Foi uma vitória apertada e disputada. Mas, mesmo assim, os filhos de Doji fizeram por merecer o espaço de hoje da seção Gempukku.
O que achei irônico foi que o Leão chegou a ameaçar a vitória da Garça. Justo o Leão, que foi inimigo jurado da Garça durante vários séculos no começo do Império, e que mesmo hoje, possuem uma rivalidade mais amigável e contida.
E finalmente chega a hora de falar do Clã mais
Bom, também não custa lembrar, há uma aventura traduzida de L5R que foi postada hoje cedo. Ela se encontra aqui.
O Clã Garça
Cores: Azul celeste e branco/prata
Famílias: Doji, Daidoji, Asahina e Kakita
Mon do Clã Garça |
Doji, a bela fundadora do Clã Garça |
Em seguida, o primeiro grande evento a ocorrer na capital foi o primeiro Campeonato de Esmeralda, que deveria eleger o primeiro Campeão de Esmeralda, o duelista e defensor pessoal do Imperador (idéia de Doji). Em princípio, a favorita ao título era Matsu, a segunda em comando do Clã Leão, que vencera todas as disputas com sua fúria indomável e estilo de ataque incessante. Mas foi então que Kakita a desafiou. O estilo de esgrima de Kakita era único. Ele permanecia plácido diante do inimigo, sua mão direita repousava sobre o cabo de sua katana embainhada, com a palma virada para cima, quase como se segurasse um presente. Algo que nem remotamente lembrava uma posição de combate. Matsu tomou isto como uma ofensa e partiu fumegante sobre o homenzinho convencido que era Kakita. Kakita facilmente a desarmou num quase invisível saque de sua katana. Matsu fora derrotada, e se viu humilhada diante do Imperador, a quem o Clã Leão deveria ser o servo mais fervoroso, uma ofensa que ela e seus descendentes não perdoariam os Kakita ainda por muitos séculos por vir.
Kakita, primeiro Campeão de Esmeralda, fundador da família Kakita, inventor do estilo Iaijutsu e autor de 'A Espada' |
Talvez pela primeira vez em sua vida, Kakita tivesse se sentido aterrorizado. Ele não podia recusar a oferta, e declinar desses desafios o tornaria uma figura ridícula ao lado de sua esposa divina. Ele tinha que aceitar, mas, e então... Como suceder nesses desafios impossíveis? Kakita se pôs a viajar pelo Império, e nenhum sábio que ele consultara podia lhe oferecer respostas. Quando já estava quase dando-se por vencido, uma sábia da montanha chamada Yasuki (isso mesmo. A fundadora da Família de cortesãos do Caranguejo) lhe oferece para ajudar o bravo "príncipe encantado" se em troca ele conceder aos seus filhos títulos nobres na casa da Garça. Kakita aceitou. (Como alguns leitores atentos podem notar, esta é a raiz da queixa entre Caranguejo e Garça pela Família Yasuki)
No dia de seu casamento, Doji estava no altar como uma figura divinal esperando pelo seu noivo, quando pediu a palavra, e pediu que Kakita então apresentasse as respostas dos três desafios. Kakita então chamou a todos e disse que o primeiro desafio era trazer algo morto à vida. Em suas andanças, ele se deparou com uma árvore morta, já podre e em decomposição. Era algo morto, mas a partir dele, ele esculpiu um lindo shamisen, do qual tirara na frente de todos uma vívida melodia, que trouxe vida ao coração dos convidados. O segundo desafio, porém, era mais difícil. Mas ele disse que em suas viagens percebera que a demora de uma viagem se dá somente por quem você tem por companhia, o que pode fazer uma simples caminhada uma demora eterna ou transformar uma cruzada inteira no instante de um riso. Kakita então respondeu que se tivesse a mãe de Doji, a Lady Sol por companhia, cruzaria todo o mundo numa só tarde. Novamente, os convidados aplaudiram sua resposta. Porém, ainda restava um desafio, e Kakita admitiu. Em todas as suas viagens buscando a resposta para os desafios, ele nada encontrou que fosse de "inédita e inenarrável beleza". Nada podia se comparar àquilo que ele mesmo deixara no início de sua viagem e sempre esteve à sua frente como resposta. Em resposta ao terceiro desafio, Kakita apresentou um espelho a Lady Doji, dizendo que apenas olhando para ela mesma, ela veria algo de inédita e inenarrável beleza.
