamento da maho, porém, é extremamente parecido com o da magia elemental. O orador oferece sangue fresco (o ferimento que origina o corte deve ser realizado ao mesmo tempo que as preces, por isso a dificuldade de usar "sangue alheio") para convocar kansens (versões corrompidas dos kamis) para que eles, por sua vez, façam a magia. O sangue oferecido deve ser de uma criatura inteligente (ou seja, nada de sair por aí degolando galinhas pretas nas encruzilhadas). Bom, os efeitos muito raramente seriam menos do que danosos. O propósito de um maho-tsukai é a destruição, corrupção se não profanação máximas de seu adversário.

Iuchiban (branco à esquerda) e Lorde Daigotsu (preto à direita).
Se você quer falar de maho épica, esses são os caras com quem
conversar. Só não reclame se você perder um coração ou dois...
Após a anexação da maho pelo culto do Orador de Sangue Iuchiban (que teve sua base nos escritos do estudioso do Caranguejo, Kuni Nakano), a prática profana se destinou basicamente à corrupção, destruição e profanação de seus alvos. Ou seja, em princípio, nada fica entre um orador de sangue e o que (seja lá o que for) for saciar sua sede de poder. Caso persista, este deve ser convertido à visão de busca de poder ou destruído. Após destruído, seu cadáver deverá servir aos propósitos do culto como morto-vivo. Pactos e invocações de onis não são novidade entre os oradores.

Qualquer modo de maho, não interessa com qual tipo de intenção, é um crime seríssimo contra a Lei Imperial. E embora isso seja de pleno conhecimento comum em Rokugan, não faltam cidadãos desesperados, de todas as classes sociais, querendo um jeito "fácil" de ascender na vida e destruir seus inimigos. Convenientemente, os kansens se dispõem a ouvir as preces (mesmo que acidentais) de qualquer pessoa, shugenja ou não. Portanto, cuidado na hora de dizer que "faria qualquer coisa para [coloque seu objetivo aqui]". Pode ser que um kansen resolva lhe fazer uma caridade e aí... Bem, o primeiro serviço deles sempre é muito bem feito. Até demais. Só para que você tenha uma dívida que não pode ser paga no momento. Mas você tem sangue sobrando... Ou de repente aquele seu amigo ali do lado...

___________
Bom, essas três são o que considero as três formas mais básicas do que pode ser entendido como "magia" em Rokugan.

Óbvio que não cito aí as marcas das Sombras que a Família Soshi do Escorpião usou por algum tempo em seus agentes Shosuro, ou as Tatuagens dos Monges do Clã Dragão, nem a extraordinária habilidade de certos shugenjas da Fênix de canalizarem os poderes dos Dragões Celestiais. Ainda assim, faltaria o imenso universo de magia gaijin conhecido pelos shugenjas Iuchi e os sacerdotes dos Dez Lordes da Morte, da família Moto do Clã Unicórnio.

Mas, como creio ser evidente, são formas mais exclusivas de magia, ao passo que essas 3 podem ser encontradas em praticamente qualquer Clã (sim, há oradores de sangue até no Mantis, e monges do Caranguejo costumam ter Kihos bem destrutivos também).

Espero que tenham gostado do post, apesar de meu condicionamento mental estar no momento pior que o físico do Ronaldo. E qualquer coisa, é só comentar!

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