26 de dezembro de 2010

L5R - Gempukku (Parte 9,5): A Corte


Rokugan é um cenário de RPG único. Mas existem dezenas de outros RPGs ambientados no Japão Feudal.

Rokugan tem samurais. Como todo outro RPG de Japão Feudal também têm.

Rokugan tem ninjas. E até mesmo RPGs que não são orientais também têm.

Enfim, dos vários destaques que integram o cenário de Legend of the Five Rings, o que creio ser o fator diferencial de Rokugan, em relação até mesmo a outros RPG's não tão orientais assim, é o seu sistema político. Ao que me consta, L5R é o único RPG existente que fornece uma classe totalmente política e totalmente funcional em relação às outras mais destinadas à ação física. Isso mesmo, por mais que Dragonlance e similares tenham a classe "Nobre", por exemplo, para D&D 3.X, em L5R, a ação do cortesão é tão importante que por vezes até mesmo ofusca os personagens mais belicosos.


Bom, para começar, o termo "cortesão" é bem geral. Ele se destina a qualquer samurai que atue como diplomata, negociador, representante, arauto ou simplesmente um burocrata especialista em trâmites legais ou até mesmo um "consultor de relações sociais". Ou seja, o cortesão está longe de ser um samurai como tipicamente se imagina, travando guerras e duelos pela Honra e outros valores filosóficos. Bom, pelo menos o cortesão não o faz à mesma maneira que os bushis, por exemplo. Vamos falar disso então.

O trabalho do cortesão é praticamente o reflexo de seus primos bushis, só que no campo civil. Se os bushis lutam com aço, posições de unidades e golpes precisos, o cortesão compete com seus iguais dos outros clãs com palavras, acordos, estratégias políticas, alianças e segredos. Sim, o campo de batalha é um território mortal, mas pelo menos se faz alguma idéia de onde possa vir o inimigo. Na corte, seu inimigo real pode ser aquele que se diz seu amigo, e a qualquer momento, todo o panorama estabelecido pode mudar sem o menor aviso, exceto àqueles que têm o real tato político e o raríssimo dom de perceber os mais sutis nuances de seus colegas.

Bayushi Saya (mais acima) e Shosuro Dazai. Duas cortesãs do Escorpião.
O costume das "cortes", obviamente seria remetido historicamente à Kami Doji, fundadora do Clã Garça. Ela usou de sua posição favorável como irmã predileta do Imperador para fornecer-lhe toda uma estrutura política e social que a servisse bem. Era um dos ideais primordiais de Doji e Hantei gerarem costumes que diferenciassem os seres humanos elevados dos animais inferiores. Assim, a demonstração de talentos civilizados era algo apreciável, honorável e que deveria ser constantemente refinado, a fim de fornecer ao Imperador uma cultura cada vez melhor. As primeiras cortes visavam provavelmente conferir prêmios aos "samurais" que oferecessem as mais finas peças de arte e cultura ao Imperador. Talvez daí tenham se originado os primeiros cortesãos.

Doji Nagori e sua esposa Jorihime conversando com cortesãos
do Mantis. Sem exagero algum, milhões de vidas estão em jogo.
Porém, se elas se originaram praticamente por imposição de Doji, as cortes se firmaram na cultura rokugani por dois motivos. O principal deles, climático. O inverno de quase toda Rokugan (salvo talvez nas ilhas do Mantis e em parte do território sul do Caranguejo) é extremamente severo. As tempestades de neve caem igualmente sobre camponeses e nobres, e não permitem que façam muita coisa. Assim, a guerra cessa, as viagens param, e todos se recolhem às suas casas, onde ficarão confinados por meses a fio. A fim de economizar recursos e evitar uma solidão enlouquecedora, muitos nobres passaram a convidar seus amigos a passarem o inverno com eles. Daí originou-se o costume das Cortes de Inverno. O outro motivo, esse muito mais sutil, foi o fato de que as cortes promovem conflitos que dispensam exércitos, deslocamentos de soldados e perdas de vidas, mas geram iguais lucros aos seus vencedores. Disfarcem o quanto quiserem, mas, em Rokugan, a corte é sim um campo de batalha. Sutil, abstrato e com complexidades tão próprias e fugidias que passam despercebidas a muitos, mas sim, um erro aqui pode ser cem vezes mais desastroso que um comando mal passado a uma unidade de soldados.