Kakita Noritoshi, atual sensei dos Kenshinzen |
Como dito anteriormente, a especialidade da Garça sempre foi produzir as maiores obras de arte e cultura de Rokugan, em qualquer campo que se aplicassem. Com Doji sendo insuperável nos campos mais propriamente ditos da arte e cultura, Kakita experimentou aplicar a filosofia da arte pela arte de sua esposa à sua esgrima. O resultado foi épico. O estilo "Iaijutsu", explicado teoricamente no livro A Espada, de Kakita, enfatizava o uso de apenas uma só espada e o emprego de apenas um golpe para encerrar um inimigo por vez. Essas declarações foram posteriormente confrontadas com o quase diametral Nitten, de Mirumoto, o que resultou numa concorrência entre as duas famílias pelo título de melhores espadachins do Império. Hoje, porém, os dois estilos convivem em harmonia, criando um dojô chamado Mil Anos de Aço, onde ensinam os dois estilos simultaneamente, mas permitindo que bushis Kakita e Mirumoto aprendam um ao lado do outro.
Os Kakita também são temidos no duelo de iaijutsu, o mais comum entre bushis. Como ele teve suas principais tradições estabelecidas por Kakita, seu estilo é amplamente favorecido. Porém, como se tamanha especialização não fosse suficiente, a Garça ainda possui à sua disposição os lendários Kenshinzen, duelistas de perícia quase lendária. A própria admissão ao dojô Kenshinzen ("espada do coração vazio", ou alguma coisa parecida) requer que o candidato derrote outro Kenshinzen num duelo formal. Este é um costume que acaba mantendo sempre os melhores duelistas de todo o Império ao menos afiliados à Garça.
Toda esta proeza nos duelos também é imensamente valorizada nas cortes. Estar contra a Garça é se sujeitar à estância final de decisão política em Rokugan: o duelo. E com os Kakita ao seu lado, os cortesãos Doji pouco têm a temer.
Doji Hayaku. Fundador da Família Daidoji como Daidoji Hayaku. |
Agoniada pela perda de dois de seus filhos, Lady Doji então pede para seu terceiro filho, Doji Hayaku, para que vá até as Terras Sombrias e descubra ao menos que fim sua irmã Konishiko teve naquel reino infernal. Hayaku retorna então um ano depois, aparecendo ter envelhecido outros sessenta, mudo, e com uma cicatriz horrenda que lhe atravessa de um lado ao outro do pescoço. Silenciosamente, Hayaku então oferece à sua mãe a katana de Konishiko, a única coisa que restou dela nas Terras Sombrias. Em memória ao sacrifício do "guerreiro silencioso", ele recebeu o direito de formar uma família dentro da Garça, chamada de Daidoji ("protetores de Doji"). Como parte das maldições carregadas por Hayaku, seus cabelos estavam esbranquiçados. Muitos Garças derivam daí a tradição de tingirem seus cabelos de branco.
Hoje, os Daidoji são conhecidos como Guerreiros de Ferro, por terem desenvolvido um estilo de combate resistente e selvagem muito semelhante ao estilo Hida. Acostumados a lutarem em terreno de vegetações mais densas, os Daidoji usam táticas de cansar, separar e assolar o inimigo antes de darem o ataque final. Num clã enfaticamente político, os Daidoji são deslocados por serem militares ao extremo, mas são muito valorizados dentro de seu Clã, afinal, quando diplomatas falham (e até mesmo a diplomacia Doji não tem resposta para tudo), eles é quem recebem a incumbência de salvarem a Garça.
Os Asahina são a adição mais recente ao Clã Garça. A Família foi fundada pelo ex-Mestre do Ar da Fênix, Isawa Asahina, que havia se revoltado pela Garça não ter oferecido reforço a um ataque covarde do Clã Leão ao seu território. Furioso, o shugenja parte destruindo sozinho milhas e milhas do território da Garça, levando centenas de vidas em seu caminho. O shugenja só é detido por Doji Kiriko, então filha do Campeão e comandante de uma legião dos exércitos da Garça. Para surpresa de todos, Kiriko simplesmente se pôs diante do shugenja destruidor e ficou impassiva. Ainda mais furioso, Asahina a atacou com chamas e vários outras forças destrutivas. E ainda assim, ela não se movera. Comovido pela firmeza de compaixão da sua adversária, e pela elouqüente visão das lágrimas da comandante se misturando às feridas que ele mesmo causara, Asahina se arrependeu de seus feitos. Ele abandonou o Clã Fênix e se uniu à Garça onde se dedicou à construção e especialização na criação de nemuranais de uso totalmente pacífico. Hoje, o pacifismo Asahina é lendário, a ponto de serem mortos sem jamais manifestarem ações ofensivas contra seu inimigo. A última vez em que os Asahina interferiram ativamente num conflito da Garça foi apenas por ordem expressa de seu Campeão.