Uma comitiva da Garça. Não se engane pelas caras de bons moços.
Eles podem fazer um estrago nesse "campo de batalha".
As cortes na verdade se originaram como encontros casuais entre samurais que queriam se mostrar como indivíduos não só destros nas artes marciais, como também nos caminhos da arte, cultura e civilidade. Ou simplesmente rever seus amigos, ou mostrar-lhes algo de novo, qualquer que fosse. Na verdade, relativamente poucas "cortes" são organizadas como propriamente tais em Rokugan. Grande parte dessas cortes são encontros mais casuais em celebrações oficiais, como casamentos, funerais, ordenações, gempukkus e outras cerimônias. Mas pouco importa para os cortesãos. Contanto que haja a possibilidade para interação política, lá estarão eles, prontos a levarem as causas de seus clãs da maneira que lhes convir.

Kyuden Doji. Tidos como os jardins mais
belos do Império, perdendo apenas
para o Palácio Imperial.
Tipicamente, numa corte, a figura principal é o anfitrião da Casa. Todos os convidados devem lhe prestar respeito e gratidão por ele ter recebido a todos sob o seu teto, e assim respeitar os costumes de seu Clã. Qualquer ofensa contra a corte em questão seria considerada uma ofensa contra o anfitrião em pessoa (e vice-e-versa). Algo que ninguém quer cometer, obviamente. Demonstrar um comportamento descompromissado, ou distraído e ausente, por exemplo, poderia ser encarado como uma insinuação de que a corte não é digna da presença do cortesão, que ela é um reles assunto de menor importância. Já se comportar incorretamente, por outro lado, pode demonstrar uma intenção de prejudicar a vida do anfitrião, literalmente "estragando a festa" dele.

Em qualquer conversa da corte, porém, uma abordagem poética e floreada para introduzir propriamente o assunto que se deseja discutir é amplamente favorável.

"Seu reflexo parece atribulado nas águas de seu sublime lago, Doji Haruko-san. Meu peito chega a doer em pensar que tal expressão de beleza venha a ser maculada com uma lágrima de preocupação. Acaso é o seu casamento com Hida Junnichi que tanto a preocupa, Doji-san?"

Inversamente, cabe ao anfitrião prover aos seus convidados instalações dignas e outras "frivolidades" dignas de sua atenção. Músicas, peças de teatro, banquetes, exposições de arte e coisas semelhantes costumam ser as amenidades costumeiras nas cortes do Império. Na prática, tudo isso é apenas uma desculpa ou um pano de fundo para as reais ações que chamam a atenção nas cortes. Como são organizadas tipicamente no outono e no inverno de Rokugan (estações em que os exércitos dos Clãs estão ou se recolhendo do inverno, ou de fato se abrigando dele), as cortes são as principais oportunidades dos clãs que se saíram mal nos campos de batalha correrem atrás das desvantagens e conseguirem se manter. Seja conseguindo aliados ou exigindo satisfações sobre injúrias e dívidas de honra das mais diversas. Praticamente não há corte em Rokugan sem que haja pelo menos dois samurais querendo resolver suas diferenças por duelo.

Desafio
Tal qual manda a etiqueta rokugani, o método primordial de resolução de disputas em que nenhum lado consegue uma aprovação cabal, é o duelo de iaijutsu (a arte de golpear com a katana sacando-a da bainha). Mesmo assim, são raros os duelos de iaijutsu que se resolvem imediatamente. Assim que um duelo é proposto, ambos os samurais envolvidos precisam da autorização de seus daimyos para duelarem. Se qualquer uma das partes recusar, não há duelo (e a parte desistente é considerada derrotada). No caso de um dos envolvidos não ser um bushi, porém, este tem o direito de chamar para si um bushi de seu clã para representá-lo (também escolhido pelo daimyo). Também é direito da parte desafiada estabelecer a hora e o local do duelo. Marcar um duelo para um espaço maior do que algumas semanas é considerado covardia, e muitos românticos gostam de escolher locais poéticos ou mais simbólicos para o enfrentamento.

Foco
"Ao meio dia de amanhã, em frente ao Oratório de Bishamon, a Fortuna da Força, eu, Hida Junnichi o esmagarei com o poder de meu aço, Bayushi Uzui."

Os duelos normalmente são feitos a céu aberto, para que qualquer pessoa possa servir de testemunha. Porém, no caso de algum duelista suspeitar de trapaças do outro lado, este pode solicitar a "arbitragem" de um terceiro envolvido, neutro nesta questão, para examinar as armas e as condições justas para o enfrentamento. A maior parte dos duelos de Rokugan são feitos até o primeiro sangue, ou seja, até que um duelista seja ferido. Prosseguir deste ponto é extremamente desonroso. No caso de um duelo até a morte (oriundo de ofensas mais graves), mesmo que defendido por um "campeão", espera-se que o samurai derrotado siga o mesmo destino, fazendo seppuku.

Saque! No caso, temos um
Golpe Kármico. Ambos duelistas se
matam.
Obviamente, toda essa estrutura favorece em muito a Garça, que possui os espadachins Kakita, famosos como os maiores mestres do iaijutsu de Rokugan. Mesmo que os duelos não cheguem às vias de fato, a simples presença de um Kakita na delegação da Garça já coloca todos os cortesãos numa postura mais defensiva em relação à Garça. Porém, todo o espaço pelo qual o duelo fica suspenso é um território fértil para intrigas, comentários e os mais diversos estratagemas (-cof-evenenamento-cof-).

Por outro lado, também são nas cortes que muitos acordos, enlaces matrimoniais e alianças (inclusive militares) são formadas. Se por um lado as cortes são onde derrotas podem ser compensadas, elas também são consideradas um meio de se obter vitória no campo de batalha antes mesmo de qualquer espada ser sacada.

Daigotsu Susumu (ou só Susumu, nas cortes oficiais). Quem vê cara
não vê coração... Maculado até o miocárdio.
Enfim, as cortes são um poço sem fim para idéias de aventuras. Casamentos (desejados ou não), acordos, traições, conspirações, tramóias, trapaças, mentiras reveladas, desonras descobertas ou mantidas em segredo, alianças, romance, intriga... Duelos (e trapaças nos duelos), venenos, assassinatos no meio da noite, acusações, investigações, roubos, desaparecimentos, caça ao tesouro (ou ao segredo, ou ao assassino).......

Bom, já deu pra ver como o negócio é legal, né? Espero ter dado conta de gerar o máximo de vontade e curiosidade sobre as fascinantes figuras que são os cortesãos de Rokugan e criar aventuras mais políticas e fugir um pouco do "D&D de samurais".

Se realmente ficaram com vontade de saberem mais sobre os cortesãos e o sistema político de Rokugan, comente! Como livros mais indicados, obviamente vale o Masters of the Court (suplemento para os Clãs Aranha, Garça e Escorpião. De longe esses dois últimos ruleiam geral na corte. A Aranha... Nunca fez nada direito).

Eu também cheguei a fazer uma house-rule para abordar melhor o esquema de cortes de grande porte. E dada a incrível semelhança entre as cortes e os campos de batalha, tomei a liberdade e usar como base o incrível sistema de batalha massiva de L5R. Se tornando algo parecido com uma "esquema de cortes de grande porte". E dada a incrível semelhança entre as cortes e os campos de batalha, tomei a liberdade de usar como base o incrível sistema de batalha massiva de L5R. Se tornando algo parecido com uma "Corte Massiva".

Até a próxima seção Gempukku!

UTZ!!!!

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