Doji Seo. Uma Doji treinada pelos Kakita. |
Os Doji servem ao Imperador fornecendo-lhe as mais diversas encarnações da máxima beleza e perfeição. Assim, quando são bushis, lutam com beleza e graça impressionantes. Nas cortes, são poços sem fim de virtude, diplomacia e etiqueta. E nas artes, são fanáticos em esmero e esforço em cada ínfimo detalhe de suas obras. O estilo de corte Doji se baseia na manutenção de uma política de boa vizinhança a níveis muito grandes. Assim, eles sempre estão de braços abertos para figurarem como bem-feitores que ajudam os necessitados, e sempre têm a quem recorrer em tempos de necessidade. A chamada "rede de favores da Garça" se estende virtualmente por todo o Império, e não há alguém que deva um favor à Garça (ou um de seus ancestrais). Contudo, ao contrário de seu oposto simétrico, os Bayushi, os Doji nunca abusam de seus favores, e sempre zelam pelo bem estar do Império como um todo. Eles são o outro lado da moeda Escorpião, mas, certamente, são tão temidos quanto os Bayushi por qualquer adversário potencial.
A história da Garça possui vários personagens marcantes, mas não creio que algum deles esteja sequer perto do sempre idolatrado Doji Kurohito, filho de Doji Kuwanan, o homem que quebrou a maldição da espada lendária Chukandomo, se casou com Isawa Akiko (filha ressurreta pelo Portal do Esquecimento do próprio Isawa, Trovão da Fênix), e, por fim, foi "apenas" um dos Campeões mais marcantes que seu Clã já teve. E, como não podia evitar, também é pai da atual Campeã, Doji Domotai (que cumpriu com os esforços de seu pai para a paz com o Leão, sendo treinada tanto pelos Kakita quanto pelos Matsu). Doji Kurohito também é o autor da "humilde" frase: "Já lhe disse em mais de uma oportunidade que não posso errar. Como se o sangue Doji que corre em minhas veias me impedisse de tal coisa. Sou Doji, e não conheço o erro."
Kurohito sempre foi marcado pela grandeza, e se seu fim foi trágico (ele cometeu sepukku ao ter sua esposa exposta em corte como conspiradora Gozoku), seu legado pareceu impossível de ser prosseguido pela sua filha, que sempre foi meramente uma sombra do pai. Contudo, Domotai mostrou uma liderança com pulso firme durante a invasão do Unicórnio à capital, a Guerra da Seda e Aço (contra o Clã Dragão, em que Togashi Satsu veio pessoalmente a ele negociar os termos de paz), e por fim banindo os Assoladores Daidoji, que seu próprio pai permitira. Domotai se escandalizou ao saber que seus soldados defendiam seu clã usando meios tão desonrosos quanto a pólvora, obtida aos montes através de comércio ilegal com terras gaijin. Revoltada, Domotai exigiu que o daimyo dos Daidoji (Kikaze) eliminasse toda a pólvora e fizesse de sua Família algo digno de figurar sequer aos pés de Lady Doji. Assim como seu pai, Domotai também teve que guerrear e negociar a paz com o Clã Caranguejo. Se Kurohito teve que enfrentar O-Ushi, Domotai tinha que lidar com Kuon.
Papel de parede com Kurohito (não achei essa imagem no original) "Sou Doji e não posso errar." |
A Garça é um clã artístico, político e intelectual. Por vezes confundido com frívolo e esnobe. Mas, salvo raras maçãs podres (que todo clã tem), são um clã apaixonado e perfeccionista, e vitalmente apegado às noções de Honra e perfeição.
Eu procuro entender o clã Garça, sério mesmo. Mas esse negócio de etiqueta não me entra na cabeça XD.
ResponderExcluirApesar de tudo, a dedicação deles a Perfeição é com certeza algo que deve ser honrado.